Primeiro Championship point

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Fetiches
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Quando a Mercedes completou sua quinta dobradinha consecutiva de 2019 em Barcelona, o título desse ano não virou questão de ‘se’, mas de ‘quando’. E também todos sabiam quem seria o piloto a levantar o caneco no final do ano. Até a senhorinha que serve café em Brackley sabia que Lewis Hamilton levaria vantagem sobre Valtteri Bottas, mesmo o nórdico tendo conseguido duas vitórias no início do campeonato. Bottas treinou de rali, caminhou pela floresta e até tomou mingau antes das corridas, mas Hamilton já pode ser considerado uma lenda viva da F1 e o inglês rapidamente sobrepujou o companheiro de equipe, passando a dominar o campeonato, mesmo com o crescimento de Red Bull e Ferrari a partir da metade do ano. A Mercedes, com o sexto título de Construtores recém-conquistado, mostrou sua força ao garantir Hamilton continuar vencendo mesmo quando os alemães não tinham o melhor carro.

Na terra de Julio César Chávez, com quem ‘lutou’ essa semana, Lewis Hamilton terá a primeira chance de garantir o hexacampeonato nesse final de semana no circuito Hermanos Rodríguez, que recentemente renovou contrato com a F1, trazendo a alegria de sua torcida, mesmo que muitos fãs ainda lamentem o atentado terrorista contra a mítica Peraltada.

As contas de Hamilton não são nada impossíveis de acontecer.Basta abrir 14 pontos sobre Bottas e Lewis comemorará o título.Se o inglês vencer nesse domingo, basta que Bottas, o único que ainda pode alcança-lo, chegue em quarto para que Hamilton garanta a festa regada a muita tequila e tacos no domingo à noite. Lembrando o crescimento de Red Bull e Ferrari, esse resultado não soaria nada anormal. Se conseguir o título no México, Hamilton igualaria ao seu ídolo Ayrton Senna, conseguindo três títulos no mesmo palco, sendo que Senna escolheu Suzuka para celebrar seus três títulos, enquanto Hamilton comemorará com uma bela fiesta pela terceira vez no México. Porém, Hamilton teria outros três títulos em três outros lugares (Brasil, Abu Dhabi e Estados Unidos) para contar.

A Cidade do México, localizada a 2.500m de altitude e sede do circuito Hermanos Rodríguez, faz do acerto dos carros uma verdadeira incógnita para os engenheiros por causa do ar rarefeito da capital mexicana. A baixa densidade do ar significa que a turbina da unidade de potência tem de ser mais exigida, além de afetar os sistemas de refrigeração, pois há menos ar para resfriar os compostos, e, finalmente, como os carros tem menos ar para penetrar, as velocidades máximas são bem altas, mesmo com os carros com uma boa dose de downforce.

Nos últimos dois anos a Red Bull usou sua refinada aerodinâmica para conseguir duas vitórias enfáticas com Max Verstappen, mas em 2019 o carro taurino se mostrou complicado de se acertar e em pistas onde era esperada uma boa exibição da Red Bull, houve dificuldades,especialmente em Cingapura. Depois das duas belas vitórias na Áustria e na Alemanha, Verstappen entrou numa espiral negativa a ponto de ter conquistado menos pontos do que seu novo companheiro de equipe Alexander Albon, que vem se mostrando uma escolha desesperada, mas acertada de Helmut Marko. O tailandês vai cavando sua vaga na Red Bull em 2020.

Dona do melhor rendimento desde o final das férias, com cinco poles seguidas e três vitórias, a Ferrari tenta controlar seus dois pilotos, que dão mostras que já não se bicam e a disputa entre Vettel e Leclerc não será atração apenas nesse final de campeonato, mas também para 2020. Graças a potência do seu motor e a longa reta dos boxes, a Ferrari entra com certo favoritismo para esse final de semana num lugar onde as velocidades atingidas são similares a Monza. Resta saber como Mattia Binotto irá administrar o ego cada vez mais inflado dos seus pilotos.

Levando-se em conta o bom resultado logrado na Itália, a Renault poderia entrar otimista no México, mas sua desclassificação recém-anunciada do Grande Prêmio do Japão foi um duro golpe num time que esperava brigar com a Red Bull como a terceira força do campeonato, mas mal consegue lutar com sua cliente McLaren pelo posto de melhor do resto da F1. Correndo em casa, Sérgio Pérez vive uma expectativa aquém do esperado numa equipe que está bem mais financiada do que nos outros anos, mas a Racing Point não vem repetindo os bons resultados da finada Force India.A Williams colocará Nicholas Lafiti no lugar do demissionário Robert Kubica no primeiro treino livre do México, o mesmo acontecendo nas próximas etapas. Kubica está cada vez mais irritado com a falta de competitividade da Williams e por sua retirada forçada na Rússia, que pegou muito mal inclusive com seus patrocinadores. Com a saída da estranha Rich Energy, a Haas já pensa em Kubica como seu piloto de simulador e nos Zlotys da petrolífera polonesa PKN Orlen.

