Panda
Não sei de você mas eu, se fosse um piloto, queria ser como o Piquet.
Gostaria de ser ele pelos títulos, vitórias em GPs, poles, quilômetros na liderança e outras marcas que me colocariam quase sempre entre os dez melhores de todos os tempos – nunca como o melhor – e isso me bastaria porque esta história de ser o melhor não costuma acabar bem e te impõe mais castigos e peso sobre as costas do que recompensas.
Queria ser Piquet para poder ter vencido tanto e de forma tãoespetacular sem nunca ter nas mãos um Fórmula 1 majoritariamente superior ao da concorrência e, quando isso aconteceu, como em 87, ter tido pela frente um osso duríssimo de roer, um inglês meio idiota mas rápido e valente como o capeta.
Gostaria de ser o Piquet também pelos virtualmente incontáveis km de testes em todas as pistas do mundo para desenvolver os maravilhosos Brabham de Gordon Murray, os motores BMW, os pneus Pirelli, os motores Honda e os Williams de Patrick Head, aquelas cadeiras elétricas da Lotus e o Benetton de John Barnard.
E, claro, por ter feito uma das mais belas ultrapassagens de todos os tempos – e logo em cima de quem…
Queria ter sido o Piquet pela vida cigana, pelas belas mulheres, pela filharada linda que ele semeou mundo afora, pelo iate Gostosa, pelas farras conhecidas e por aquelas que nem ele, boquirroto de nascença, ousou confessar.
Queria ser o Piquet para ter a coragem que ele teve de acelerar aqueles foguetes turbocomprimidos, 1100, 1200 cavalos presos às costas por tirantes pouco mais resistentes que velcro, a coragem que ele teve encarando a volta a Indianápolis com os pés uns cinco ou seis quilos mais pesados de tantos pinos e parafusos colocados depois da magnífica porrada no ano anterior.
Mas queria ser o Piquet principalmente porque ele curtiu e construiu tudo isso que citei até agora e muito mais sem perder a humanidade, sem se tornar um ser de outro planeta, sem quebrar as ligações dele com o mundo real.
Tricampeão do mundo, ele continuou mais ou menos o mesmo dostempos de Brasília, dos tempos em que “emprestava” peças dos carros de clientes desavisado da sua oficina mecânica para barbarizar nos rachas de final de semana ou dos tempos em que comprava e dava um guaribada em carros usados para completar o orçamento do mês, mesmo já correndo da Fórmula 1. Não sei da vida financeira de Piquet hoje em dia e desconfio que ele ganhou muito menos dinheiro do que deveria ter ganho mas tenho a certeza que ele ainda é capaz de dormir no chão, ao lado do carro, como fazia nos tempos da Fórmula Super Vê, simplesmente porque não tinha dinheiro para o hotel.
Ok. Se eu fosse o Piquet, teria dito muitas besteiras ao longo da minha carreira – besteiras gratuitas e sem a mínima graça, como aquela de chamar Enzo Ferrari de gagá ou insinuar que o Senna era gay. Teria tomado algumas invertidas brabas de chefes de equipe e jogado para o ar muitas oportunidades de vitórias pela simples impaciência de negociar melhores contratos.
Teria tido um final de carreira um pouco melancólico na Fórmula 1 e teria tido, pelo caráter irridento e provocativo, menos reconhecimento do que merecia de fato. Mas o que são estes pedregulhos, estes fiapos de papel, estes grãos de areia numa carreira de três campeonatos mundiais, 24 vitórias e tantas outras conquistas?
E o principal, seu eu fosse o Piquet, teria chegado aos 50 anos sabendo que fui capaz de ter feito sonhar toda uma geração de torcedores e dado a eles o prazer raro de comemorar três títulos mundiais por uma combinação de coragem, talento e malícia, bem ao jeito brasileiro, como nem Emerson e Senna foram capazes.
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Mas eu não sou o Piquet e vamos voltar ao batente.
Hungria, Schumacher e Rubinho na frente, Sato em 6o (hahaha) Anthony Davidson mais rápido do que Mark Webber, um monte de gente com a bunda na janela, entre eles Massa e Bernoldi, de quem tiraram até a janela…
As notícias, todas elas, estão no www.grandepremio.com.br. Os comentários do Panda sobre a corrida aparecem na tarde de domingo e só digo uma coisa: está na hora de Rubinho começar a ganhar…
Abraços e boa corrida
Eduardo Correa