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As corridas no circuito citadino de Marina Bay, em Singapura, têm como característica o forte calor que castiga bastante os pilotos e a entrada constante do Safety-Car, bagunçando corridas normalmente enfadonhas num traçado que permite raras ultrapassagens. Avisados pela FIA que o dia da corrida seria muito quente, os pilotos tinham até mesmo a opção de correr com coletes de resfriamento debaixo do macacão se assim quisessem e mesmo com a chuva caindo antes da largada, o forte calor deixou os pilotos extenuados no final da corrida. Nisso a edição 2025 do Grande Prêmio de Singapura entregou, porém, faltou a outra metade.

Pelo segundo ano consecutivo, Bernd Mayländer foi à Singapura apenas a passeio e o esperado Safety-Car não deu às caras em Marina Bay, fazendo da edição 2025 do Grande Prêmio de Singapura numa das corridas mais soníferas dos últimos tempos. George Russell, contudo, não teve do que reclamar. Largando da pole, o inglês da Mercedes dominou a prova singapurense e venceu pela segunda vez nessa temporada, seguido a uma distância segura de Verstappen e Norris, que superou Piastri à fórceps na primeira volta e pode ter jogado às Papayas Rules pela janela em dia de festa para a McLaren, que comemorou o décimo Mundial de Construtores em sua longa jornada na F1.

O final de semana de George Russell não começou de forma muito promissora, com o inglês batendo sua Mercedes no muro e fazendo poucas voltas na sexta-feira, marcada por vários incidentes, privando as equipes de compreender melhor o desgaste de pneus e o ritmo de corrida. Para piorar, é de conhecimento notório que a Mercedes tem um carro mais afável em climas mais amenos e por isso Russell não esperava muito do final de semana em Singapura.

Vindo de duas vitórias seguidas em dois circuitos de baixo arrasto aerodinâmico, Max Verstappen chegava à Singapura disposto a comprovar sua ressurreição no campeonato, mesmo que o neerlandês nunca houvesse vencido em Marina Bay e a Red Bull não ter um bom histórico por lá. Era esperado uma recuperação da McLaren, principalmente frente ao desempenho pífio mostrado em Baku, na última quinzena. Contudo, a edição 2025 da classificação em Singapura surpreendeu a todos, com a Mercedes muito forte e seus dois pilotos sempre no pelotão da frente.

A primeira volta do Q3 de George Russell foi incrível e o inglês praticamente a repetiu na segunda tentativa. A dupla da McLaren não estava tão forte, principalmente Lando, mas foi o inglês que praticamente definiu a contenda a favor de Russell. Na última volta de Max Verstappen do Q3, Norris retornava aos pits lentamente e o ar sujo teria prejudicado o neerlandês, que sequer completou a volta, se conformando com a segunda posição no grid, mas jurando Lando: Eu lembrarei disso, ameaçou Max.

A expectativa era alta com dois pilotos (Russell e Verstappen) que já tiveram problemas
anteriormente dividindo a primeira fila, sem contar que mesmo tendo uma reta oposta
relativamente longa, Marina Bay não é um circuito de vários pontos de ultrapassagem,
tornando o posicionamento de pista em algo crucial. Precisando de uma vitória para se manter sonhando com o pentacampeonato, Max Verstappen arriscou na escolha de pneus e optou pelo composto macio para ter uma melhor tração no apagar das cinco luzes vermelhas, enquanto praticamente todos os pilotos ao seu redor saíram com a borracha média, incluindo o pole Russell. A chuva até apareceu em Singapura minutos antes da largada, mas o calor na cidade-estado é tamanho que a pista estava seca no momento da largada, porém, isso pode ter contribuído para a largada, pois o lado de fora do grid estava com ainda menos aderência do que o normal.

