Nenhuma novidade no Grande Prêmio da Hungria, disputado há dez dias no odioso traçado de Hungaroring. Michael Schumacher ganhou mais uma corrida e a Ferrari, mais um título. Já é o sexto seguido da escuderia, dando continuidade a um domínio jamais visto ou sonhado pela Fórmula 1. E que, pelo andar da carruagem, também está longe de terminar.
Mas houve sim um elemento novo naquela corrida. No ano passado, todos se lembram, foi na Hungria que a Ferrari sofreu sua maior humilhação neste milênio, com Michael Schumacher ridiculamente lento (terminou a corrida em oitavo) e Rubens Barrichello sofrendo uma absurda quebra da suspensão traseira esquerda. Um ano depois, pole, vitória com dobradinha e melhor volta para o time vermelho. Não deu para ninguém.
Seu corpo diretivo, após constatar a barbada que seria a competição nesta temporada, passou a tratar a prova húngara como ponto de honra. Corroborando a filosofia todtiana de que a perfeição leva à vitória, trataram logo de trabalhar sobre o ponto fraco da Ferrari de 2003: os pneus. A Bridgestone, que apesar de fornecer compostos para outras três equipes, trabalha e só tem olhos para a Ferrari, criou um composto novo para a pista de Budapeste. Acertaram na mosca ao criarem uma fórmula mágica.
Em meio aos diversos materiais que, misturados, formam a borracha dos pneus, há um que atua em busca de tração. A tendência é a utilização do kevlar, que fornece aderência aos pneus ao mesmo tempo que economiza peso. Mas os engenheiros japoneses olharam em outra direção: optaram por usar fibras de aço. Ainda que seus pneus sejam mais pesados que os da Michelin, o ganho dos carros em tração compensaria isto.
É uma vantagem, especialmente em um circuito travado e repleto de curvas, no qual a velocidade final conta muito pouco. O efeito da novidade da Bridgestone pôde também ser observada na Sauber: Giancarlo Fisichella se misturou a Williams, Renault e McLaren e Massa, apesar de perder suas chances após uma quebra de motor nos treinos, passou o fim-de-semana elogiando o comportamento do carro.
Na apresentação da temporada que fiz para a Revista Racing, afirmei que o campeão de 2004 seria decidido pelos pneus. Apesar de, na época, ter em mente um cenário de equilíbrio absoluto (escrevi o texto durante a pré-temporada), posso dizer hoje que acertei na mosca. A emoção de 2003 existiu pelo fato da Ferrari ter o melhor piloto e o melhor carro, mas o pior pneu. Hoje, o time italiano é superior em todos os quesitos, o que a permite obter o quase surreal domínio deste ano, correndo sem adversários.
O ouro negro, hoje, é japonês. E o pior é que as declarações desanimadas dosdiretores da Michelin não sugerem uma mudança de quadro tão cedo. É por isso que digo que a Ferrari vai continuar dominado por um tempo. Para mexer no equilíbrio de forças a FIA vai implementar no ano que vem a regra de que um jogo de pneus deve durar uma corrida inteira. Em vão. A resistência dos materiais já é muito grande. Basta lembrar do ano passado, quando diversos pilotos com compostos moles da Michelin optavam por não trocar pneus durante os pit-stops. Vai ser mais um tiro pro ar do Max Mosley.
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Uma das decisões mais felizes da CBA no ano passado foi criar uma revista própria e deixá-la sob o comando do jornalista Américo Teixeira Jr. A Motorsport Brasil se destaca por sempre incluir entrevistas e matérias com figuras históricas do nosso automobilismo. Na última edição, os escolhidos foram Raul Boesel e Wilson Fittipaldi, o Barão, em matérias ilustradas pelo sempre ótimo Miguel Costa Júnior. Parabéns para a dupla!
Um abraço e até a próxima semana!
Luis Fernando Ramos |