Peço uma pequena licença para falar de algo que acontece no Nordeste e poucas pessoas sabem. Não, não irei falar do inexplicável desastre ecológico que está manchando de óleo as belas praias de toda a região. Também não irei narrar o trágico desabamento ocorrido do edifício Andrea semana passada em minha cidade, que ceifou nove vidas. Quando volto da casa da minha namorada, sempre passava inadvertidamente em frente ao prédio sinistrado e ontem pela primeira vez passei pelo triste vazio que se formou no local. Irei falar sobre um caso triste para o automobilismo brasileiro.

Vocês sabiam que mais um autódromo está prestes a morrer no Brasil?

O Autódromo Internacional Virgílio Távora foi inaugurado em 1969 na cidade do Eusébio e em 1970 recebeu a Temporada Internacional de F-Ford BUA, tendo como destaque Emerson Fittipaldi, o vencedor da corrida e do campeonato. Dez anos após a sua inauguração, a pista no Eusébio recebeu uma etapa da novata Stock Car. Longe das grandes competições nacionais por causa da distância para os centros automobilísticos brasileiros, o autódromo do Eusébio sobrevivia de corridas locais, mas em 1997 sofreu uma grande reforma e para marcar a reinauguração da pista, Nelson Piquet aportou com um belo BMW para vencer as 6 Horas do Ceará. Eu estava presente nesse dia. Anos depois a pista localizada na região metropolitana de Fortaleza recebeu corridas de F3 e da F-Truck.

No momento em que completa cinquenta anos, o Autódromo Internacional Virgílio Távora está com o seu futuro seriamente ameaçado, o que inviabilizaria a continuidade do automobilismo cearense, além de deixar um enorme vazio para o esporte a motor no Nordeste. O único circuito de corrida do Ceará foi colocado à venda pelo Governo do Estado após um projeto de lei que permite a venda para a iniciativa privada de imóveis estatais que estivessem ‘subutilizados’ e que gerassem ‘altos custos’. A prefeitura do Eusébio tentou entrar no negócio e assumir a pista na sua cidade, mas se assustou com o preço pedido pelo governo do estado e desistiu da compra.

Porém, basta dar uma olhada em certos aspectos para prever o pior. É no mínimo estranho o governo local dizer que o circuito é ‘subutilizado’ quando, em média, quarenta (!) finais de semana são preenchidos com eventos no circuito ao longo do ano, sem contar que centenas de empregos são gerados diretamente por causa das corridas. Outro detalhe são que os ‘altos custos’ não passam de 15.000 reais mensais e são pagos inteiramente pela Federação local, com as receitas oriundas dos eventos na pista. Para quem não sabe, a cidade do Eusébio é uma das que mais crescem no Ceará e a região do autódromo é bastante valorizada. Para quem lembrou de Jacarepaguá e Curitiba, pode levantar a mão, pois eu já estou com a minha levantada.

Quando se pergunta o porquê de não termos pilotos brasileiros na F1, a resposta é bem simples: como podemos revelar pilotos sem pistas?

Retornando ao lar do Chaves e do Chapolin Colorado, Hamilton pode muito bem usar a força de Ferrari e Red Bull para conseguir colocar carros entre ele e Bottas, garantindo assim o título nesse final de semana, com três provas de antecedência. Um fator que pode ser bastante decisivo é que a previsão de tempo inclui chuvas nos três dias de evento mexicano, o que pode mexer bastante com o equilíbrio da F1, além de podermos ver outra corrida caótica, como em Hockenheim.

Apesar de tradicional e ter mantido boa parte do seu traçado original, a saída da Peraltada tirou boa parte do charme do circuito Hermanos Rodríguez, mas Lewis Hamilton não lamentará em nada conquistar seu sexto título ali.

Abraços!

João Carlos Viana

 

JC Viana
JC Viana
Engenheiro Mecânico, vê corridas desde que se entende por gente. Escreve sobre F1 no tempo livre e torce pelo Ceará Sporting Club em tempo integral.

1 Comments

  1. Fernando Marques disse:

    JC

    lamentável o que pode acontecer com o Autódromo Internacional Virgílio Távora. Torço que que o resultado final seja o inverso.


    Quanto a Formula 1, voce disse tudo. Hamilton é hexa campeão.
    Mas ainda bem que a Ferrari vive bons momentos e que Vettel/Leclerck surpreendam com bos corridas e vitórias, até por que a Formula 1 ficou bem melhor depois que a Ferrari reagiu.

    Fernando Marques
    Niterói RJ

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