O fato foi que Verstappen nem de longe usou o potencial dos pneus macios na largada, com Russell efetuando uma bela saída e se mantendo confortavelmente na ponta. Porém, o drama da corrida ocorria alguns metros atrás. Conhecido pelos vacilos em largadas, Lando Norris subverteu a ordem nesse domingo com uma baita largada, imediatamente ultrapassando Andrea Kimi Antonelli e mergulhando por dentro em cima de Oscar Piastri.

Na apertada primeira chicane, a dupla da McLaren se apertou sem toques, mas na forte freada da curva 3, Norris foi agressivo, batendo na traseira de Verstappen e tocando rodas com Piastri, que com muito custo não se estatelou no muro. Piastri ainda manteve a quarta posição, mas o australiano não se furtou a reclamar do comportamento do companheiro de equipe via rádio. Papaya Rules? Aparentemente Lando Norris jogou pela janela, o que pode ser bem para o campeonato.

 

Vendo que sua tática inicial de atacar George Russell havia fracassado, restou à Max
Verstappen tentar fazer com que seus pneus macios durassem o máximo possível e isso foi fundamental para o domínio de Russell. O inglês da Mercedes nem precisou forçar ao extremo para abrir uma distância decisiva em cima de Verstappen, chegando aos 10s na medida em que o primeiro pit-stop se aproximava, enquanto Max cuidava dos seus pneus andando num ritmo mais lento.

Russell parou bem depois de Max e mesmo retornado à pista apenas 5s na frente e
Verstappen tendo conseguido abaixar esse déficit para menos de 3s algumas voltas depois, um erro do piloto da Red Bull ajudou ainda mais George a ficar ainda mais tranquilo na frente, se preocupando apenas em não cometer o mesmo erro que o fez bater no final da corrida em Marina Bay em 2023 quando estava em posição de pódio. Russell venceu de forma tranquila, mas após a corrida o inglês sorria ao mesmo tempo em que coçava a cabeça por não saber ao certo como a Mercedes, conhecida por ter sérios problemas em pistas quentes como o de Marina Bay, ter performado tão bem nesse domingo. Vencer é bom, mas a Mercedes claramente não sabe muito bem porque triunfou. Kimi Antonelli largou mal, perdendo duas posições e se afastou decisivamente da luta pelo pódio. Empacado atrás da Ferrari de Leclerc, o jovem italiano demorou dois terços de corrida para ultrapassar o monegasco e garantir pelo menos um quinto lugar, deixando a Mercedes mais destacadamente na segunda posição do Mundial de Construtores.

Se George Russell poderia até mesmo ligar o som do seu Mercedes e curtir uma música enquanto passeava na tórrida corrida em Marina Bay, Verstappen teve mais trabalho. Parando mais cedo, Max teria que administrar seus pneus duros até o fim da corrida e via rádio o neerlandês reclamava do equilíbrio do seu Red Bull. O erro quando se aproximava de Russell deixou os retrovisores de Max com o McLaren de Norris ainda maior, mas o inglês da McLaren apenas perseguiu o rival. Mesmo com uma avaria na asa dianteira pelo toque com o próprio Max Verstappen na primeira volta, em nenhum momento Lando Norris parecia sequer próximo de uma ultrapassagem sobre o piloto da Red Bull.

Afora uma colocada de lado ao final da reta oposta, Norris nada fez para tomar o segundo lugar de Max Verstappen. Essa falta de decisão de Lando só aumenta a sensação de que lhe falta o eye of tiger que tanto caracteriza os campeões de F1, mesmo Norris tirando três pontos de vantagem sobre Piastri, que fez uma corrida opaca, que ainda foi atrapalhada por outro pit-stop ruim da McLaren, algo que vem se tornando bastante comum para o time de Andrea Stella e seus papaia caps.
Por mais que Piastri tenha se aproximado bastante na disputa pelo segundo lugar no
crepúsculo da prova, já faz um bom tempo que Oscar não tem uma boa corrida para chamar de sua e Norris já começa a ficar grande em seu retrovisor no Mundial de Pilotos. Para a McLaren, essa parada já foi decidida. Com seis corridas de antecedência, o time comandado por Zak Brown conquistou o Mundial de Construtores, mostrando a enorme vantagem que a McLaren tem sobre as rivais em boa parte do campeonato, além da pouca diferença entre seus dois pilotos. Na Red Bull, enquanto Max Verstappen subiu ao pódio em segundo lugar, Yuki Tsunoda terminou dez posições e uma volta atrás do companheiro de equipe. Uma diferença grande demais, que faz toda a diferença no Mundial de Construtores.

