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Após o final de semana problemático em Singapura, com as novas diretivas da FIA sobre a flexibilidade de asas e assoalho, a F1 criou uma esperança de que a Red Bull poderia ter algumas rachaduras em sua armadura de invencibilidade. Bastou uma semana para que todos percebessem que o ocorrido nas ruas cingapurianas não passou de um ponto bem fora da curva. Voltando a um circuito regular, Max Verstappen resolveu dar uma resposta a quem duvidava de seu domínio. Após liderar com facilidade os três treinos livres em Suzuka, o neerlandês da Red Bull marcou um tempo impositivo na classificação e na corrida, passeou pelas 53 voltas do Grande Prêmio do Japão, garantindo o título de Construtores para a Red Bull, além de se certificar que o título deverá ser confirmado na próxima etapa, no Catar.

A corrida em Suzuka desse domingo foi um enorme porre, daqueles de derrubar qualquer um na madrugada de sábado para domingo. Há um ditado que diz que pistas boas produzem corridas boas. Suzuka é uma das pistas preferidas de todos os pilotos de ontem e de hoje e para os brasileiros, o circuito japonês tem um significado ainda mais especial, por ter sido palco da confirmação de metade dos títulos conquistados na F1. Porém, Suzuka é um circuito bem ‘old school’ e com uma F1 com carros tão grandes e com alta dependência aerodinâmica, a triste realidade é que o circuito nipônico não está envelhecendo muito bem e normalmente as corridas por lá estão deixando bem a desejar. Como foi o caso da corrida deste domingo.

Antes da corrida surgiu a especulação de que Felipe Drugovich estaria negociando com a Williams, ultrapassando nessa corrida Mick Schumacher, outro postulante à vaga. Contudo, a Williams trouxe Logan Sargeant de suas canteras para desenvolve-lo e não faria sentido dispensa-lo após apenas um ano. Será? Antes de completar sua primeira volta no Q1 durante a classificação, o americano estampou seu Williams na saída da curva 18, um lugar não muito habitual para se bater, dando mais prejuízo à sua equipe. No domingo a atuação de Sargeant não foi muito melhor, com um toque evitável com Bottas e mais danos a serem consertados pela equipe, antes do americano abandonar.

Numa época de arrocho das equipes por causa do teto orçamentário, as pancadas que Sargeant vem dando estão custando literalmente caro para a Williams e se Drugovich conseguir juntar uma boa grana na mesa de James Vowles, chefe da Williams, o Brasil poderá retornar à F1 em 2024.

Na MotoGP tudo levava a crer que Pecco Bagnaia confirmaria a força da Ducati e conquistaria o bicampeonato com facilidade, contudo, o italiano começou a fraquejar nas últimas corridas e na estreia da Índia no Mundial, Bagnaia caiu sozinho, quando tinha acabado de superar Jorge Martin, seu mais próximo perseguidor. Após mais esse revés de Bagnaia, Martin encostou de vez no campeonato, trazendo consigo Marco Bezzecchi, vencedor em Buddh com bastante facilidade.

A Ducati só não lamenta mais a sorte do seu principal piloto, porque Martin e Bezzecchi (com uma moto 2022) também estão de Ducati, deixando o título de 2023 para os italianos, que estariam atraindo Marc Márquez para uma de suas equipes satélites, fazendo o espanhol terminar seu longo relacionamento com a claudicante Honda.

A largada foi o momento mais interessante da corrida deste domingo em Suzuka. Piastri deve ter levado um pouco a sério a brincadeira feita por Norris no dia anterior, quando o inglês pediu ao companheiro de equipe uma largada à la Senna em 1990. Piastri estacionou seu McLaren apontando para Verstappen e largou de forma diagonal, tentando ir para cima de Max, que segurou a posição, mas essa manobra deixou o caminho livre para Norris pular bem na primeira curva e brigar por alguns metros com Verstappen, mas logo o neerlandês colocou ordem na casa e deu um ‘tot ziens’ para Lando.

Mais atrás, a corrida do outro piloto da Red Bull se tornava um inferno. Sérgio Pérez não largou bem, assim como Leclerc em quarto. Atrás dos dois, Sainz e Hamilton saíram muito bem e como resultado, os quatro chegaram a ficar emparelhados no aproche da primeira curva, inclusive com Sainz tentando uma manobra duvidosa ao colocar sua Ferrari à fórceps entre Leclerc e Pérez. No entanto, ao lado de Pérez já estava Hamilton, que colocou as rodas na grama e tocou-se com Checo, que foi o grande prejudicado da confusão, pois teve a asa dianteira quebrada e precisou ir aos boxes troca-la. Nas últimas posições, Bottas e Ocon batiam, fazendo com que Albon e Zhou pegassem resquícios do toque, que fez com que a pista ficasse tão suja e o Safety-Car fosse à pista.

Pérez continuou sua corrida desastrada ao cometer o erro primário de ultrapassar Alonso antes da linha do Safety-Car, quando foi aos pits trocar a asa dianteira, lhe causando uma punição de 5s, que foi cumprida mais rápido do que o planejado quando Checo se envolveu num acidente estúpido com Magnussen, no hairpin, coroando uma corrida pífia do mexicano, que teve que abandonar a corrida… para depois retornar à pista e cumprir a punição pelo toque com o danes da Haas. Logo depois Pérez retornou aos boxes para abandonar definitivamente, mas a cena do mexicano ficando minutos parado dentro do carro, como se estivesse de castigo, foi bem emblemática.

