O FUTURO A DEUS PERTENCE

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Qual será a cara da Fórmula 1 em 2005? Pelo que deu para sentir em Interlagos, ninguém sabe. Certo mesmo é que os carros ficarão mais lentos. Além de um novo pacote que vai mudar a aparência e diminuir em 20% a pressão aerodinâmica dos bólidos, a regra que limita o uso de dois jogos de pneus por fim de semana será a principal responsável por isso. Pelo menos, ficaremos livres das chatíssimas táticas deste ano, quando a maioria dos carros de ponta optava por três paradas e a prova se resumia a quatro tiros rápidos, como se fossem quatro corridas de Fórmula 3 de uma vez. Vai ser curioso ver como a moçada atual vai lidar com a tarefa de poupar borracha.

Mas há algo de podre no reino da velocidade. Primeiro, na sexta-feira, nove equipes e o dono da Fórmula 1 assinaram um documento propondo mais mudanças no regulamento para 2005. O primeiro ponto sugere limitar o número de dias para testes na temporada em dez, aumentando a carga de treinos livres nos fins de semanas de corrida para quatro horas. Pessoalmente, a idéia me agrada. Primeiro porque, por serem poucos, estes dez dias realmente mostrarão com mais exatidão a distribuição de forças das equipes. Com testes ilimitados, fica difícil saber se piloto A ou equipe B andaram o tempo inteiro com tanque cheio. Agora, não haverá mais tempo para esconder o jogo. Segundo, porque os fãs que gastam os tubos para ver um Grande Prêmio ao vivo serão recompensados com muitas horas de carros na pista. Hoje em dia, a sexta-feira é um dia quase morto.

O item mais polêmico do texto propõe apenas um fornecedor de pneus. É um tapa sem luvas de pelica no rosto da Ferrari. Além de possuir uma pista própria para testes, a equipe estuda o comportamento de diferentes compostos dos pneus Bridgestone sem desembolsar um tostão por isso. A fábrica japonesa banca tudo, uma parceria cujos resultados têm valido a pena. Acredito que a borracha certa foi responsável por mais de 70% da supremacia que a equipe italiana apresentou nesta temporada. É um excelente trabalho, mas há sempre a possibilidade do reverso da moeda, como Rubens Barrichello amargamente descobriu no último domingo em Interlagos.

Difícil prever o que vai acontecer nesta queda-de-braço. Me parece ilógico uma regra que pune a Ferrari por ter uma estrutura muito superior a das outras equipes. Mas o time hexacampeão perdeu dois aliados importantes nesta história: Bernie Ecclestone e Peter Sauber. Este último, inclusive, soltou depois um release oficial se desculpando por tomar uma posição contrária a de sua fornecedora de motores. Mas reafirmando sua convicção pela necessidade de mudanças. Pragmático como todo bom suíço, é possível que Peter esteja cansado de aceitar algumas imposições vindas de Maranello e que ainda não corresponderam às expectativas criadas.

Para complicar ainda mais o quadro, a direção da GPWC, organização comandada por Fiat, Mercedes-Benz, BMW e Honda, anunciou ter contratado uma empresa para organizar a criação de uma nova categoria a partir de 2008. Insatisfeitos com a divisão do bolo, os dirigentes das montadoras sabem muito bem quanto dinheiro entrará em caixa se Ecclestone perder sua parte. Pode aí haver um racha como o acontecido na década passado entre a CART e a IRL, com prejuízo para ambos os lados.

A verdade é que o futuro da categoria nunca esteve tão incerto. Neste mês de novembro, cujos testes só acontecerão na última semana, muitas decisões serão tomadas a portas fechadas, no anonimato dos escritórios europeus. Resta torcer para que elas privilegiem a paixão e o interesse do torcedor pela Fórmula 1. Mas, ao constatar em Interlagos o quanto aquele povo tem o rei na barriga, não apostaria muito nisso. Se eu fosse você, me prepararia para o pior.

Abraço e até a próxima semana,

Luis Fernando Ramos
GPTotal
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A nossa versão automobílistica do famoso "Carta ao Leitor"

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