Quando Michael Schumacher aparecer neste final de semana no circuito de rua de Valência, a senha estará dada para o retorno das especulações sobre sua volta. A possibilidade para que isso aconteça permanece em aberto, dependendo da melhora das condições de seu pescoço e também da recuperação de Felipe Massa. Nas duas semanas que se passaram entre o anúncio e o cancelamento da volta, a notícia ocupou todos os espaços na mídia mundial. Especialmente na Alemanha, era quase a realização do movimento sebastianista na versão germânica. Uma verdadeira bomba!
A volta de ex-campeões à Fórmula 1 costuma ter este efeito. No caso de Michael Schumacher, choveram comparações com Niki Lauda. O austríaco jogou tudo para cima na penúltima etapa de 1979, mas voltou três anos depois e ainda conseguiu mais um título antes do adeus definitivo. Mas há casos de retornos fracassados. Alan Jones foi campeão em 1980 e deixou a F-1 ao final do ano seguinte. Fez uma prova em 1983 pela Arrows e as temporadas 85/86 pela Beatrice, com resultados discretíssimos. Jacques Villeneuve foi outro que voltou à categoria depois de uma pausa só para sair novamente pela porta dos fundos. E mesmo a volta de Nigel Mansell não foi das mais brilhantes. Em que pese uma vitória com a Williams em 1994, ele acabou dispensado da McLaren no ano seguinte porque não cabia no carro. Embaraçoso, para dizer o mínimo.
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Na verdade, o retorno não-realizado de Michael Schumacher lembra mais o caso de Alain Prost. Pouca gente deve se lembrar, mas na semana anterior ao Grande Prêmio do Brasil de 1996, vários jornais destacaram que o francês correria em Interlagos pela equipe McLaren, no lugar de Mika Hakkinen. A volta do tetracampeão às pistas era o grande assunto do momento.
Prost havia acertado para ocupar na época um posto similar ao de Michael Schumacher na Ferrari de hoje: o de conselheiro da McLaren, com a incumbência de fazer alguns testes para ajudar no desenvolvimento do carro. Na semana anterior à corrida, a FIA concedeu ao francês a superlicença para que ele assumisse essa função. Foi o que bastou para que jornalistas do mundo se assanhassem com o cenário da volta.
A situação de Mika Hakkinen contribuía para isso. Na última prova de 1995, o finlandês sofreu um pavoroso acidente no ponto mais veloz do circuito de Adelaide. Ficou um período em coma no hospital, mas teve uma recuperação marcante e já participou da abertura da temporada do ano seguinte, também na Austrália, na estréia do circuito urbano de Melbourne.
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Chegou em quinto lugar, comentando ao final da corrida que se sentia “muito cansado”. Como a mente dos jornalistas é mais fértil que a reprodução dos coelhos, a frase de Hakkinen foi interpretada como uma admissão de que ainda não estava totalmente recuperado do acidente. Juntaram isso com a superlicença de Prost para concluir que o campeão estava voltando à Fórmula 1.
Ron Dennis ainda não colaborou e, perguntado por um jornalista inglês se o francês correria no Brasil, respondeu: “em condições normais, não”. Muitos interpretaram isso como a confirmação de que uma condição excepcional estava acontecendo – o que obviamente não correspondia à verdade.
Mika Hakkinen chegou ao Brasil e foi bombardeado com perguntas sobre seu estado físico de saúde. Na confusão, surgiu a informação de que o piloto faria um teste físico com o doutor Sid Watkins, médico da FIA, na quinta-feira para determinar se poderia correr no final de semana. Se não passasse, Prost assumiria seu lugar. O finlandês negou tudo com veemência, sem esconder sua irritação. “Ninguém me vetou e não haverá teste nenhum. Se sentisse que não tinha condições de pilotar, seria o primeiro a dizer”.
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No dia seguinte, foi a vez de Alain Prost desembarcar no Brasil para acompanhar o trabalho da McLaren no final de semana. Suas negativas finalmente puseram um ponto final sobre o seu retorno à Fórmula 1. “Quem vai dirigir pela McLaren é o Mika e o David. Vou continuar renovando a superlicença, mas isso não significa que eu esteja pronto para correr. Sei que a idéia de fazer meu GP de número 200 agrada a muita gente. E a mim também. Mas, se acontecer um dia, por uma razão sentimental eu gostaria que fosse na França”, falou.
A 200ª corrida de Prost na Fórmula 1 jamais aconteceu: era tudo mera especulação. Mais uma entre as dezenas que surgem a cada temporada para alimentar as páginas dos jornais com as fantasias de seus escribas. O caso de Schumacher é diferente, houve um anúncio oficial e, depois um cancelamento. Mas os retornos não-realizados do francês e do alemão tiveram justamente esse efeito, o de colocar em evidência no noticiário as suas equipes, justamente em momentos em que elas perderam espaço por um desempenho esportivo inferior às outras.
No fundo, esse é o retorno principal que um campeão pode gerar a uma equipe: o de marketing, de promoção. Mesmo que a volta em si jamais se concretize.
Um abraço e até a próxima,
Luis Fernando Ramos