Luis Fernando Ramos |
Se Michael Schumacher converter neste domingo, em Indianápolis, o Match Point que tem nas mãos e assegurar seu sexto título mundial, terá sido a sétima vez na história da Fórmula 1 que uma corrida decisiva contou com três protagonistas. Caso a fatura não seja liqüidada e Kimi Raikkonen se mantenha vivo na briga até Suzuka, a situação será a mesma.
De uma forma ou de outra, será o coroamento de uma temporada que, desde o movimentado Grande Prêmio da Austrália (vencido por – oh! – David Coulthard), deu sinais de que seria emocionante. Foi assim também nas outras seis vezes que o título foi decidido entre três pilotos. Vamos relembrar?
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Sebring (EUA) – 1959 – O australiano Jack Brabham (Cooper) chegou à decisão com quatro pontos de vantagem para o inglês Tony Brooks (Ferrari) e o também inglês Stirling Moss (BRM). Logo na primeira volta, em uma trapalhada macarronesca, Brooks é atingido por trás por seu companheiro de equipe Wolfgang von Trips e se dirige aos boxes para checar os danos. Era algo típico do inglês, extremamente supersticioso, que jamais deixaria na mão de Deus qualquer eventualidade que pudesse lhe custar sua vida – ainda que custasse o título mundial.
Moss assumiu a ponta e disparou, mas o câmbio de seu carro quebrou logo na quinta volta. O título para Jack Brabham estava assegurado, mas ainda havia uma dose de drama por vir. O australiano liderou a prova até a última volta, quando o carro ficou sem gasolina a 800 metros do final. O piloto empurrou sua máquina, num ligeiro aclive, até receber a bandeira quadriculada – e desmaiar logo em seguida!
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Cidade do México (México) – 1964 – Aqui, o inglês Graham Hill (BRM) lidera o Mundial com cinco pontos de vantagem para o compatriota John Surtees (Ferrari) e sete para o escocês Jim Clark (Lotus). Foi uma decisão de deixar defunto arrepiado, com um convidado bem trapalhão: o italiano Lorenzo Bandini, companheiro de Surtees na Ferrari. Logo no início, Bandini faz uma manobra brusca e joga Hill para fora da pista, atrasando demais o inglês. Clark toma a ponta e está quase comemorando o título, quando um problema no motor o deixa a pé na penúltima volta. Surtees está em terceiro, atrás de Bandini, e precisa ganhar uma posição.
Numa época onde ainda não havia comunicação por rádio, o que fazer? A cúpula da Ferrari manda um mecânico para o início da reta de chegada. Este gesticula desesperadamente para Bandini estacionar o carro até que Surtees o ultrapassasse. Como italiano entende muito bem a língua dos gestos, a ordem é atendida e “Big John” se torna o primeiro (e até hoje, único) campeão mundial tanto nas motos como nos carros.
Graham Hill cruzou a linha de chegada em 11°, perdeu o título mas não o humor. No natal daquele ano, enviou à Bandini um presente especial: um exemplar autografado do livro “Como aprender a dirigir”.
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Cidade do México (México) – 1968 – Agora na Lotus, Graham Hill consegue superar a perda de quatro anos antes. O inglês chegou à decisão com três pontos de vantagem sobre o escocês Jackie Stewart (Matra) e seis sobre o neo-zelandês Dennis Hulme (McLaren). Este deixa a briga logo na décima volta após um acidente. Hill lidera, mas Stewart o segue como uma sombra na maior parte da corrida. Mas não era o dia do escocês. Um problema mecânico gera uma parada extra nos boxes. Hill vence e se torna bicampeão do mundo.
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Watkins Glen (EUA) – 1974 – Emerson Fittipaldi (McLaren) e o suíço Clay Regazzoni (Ferrari) chegam à decisão empatados. O sul-africano Jody Scheckter (Tyrrell) está sete pontos atrás e tem chances remotas. Mas, precisando vencer, suas chances logo se evaporam numa prova amplamente dominada pela Brabham do argentino Carlos Reutemann.
Emerson fez uma corrida inteligente enquanto que Regazzoni, em um fim de semana repleto de problemas, jamais foi competitivo. O suíço ainda tentou uma ultrapassagem afoita sobre o brasileiro na largada, mas não teve sucesso. Ficou em 11° lugar. Emerson, correndo com calma e chegando em quarto, assegurou o bicampeonato.
