RUBINHO PODIA TER PASSADO SCHUMI?

REVELAÇÕES DE SENNA EM MONTREAL (e que ninguém captou…)
11/06/2004
WITH A LITTLE HELP FROM OUR FRIENDS
16/06/2004

Vamos direto ao que interessa: Rubinho podia ter passado Schumacher naquele estágio da corrida, pouco antes do segundo pit-stop de ambos, onde era visivelmente mais rápido do que o alemão?

Se podia, por que não tentou ultrapassá-lo? Parceria, temor ou ordens de equipe?

Há uma terceira pergunta (adiantaria alguma coisa Rubinho ganhar a posição ao alemão?) mas vou deixa-la para lá, uma vez que os problemas de Schumacher mostraram-se apenas temporários – talvez um superaquecimento dos freios ou uma daquelas quedas inexplicáveis de rendimento dos pneus.

Acreditando que o nosso garoto, por motivos óbvios, jamais responderá francamente às perguntas acima, arrisco aqui minha opinião: Rubinho sequer pensou em ultrapassar Schumacher por temor reverencial, algo do tipo “não estou com esta bola toda” ou “vai que eu tento e bato nele” ou ainda “e se eu tento e tomo uma fechada como as que ele costuma dar?”

E assim Rubinho achou melhor deixar a coisa do jeito que estava, como sempre.

Aguardo pela opinião dos leitores.

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Takuma Sato, a cada corrida, lembra mais Gilles Villeneuve. Um Villeneuve pálido, menos exuberante, habilidoso e carismático mas ainda assim um piloto para o qual os olhos se voltam à espera do que e quando ele vai aprontar.

A colheita canadense, nesse sentido, foi farta. A rodada no treino, como a de Keke Rosberg em Long Beach, começo dos anos 80, seguida pela tentativa suicida de ultrapassagem sobre Panis durante a corrida, perdendo o ponto de ultrapassagem em vários metros e depois tendo de girar o carro para segura-lo, mesmo arriscando-se a levar junto consigo dois ou três competidores. Arrematando tudo, a explosão – mais uma – de motor.

Como Villeneuve, pouquíssima eficiência mas espetáculo para um público sedento de espetáculo. E Takuma Sato é a revelação do ano.

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Agora compare as tentativas kamikazes de Sato às “ultrapassagens” científicas de Schumacher.

Um pisa fundo, sem pensar muito no que vai acontecer e sem ponderar as habilidades e meios que têm para controlar os 800 e tantos cavalos do Bar Honda; outro contem o ataque a Montoya, como se temesse um confronto, deixando para a ganhar a posição (e depois a liderança da prova) quando tem a pista livre à frente e pode acelerar sem temer um erro de quem vai à sua frente.

Um espetáculo, outro eficiência; um coragem, outro inteligência; um risco, outro objetivo. Um motores estourados e acidentes, outro vitórias de enjoar.

De quem o mundo vai lembrar no futuro?

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Não pensem que lamento por Sato. Graças a Deus ele está trazendo alguma cor para a Fórmula 1.

Sem ele, seria preciso paciência de Jó para acompanhar a categoria cuja maior atração é o planejamento de corrida da Ferrari, de forma a antecipar com exatidão o momento de parada do adversário que vai à frente de Schumacher e dar a ele autonomia suficiente para que possa fazer as suas voltas voadoras.

Como a Ferrari sabe quem vai estar na frente de Michael? Como ela pode saber quanto gasolina lhe dar antes mesmo que saia para a sua volta de classificação?

Ninguém sabe. Só que, nas vezes em que foi necessário, a equipe acertou em cheio em seu planejamento. No Canadá, Schumacher foi para o hotel no sábado sabendo que poderia ganhar a corrida sem maiores dificuldades, mesmo largando em 6º e, em Mônaco, a estratégia da Ferrari daria seguramente o 2º lugar a ele, não fosse aquela barbeiragem a dois no túnel.

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Agradeço a benevolência dos leitores, que não cobraram minha afirmação recente de que não há quase espaço na Fórmula 1 para estratégias de corrida diferentes.

Há sim, mas é preciso que o carro seja vermelho, tenha o nome começando por F e o piloto seja o filho mais velho da família Schumacher.

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Depois do péssimo treino da Ferrari no sábado, lembrei-me de Mônaco e fiquei pensando se estas duas pistas não são consideradas exóticas demais pela equipe, que prefere construir um carro capaz de vencer nas demais, deixando de lado pistas de características urbanas.

Schumacher tratou de me desmentir. Vamos esperar pela Hungria e ver se a minha idéia corresponde aos fatos.

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O incidente na largada me parece ter sido provocado por Klein, que tocou a traseira de Coulthard, fazendo-o rodar. E depois Klein coroou a obra passando por cima do carro do escocês e caindo em cima do de Webber.

Pela falta de resultados e pelo pouco que mostrou até agora, Klein é candidato a ficar a pé antes do final do ano. Há outros candidatos fortes ao mesmo destino e alguns deles são brasileiros.

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Independentemente do fato de ter sido desclassificado, assim como Montoya e os pilotos da Toyota, queria terminar com uma palavra de incentivo a Ralf Schumacher, de quem só eu pareço gostar.

Descrito recentemente por Montoya como “rápido, inteligente e inconsistente”, Ralf esteve quase perfeito no Canadá, dando um banho em todo mundo, menos no irmão. Não creio que as irregularidades no sistema de refrigeração de freios do Williams tenham sido responsáveis pelo seu excelente desempenho.

A volta de classificação de Ralf no sábado merece lugar no museu dos grandes feitos do automobilismo principalmente quando comparada à volta de Montoya, que competiu com idêntica quantidade de gasolina.

Por que Ralf não corre sempre assim? Por que oscila corridas brilhantes a outras, abaixo do medíocre?

Ninguém sabe. Numa Fórmula 1 cada vez mais científica e exata, há coisas que ninguém explica.

Boa semana a todos

Eduardo Correa
Eduardo Correa
Eduardo Correa
Jornalista, autor do livro "Fórmula 1, Pela Glória e Pela Pátria", acompanha a categoria desde 1968

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