A Ferrari teve mais um dia para esquecer, onde mal apareceu na transmissão em outra corrida discreta dos seus pilotos. Leclerc ainda largou bem e ficou bastante tempo na frente de Antonelli, mas com todo o pelotão optando pela estratégia de uma parada, Charles ficou sem pneus nas últimas voltas e foi ultrapassado por Antonelli e por Hamilton, que vendo o oitavo colocado muito longe, escolheu colocar pneus macios numa segunda parada e ser o mais rápido da pista nas voltas finais. Lewis engoliu a diferença que tinha para Kimi e Charles, mas quando tentava ultrapassar Antonelli, sua Ferrari o deixou na mão, sem freios. Hamilton fez de tudo para se receber a bandeirada, inclusive cortar curvas e isso não passou barato pelos comissários da FIA e, principalmente, por Fernando Alonso, que ficou possesso com a atitude de Hamilton na sua frente. Lewis acabou punido em 5s e perdeu a sétima posição para Alonso.
Por sinal, Alonso foi escolhido o Piloto do dia provavelmente não pelo o que fez na pista, mas pelo o que disse no rádio. Após ameaçar desligar o rádio e se autointitular como herói do dia após ultrapassar Albon, Alonso foi o melhor do resto com direito a mais um pontinho no grito e superando um pit-stop horroroso da Aston Martin.

Oliver Bearman foi outro destaque ao colocar sua Haas no Q3 e se manter entre os pontuáveis, mesmo que alguns pilotos estivessem esticando seus stints esperando o Safety-Car que não veio. O nono lugar fez valer a boa corrida de Bearman, enquanto Sainz manteve a boa fase fechando a zona de pontos. A Williams foi desclassificada no sábado por irregularidades no tamanho da abertura do DRS e seus dois pilotos largaram no final do grid. Sainz foi um dos que esticaram o primeiro stint ao máximo, foi o último a parar e ao colocar pneus macios, ultrapassou quem apareceu na sua frente, garantindo o décimo lugar nas voltas finais, ao ultrapassar Isack Hadjar, que sofria com problemas de motor desde o primeiro terço de prova.

Alpine e Sauber brigaram entre si para ver quem tinha o pior carro em Singapura e os pilotos do time francês ficaram uma posição à frente dos pilotos da equipe helvética. Bortoleto teve um toque na primeira curva e danificou a asa dianteira, fazendo com que o brasileiro tivesse que antecipar sua parada e ainda trocar a peça quebrada. Tendo que ficar muito tempo com os mesmos pneus, Gabriel foi alvo fácil dos pilotos que pararam mais tarde, terminando a noite em Singapura em 17º, colado o tempo inteiro em… Calapinto. O argentino começa a mostrar uma sobrevida dentro da Alpine, superando algumas vezes Gasly, que segurou Hulkenberg na briga pela penúltima posição, após o alemão rodar e ter que fazer uma parada extra, num dia em que a normalmente acidentada corrida em Marina Bay não viu nenhum abandono.

Na Indonésia, Marc Márquez não comemorou seu heptacampeonato da MotoGP da melhor forma possível, ao ser atingido por Marco Bezzecchi na primeira volta, resultando numa clavícula quebrada no espanhol da Ducati. Para o Brasil, destaque para mais uma vitória de Diogo Moreira na Moto2 que somada à desclassificação do líder do campeonato Manuel González, Diogo tem apenas nove pontos de desvantagem no campeonato e irá para as corridas finais em viés de alta.