Enquanto isso, Verstappen passeou pelas curvas de Suzuka para vencer pela 48º vez na carreira e demonstrando o quanto Pérez foi inútil nesse final de semana, os pontos conquistados por Max foram mais do que suficientes para que a Red Bull conquistasse o Mundial de Construtores com uma antecedência absurda, mesmo para os padrões atuais de seguidos domínios na F1. Verstappen chegou aos quatrocentos pontos ainda faltando seis provas para fim, restando ao piloto da Red Bull apenas três pontos para confirmar um tricampeonato que já era favas contadas desde a primeira corrida da temporada. A conta deverá ser batida ainda no sábado, na corrida Sprint do Catar. Pérez pode ser um bom piloto, mas demonstra ter problemas de confiança e ao ser esmagado por Verstappen e vendo a equipe viver em torno do neerlandês, Pérez parece acuado. O mexicano ainda tem uma boa vantagem sobre Hamilton na segunda posição, mas com corridas como a de hoje, essa posição pode ficar bem ameaçada, o que seria uma derrota doída e com consequências para o futuro de Pérez na F1.

Com a pista abrasiva e um calor fora do comum em Suzuka, o desgaste de pneus seria um ponto primordial na corrida nipônica, mas nem isso animou muito a prova, com praticamente todos os pilotos optando pela tática padrão de duas paradas. Piastri foi beneficiado pelo SC Virtual no toque entre Pérez e Magnussen por ter feito o seu primeiro pit-stop durante o período, mas o ritmo superior de Norris fez com que a McLaren realizasse a troca entre seus pilotos. Foi uma corrida bem solitária para ambos, mas garantindo bons pontos para a McLaren e o primeiro pódio na F1 para Piastri.

Leclerc fez uma corrida tranquila, onde a Ferrari não cometeu erros crassos de estratégia, mesmo que permitindo Sainz, longe do brilhantismo de Marina Bay, perdesse uma posição para a Mercedes num undercut. Por sinal, os pupilos de Toto Wolff estavam bem animados, com Hamilton e Russell chegando a trocar tintas durante a corrida. George arriscou numa estratégia de uma parada, mas a tática não funcionou, Russell foi sendo ultrapassado por quem chegasse nele e no final o inglês chegou praticamente na mesma posição em que ficaria, caso escolhesse a tática padrão. Nas voltas finais, Sainz tentou um ataque em cima de Hamilton, mas Lewis segurou bem a posição e aumentou sua vantagem para Alonso na briga pelo terceiro lugar no campeonato.

O espanhol da Aston Martin largou bem, se aproveitando do entrevero na sua frente na primeira curva, pulando na frente da dupla da Mercedes, mas Alonso simplesmente não tinha ritmo para enfrentar Ferrari e Mercedes, terminando num opaco oitavo lugar e já se impacientando com a decadência de sua equipe nesse último terço de campeonato. Stroll abandonou, mas não por culpa sua, mas por problemas na asa traseira, fazendo com que a Aston Martin trouxesse o canadense para os boxes. Mesmo tendo que fazer uma parada não programada pelo toque com Bottas na primeira volta, Ocon ainda teve fôlego para conseguir pontuar ao mudar de estratégia e ficar bastante tempo na pista com pneus duros no primeiro stint.

Gasly superou a dupla da Alpha Tauri, que largara muito bem, e quando Ocon estava com pneus desgastados o francês assumiu a nona posição. No entanto, a gestão da Alpine aprontou das suas quando fez com que Gasly cedesse sua posição para Ocon no final, fazendo com que os dois terminassem nas duas últimas posições pontuáveis, mas Gasly saiu reclamando da equipe, pois na visão dele e de todos, a ultrapassagem sobre Ocon não foi uma ordem de equipe, mas uma ultrapassagem na pista. Bruno Famin e seus blue caps não pensaram assim e se não já bastasse os problemas com um carro que ficou abaixo das expectativas, a nova cúpula da Alpine terá que lidar com um piloto descontente. Bem no final de semana em que foi confirmado como piloto reserva em 2024, Lawson fez outra corrida muito boa usando seu conhecimento de Suzuka, já que Liam disputa a Super Formula japonesa, e superou Tsunoda na casa do japonês, ficando a um posto de marcar ponto novamente.

 

Numa corrida sem muita história, a Red Bull confirmou seu merecido título de Construtores na casa de sua parceira, a Honda, e ainda deixou Max Verstappen esperando apenas a confirmação matemática para poder comemorar o tricampeonato. O neerlandês dominou a corrida em Suzuka com a mesma facilidade em que efetuou na maioria de suas treze vitórias em 2023. Com suas curvas rápidas e estreitas, Suzuka é cada vez mais uma pista para o piloto, mas nem tanto para o público. Não foi uma corrida boa de se assistir, mas Verstappen e a Red Bull não tem nada com isso e vai destruindo recordes, concorrência e até mesmo seu segundo piloto. Um domínio para a história.

Abraços!

João Carlos Viana

JC Viana
JC Viana
Engenheiro Mecânico, vê corridas desde que se entende por gente. Escreve sobre F1 no tempo livre e torce pelo Ceará Sporting Club em tempo integral.

1 Comments

  1. Fernando Marques disse:

    JC Viana,

    parabéns a RBR.
    parabéns ao Verstappen
    E parabéns para a Mclaren

    Fernando Marques
    Niterói RJ

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