Edu,
Michael Schumacher riu por último neste campeonato de 2003. Deve estar rindo até agora, a julgar pela quantidade de bebida que consumiu no domingo à noite. Ele, o irmão Ralf, o colega Olivier Panis e outras pessoas menos conhecidas beberam tanto que agiram como astros de rock ensandecidos. Todos começaram a jogar uns nos outros cerveja, ovos e outras substâncias. Não satisfeitos, devastaram a sala de reuniões que era ocupada pela Toyota no autódromo de Suzuka.
Mas Schumacher tem boas razões para rir. A primeira delas foi se sobrepôr a um regulamento casuístico, elaborado claramente na contramão do que se espera de um esporte. Mudar a pontuação, por exemplo, serviu para adiar a definição do título por uma corrida. Felizmente não foi suficiente para fazer o título mudar de mãos – embora quase tivesse chegado a isso.
Schumacher deve estar rindo dos que esfregaram as mãos no começo do ano, torcendo para que as novas regras não apenas diminuíssem a vantagem da Ferrari como inevitavelmente levassem o alemão a ser derrotado.
Schumacher deve estar rindo daqueles que viviam apregoando que só conquistava títulos tendo carros muito superiores aos da concorrência. Todos viram que, durante a maior parte do ano, a Ferrari teve um carro, no máximo, com o mesmo nível de competitividade da McLaren e da Williams.
Schumacher deve estar rindo de quem o dava como decadente no meio do ano, quando a proibição de testes afetou a Ferrari justamente no momento em que era mais necessário aperfeiçoar a F2003-GA.
Schumacher deve estar rindo por último daqueles que se regozijaram vendo-o ter um pneu furado na Alemanha ou tomando volta de Fernando Alonso na Hungria, como se fatos assim, isolados, servissem para “provar” que ele não merece as 70 vitórias e seis títulos mundiais que conquistou.
Com certeza, Schumacher está rindo de felicidade por ter reescrito a história da Fórmula 1. Não apenas nos números, mas por ter feito aquilo que outros pilotos não tiveram competência ou coragem para fazer: reerguer a Ferrari e transformá-la novamente em uma equipe vencedora. É hexacampeão. Merecidamente, incontestavelmente.
Não importa o que faça a partir do ano que vem, Schumacher já faz parte da história da Fórmula 1, e do automobilismo em geral.
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Nos últimos dias, “pingaram” aqui no GPtotal várias mensagens de leitores indignados com o fato de Schumacher não ter sido punido no GP dos Estados Unidos, onde teria ultrapassado Olivier Panis sob bandeira amarela.
Na seção “A Opinião de Nossos Leitores”, logo após a corrida de Indianapolis, há uma explicação para não ter havido punição. Como ela parece não ter tido repercussão, resolvi recorrer a uma – literalmente – autoridade no assunto: Carlos Montagner, o diretor de prova do GP do Brasil de Fórmula 1 e de diversas corridas nacionais.
Comecei com a seguinte pergunta: “Schumacher deveria ou não ser punido no GP dos Estados Unidos?”. A resposta de Montagner: “Vi a cena umas duas vezes, mas sem prestar muita atenção. Minha impressão foi que sim, ele deveria ser punido. Mas, se os comissários da corrida analisaram os teipes e não puniram, deve haver uma razão para isso”.
Em seguida, descrevi a cena que todos viram na TV: Schumacher já havia iniciado a manobra de ultrapassagem e, ao passar pelo ponto em que a bandeira amarela estava agitada, estava cerca de meio carro à frente de Panis, já se preparando para fazer a primeira curva. E Montagner respondeu: “Se foi assim, então realmente não havia razão para puni-lo. Se ao entrar na zona de bandeira amarela o piloto já está à frente do outro, mesmo que por um milímetro, tem todo o direito de completar a manobra”.
Pedi autorização a Montagner para reproduzir seu veredito aqui no GPtotal. Ele concordou, com uma ressalva: “Eu gostaria que você ressaltasse que vi a cena de Indianapolis sem preocupação nem necessidade de analisá-la profundamente, e que minha opinião está sendo dada com base na sua descrição”. Aqui está, Montagner. Obrigado pela deferência.
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A todos os que adoram dizer que Schumacher é “arrogante” (tem gente que o chama de nazista simplesmente por não gostar da cara dele), seguem duas falas dele, pronunciadas instantes depois da conquista do hexa:
“Aquilo foi claramente uma estupidez de minha parte.” (Sobre a batida em Takuma Sato – com quem, aliás, trocou palavras amigáveis depois da corrida.)
“Não me comparem com Juan Manuel Fangio. Eu o coloco num plano muito mais alto do que me vejo.” (Registre-se que, sobre Fangio, palavras como essas já haviam sido ditas em 2001 e 2002.)
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Doentes e mal-amados já começam a se mobilizar para tentar convencer a todos que Michael Schumacher foi seis vezes (repito: seis vezes) campeão unicamente “por sorte”, “por ter adversários fracos”, “por ter um carro muito melhor”, “por ser favorecido pela FIA” e outros despautérios.
Tem muita gente por aí que analisa um piloto unicamente com base na bandeirinha bordada ao lado do nome no macacão.
Schumacher nem sabe da existência dessa gente. Se fosse informado a respeito, riria de todos eles também.
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Que coisa mais ridícula ver um pretendente ao título largando em 8º e o outro em 14º, simplesmente porque choveu quando lhes era permitido marcar tempo. Coisa de categoria amadora. Coisas de um regulamento de m…rda.
Abraços,
Luiz Alberto Pandini