Max Verstappen andou na frente da McLaren num circuito que não favorece o seu carro e onde o neerlandês nunca venceu. Mesmo com a vitória de George Russell, Max sai de
Singapura um pouco mais fortalecido na luta pelo pentacampeonato. Ainda é uma luta
inglória, mas Max vê bons sinais em seu horizonte.

A McLaren pôde ter conquistado o Mundial de Construtores com ampla antecedência, mas no final do ano todos lembram mais do piloto campeão mundial e os dois representantes da McLaren ainda parecem imaturos numa batalha direta pelo título e isso pode piorar com a aproximação de Max Verstappen. Mesmo com as notórias dificuldades de se ultrapassar em Marina Bay, Norris mais uma vez se mostrou inofensivo numa luta direta contra Verstappen, enquanto Piastri vem numa fase menos boa, onde não faz uma corrida de destaque já faz algum tempo. Sem contar que hoje os dois pilotos da McLaren se tocaram, podendo afetar a delicada harmonia dentro da equipe. Max Verstappen já fareja sangue papaia na água.

Abraços!

João Carlos Viana

JC Viana
JC Viana
Engenheiro Mecânico, vê corridas desde que se entende por gente. Escreve sobre F1 no tempo livre e torce pelo Ceará Sporting Club em tempo integral.

4 Comments

  1. Fernando Marques disse:

    Fica aqui uma sugestão:
    O GEPETO poderia dar um destaque nesse início de fim de temporada pro D. Moreira

    Fernando Marques
    Niterói RJ

    • Fernando Marques disse:

      Um detalhe importante. O piloto espanhol M. Gonzáles, líder do campeonato na moto gp 2 e que chegou em 2° lugar no GP da Indonésia, foi desclassificado por irregularidades na sua moto.
      Com isso o brasileiro D. Moreira ficou apenas a 9 pts do González. Restando 4 etapas … teremos um final de campeonato bem interessante.

      Fernando Marques

  2. Fernando Marques disse:

    J. C. Viana,

    O GP de Singapura era melhor não ter acontecido. Com certeza e vc está certo foi a corrida mais sem graça da temporada.

    No mais assino embaixo o comentário do Leandro, sobre o desempenho do D. Moreira na moto gp 2.
    Corridas as duas da manhã não dá mais pra eu ver.
    ESPN reprisou a corrida por volta do meio dia . E aí sim vi o brasileiro dar uma aula de como administrar uma corrida. E nas últimas duas / três voltas provar que tinha gordura pra queimar na corrida, levantou poeira e abriu mais 4 seg. de vantagem , o que é uma eternidade numa categoria onde vemos muito equilíbrio entre as motos.
    Pode até não ser campeão, mas a briga pelo título está em aberto. Se for campeão será mais que merecido

    Fernando Marques
    Niterói RJ

  3. Leandro disse:

    Para piloto do dia eu teria votado no Sainz 🙂

    Singapura é daqueles circuitos que não farão falta à F1 se algum dia sair… mas ainda encaixaram uma sprint nele para ano que vem… money talks

    Com esta melhora na Red Bull de Verstappen e a Mercedes parecendo melhorar… se eles ficarem entre Max e Piastri, ele abocanha uma grande virada no campeonato, é mais aguerrido que os papaias.

    Desde o fim do Star+ não tenho acompanhado as corridas da MotoGP, mas sigo acompanhando os resultados.

    Diogo vem em uma crescente tal qual fez na Moto3. Se ele ficasse em 3º penso que já estaria de bom tamanho… segundo já seria algo fabuloso… mas brigar pelo compeonato eu não estava esperando, se ele conquistar o troféu vai chegar com tudo na categoria principal. É muito maduro e terá trabalho pela frente.

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