Massa, Villeneuve

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Panda

Eu odeio – o-d-e-i-o – estes trocadilhos com nome de filme mas, no caso de Felipe Massa, não tem jeito. Depois de algum suspense, a Sauber o confirmou como piloto por dois anos.Então é Massa II, O Retorno.

Chances renovadas como a de Massa são fato raro na Fórmula 1 e não deixa de encerrar um mea-culpa da categoria em ter lançado ao fogo alguém tão jovem.

Depois de temperar um ano o espírito no fogo lento dos testes, terá Massa (que completa 23 anos em abril) melhores condições de corresponder às expectativas e se tornar digno de pilotar para uma das grandes equipes a partir de 2005 ou 2006?

Como há dois anos, a resposta continua uma incógnita. Ninguém, nem o mais experiente observador, pode avaliar as condições de competitividade dele, mesmo porque a chave para a resposta esta na cabeça de Massa – só lá.

Creio que ninguém duvida que ele tenha as qualidades técnicas e esportivas necessárias para se impor mas terá maturidade para tanto. Foi esta falta de amadurecimento que parece tê-lo impedido de conquistar melhores resultados na Sauber. Ele evolui neste ano de Ferrari ou, melhor dizendo, evoluiu o bastante para o desafio que se exige dele?

A nós, resta torcer, esperando que a experiência e o ano a mais de vida dêem ao simpático paulista condições para triturar um osso duro como Fisichella e depois se fixar como um piloto capaz de acumular pontos corrida após corrida e, para coroar tudo, conseguir um pódio.

É isso que a Sauber e o mundo esperam de Massa. Boa sorte para ele.

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Durante o ano, houve quem criticasse o desempenho de Massa como piloto de testes.

Segundo fofocas vazadas para a imprensa italiana, Massa, como responsável pelos testes iniciais dos pneus Bridgestone, não foi capaz de transmitir informações que permitissem melhorar o desempenho das borrachas.

Verdade? Acho que não.

Um piloto de testes, hoje em dia, não precisa fazer o que Piquet fazia em seus tempos áureos. A monitoração externa dos carros é total e completa, inclusive dos pneus. Sensores presos a carroçaria enviam sinais de infravermelho (acho eu) em direção à banda de rodagem e os capta de volta, monitorando temperatura, deformação e sabe Deus mais o que.

O que se espera de um piloto de testes hoje é que seja capaz de moer quilometragem da forma mais homogênea possível enquanto um batalhão de engenheiros monitora 150 computadores.

Se é assim, porque as equipes não fazem carros dirigidos por robôs?

Bem: elas já tentaram (há uma foto antológica dos anos 70, de um Matra sport-protótipo sendo dirigido por uma máquina). Acontece que um robô não consegue pilotar convenientemente um carro, tanto mais um carro de corrida.

Graças a Deus!

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Todo o frisson das grandes mudanças de equipe para 2004 parece ter cessado.

Montoya segue na Williams, as hipóteses de Michael Schumacher pendurar a chuteira e Rubinho ser despejado da Ferrari, toc toc toc, estão superadas de forma que resta apenas a hipótese remota de a McLaren acomodar Jacques Villeneuve no lugar de David Coulthard.

Os colegas do grandepremio.com.br publicaram ontem mais um desmentido às negociações entre Villeneuve e a McLaren e, quer saber: acho que a McLaren está certíssima. Ela já tem seu piloto vencedor – Kimi Raikonnen, claro – e deve a David Coulthard o respeito que devemos todos àqueles que estão às vésperas de se aposentar.

Ok. Eu sei que estamos falando de um esporte hipercompetitivo e não de uma repartição pública. Mas pense bem: Coulthard venceu um GP em 2003 e correu bem em várias outras provas. É da casa, não vai amolar a paciência de ninguém, certamente não dará muito prejuízo à McLaren nem cobrará muito pelos seus serviços.

Já Villeneuve vem de uma experiência pra lá de ruim na Bar, iniciada em 99, tendo tomado uma sova de Jenson Button no Campeonato recém encerrado (17 x 6) e praticamente empatado com Olivier Panis no Campeonato de 2002 (4 x 3). A pontuação deste ano não sugere um carro tão ruim como o canadense insinuou ser em várias oportunidades. Creio que faltaram mesmo a ele braço, coragem e determinação, coisas mais do que compreensíveis quando um piloto senta-se numa cadeira elétrica.

Conseguiria ele reavivar o inegável talento, voltando a pilotar um carro de primeira linha?

Pode ser que sim, pode ser que não. Em linhas gerais, os campeões tiveram apenas um grande período em suas carreiras. As exceções são Jack Brabham e Niki Lauda.

Black Jack, como era chamado pelos amigos, foi bicampeão mundial em 59 e 60 correndo pela Cooper. Em 62, decidiu constituir a própria equipe. Gramou com gosto nos anos seguintes até que, num golpe de sorte, beneficiou-se da mudança de regulamento de motor, acertou o carro e voltou a vencer corridas e campeonatos em 66, seguido de um vice em 67.

Bicampeão, Niki Lauda chegou a ficar dois anos longe das pistas – 80 e 81 – depois de dizer que estava “cansado de correr em círculos”. Não resistiu ao convite (e aos dólares) da Malrboro-McLaren e, contra as minhas expectativas, voltou a vencer imediatamente, chegando ao seu 3o título em 84.

(Podemos discutir aqui se Alain Prost e Mario Andretti inserem-se nestas exceções mas vou deixar a discussão para outra hora. E não vou falar também de Emerson, que me parece um caso único na história do automobilismo: dez anos se passaram entre o seu vice-campeonato de F1 em 75 e sua vitória nas 500 Milhas de Michigan.)

Em comum, Brabham e Lauda partilham uma determinação fria, inteligência diferenciada (o que certamente ajuda na busca da motivação) e fatores imperativos: Brabham estava apostando seu futuro na equipe e Lauda estava falido.

Não sei se Villeneuve é tão inteligente quanto Brabham e Lauda masele tem uma grande diferença em relação à dupla: está milionário. Durante estes anos todos de Bar, Villeneuve foi o segundo maior salário da F1.

Pois é: tem horas em alguns milhões de dólares no banco podem ser um grande problema.

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Leio também no grandepremio.com.br que Patrick Head, diretor-técnico da Williams, considera ter sido sua equipe vítima de complô urdido pela FIA para beneficiar a Ferrari.

Recomenda-se ao inglês, motoqueiro, gorducho e casado com a brasileira Betise Assumpção, ex assessora de imprensa de Ayrton Senna, que vá chorar na cama, que é lugar quente.

Não foi a pressão da Ferrari contra os pneus Michelin – que estavam sim fora do regulamento – que levou à derrota de Montoya. Foi, antes, a instabilidade da equipe, que demorou a acertar o carro e depois fez corridas latrinárias como o GP dos Estados Unidos, numa conjunção de esforços do piloto, pessoal dos boxes e dos pneus Michelin.

Se Head quer lamentar alguma coisa, que lamente a largada desastrada de Ralf Schumacher na Alemanha. Se Ralf tivesse vencido aquela corrida, como parecia ter boas chances de fazer, a história do campeonato poderia ter sido outra.

Bom final de semana a todos

Eduardo Correa

Eduardo Correa
Eduardo Correa
Jornalista, autor do livro "Fórmula 1, Pela Glória e Pela Pátria", acompanha a categoria desde 1968

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