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Las Vegas (EUA) – 1981 – Dez anos depois de estrear na Fórmula 1, Carlos Reutemann (Williams) tem a maior chance de sua vida. Ele larga na pole e lidera o mundial com um ponto de vantagem sobre Nelson Piquet (Brabham) e seis sobre o francês Jacques Laffite (Ligier). Este faz uma corrida lutadora, chega a andar em segundo mas uma parada nos boxes o relega ao sexto lugar, minando suas chances.
Reutemann era um piloto conhecido por alternar atuações brilhantes e apagadas. No circuito montado no estacionamento de um cassino, o argentino estava num de seus dias sem inspiração, atrapalhado ainda por um problema no câmbio. Assim que é dada a largada, Reutemann vai caindo para trás, sem lutar, numa pilotagem resignada. Acabou em oitavo lugar.
Se o argentino não ofereceu resistência, Piquet contou com um inimigo muito mais íntimo: um torcicolo, o tipo de problema que piloto nenhum quer sofrer. O brasileiro largou em quarto e chegou a andar em terceiro. Passou Reutemann na volta 16 e depois tirou o pé, poupando o carro e administrando a dor que sentia. Cruzou a linha de chegada em quinto, no limite de suas forças físicas, para ganhar o primeiro de seus três títulos mundiais.
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Adelaide (Austrália) – 1986 – Nigel Mansell (Williams) precisa de apenas um terceiro lugar para se sagrar campeão. Alain Prost (McLaren) está cinco pontos atrás e para Nelson Piquet (Williams) só a vitória interessa. A corrida é movimentada, com o companheiro de Prost, Keke Rosberg, assumindo a ponta e fazendo o papel de coelho. O francês sofre um contratempo, um de seus pneus fura e ele vai aos boxes para a troca, voltando em quarto lugar atrás de Keke, Piquet e Mansell.
Rosberg abandona e o inglês da Williams, embora já tivesse sido ultrapassado por Prost, está confortável em terceiro lugar. Mas, a 19 voltas do fim, seu pneu traseiro esquerdo explode, num espetáculo tão estranho quanto bonito e perigoso. É o fim para o inglês. A Goodyear recomenda a troca de pneus para todos os pilotos que faziam a corrida sem paradas planejadas – caso de Piquet, mas não de Prost, cujo problema no começo o livrava de uma nova parada. O brasileiro reluta em atender à ordem, mas acaba cedendo e vai aos boxes. Perdeu o título ali e – o pior – foi constatado depois que seus pneus teriam agüentado a prova toda. Assim, o título cai no colo de Prost, o segundo dos quatro conquistados pelo francês.
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Seis histórias recheadas de emoção, com um vencedor e dois perderdores. A quem caberá os louros da vitória desta vez?
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Deu a louca no mundo? A fábrica de rumores da Fórmula 1 está a toda na última semana. Primeiro, a notícia de que Michael Schumacher pode se aposentar no fim desta temporada, deixando sua vaga para Felipe Massa. Agora, é Frank Williams que jura surpresas na sua dupla de pilotos para o ano que vem. Os nomes de Jacques Villeneuve, Marc Gené e até mesmo Nelsinho Piquet estão entre os citados.
Para os mais novinhos, não estranhem se a Williams, mesmo que fature os títulos de pilotos e construtores deste ano, resolva mudar tudo. Esta prática é velha. Idos ou saídos, Nelson Piquet, Nigel Mansell, Alain Prost e Damon Hill formam a lista dos campeões mundiais pela Williams que não puderam defender seus títulos na equipe do tio Frank.
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Há algo de podre no reino de Woking. É muito estranho que um mal perdedor como Ron Dennis aposte suas fichas no carro velho (na verdade, num improvável abandono de Schumacher e Montoya em alguma das duas provas restantes) do que arriscar tudo no “golfinho prateado”, que foi alardeado como um modelo revolucionário mas jamais foi além das pistas de testes. Não sei não, mas talvez este novo projeto do Adrian Newey não seja tão eficiente como juraram ser.
Pobre Kimi, que foi o piloto que mais me empolgou neste ano. Pena, mas acho que suas chances de ser campeão se evaporaram numa nuvem de fumaça no GP da Europa, em Nürburgring, quando o motor Mercedes quebrou numa prova até então amplamente dominada pelo finlandês.
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Abraços e uma ótima corrida para todos nós!
Luis Fernando Ramos