Amigo Panda
Schumy tetra. Foi fácil, não? Fácil nada. 2001 é um daqueles campeonatos estranhos, decididos por uma série de circunstâncias – que alguns chamarão de sorte – que só costumam cair na cabeça dos verdadeiros campeões.
Na aparência, a Ferrari sobrou. Na realidade só ganhou com alguma sobra Austrália, Malásia e Hungria. Nas demais corridas, Schumy ou ganhou ou se deu bem por uma combinação de talento e sorte própria e incompetência e azar dos outros.
No Brasil, por exemplo, Schumacher levou um chocolate mas embolsou um segundo lugar grátis, atrás do Coulthard, graças às quebras e acidentes de Hakkinen, Montoya e Ralf.
Show de horror em San Marino – a pior corrida do ano para o alemão – mas o caçulinha da família se encarregou de impedir nova vitória do Coulthard, o que renderia ao escocês a liderança do campeonato.
Vamos para a Espanha e a McLaren dá aquele vexame, perdendo o Coulthard na largada e o Hakkinen na última volta, deixando a corrida de mão beijada para o nosso bom alemão.
Coulthard ganha na Áustria com Schumacher em segundo lugar graças à “generosidade” do Rubens. Mônaco: novo fiasco McLaren, que perde Coulthard na largada e Hakkinen logo depois, deixando tudo fácil para Schumy.
No Canadá, o alemão é segundo com Coulthard indo para casa mais cedo por quebra do motor. Na corrida seguinte, Nurburgring, a Ferrari parecia mais competitiva mas não o bastante para despachar a Williams. Mas então o irmãozinho é punido de uma forma especialmente dura, ninguém entendeu bem por que, e quem é que ganha? Ele mesmo… Na França – nem lembro bem como foi – mas a McLaren continua dando vexame na largada e Coulthard toma uma punição por ter ultrapassado a velocidade nos boxes. Schumacher está lá para conferir. Na Inglaterra, banho McLaren mas com o piloto errado enquanto na Alemanha Coulthard perde um segundo lugar certo por quebra do carro.
E assim temos Schumacher chegando a Hungria 37 pontos na frente do pobre escocês, nesta altura completamente desmoralizado. O resto da história, você sabe.
Detalhes cruéis judiaram da McLaren e do Coulthard em especial. Já pensou se ele ganha na Espanha e em Mônaco – hipótese perfeitamente possível, uma vez que fez a pole em ambas – e se Schumacher chega em segundo, em vez de ganhar? Iríamos para o Canadá com o escocês liderando o campeonato por oito pontos.
Mas Coulthard marcou apenas dois quintos lugares, depois de ver aquela jóia de carro simplesmente se recusar a arrancar na volta de apresentação. Foram dois momentos importantes do campeonato, com derrotas ou problemas que quebram a moral de qualquer um, tanto mais de um piloto visivelmente complexado como o Coulthard, que não chega a ser um trapalhão como o Mansell mas que está se tornando “nosso perdedor predileto”.
O Ferrari deste ano não está com esta bola toda mas os concorrentes estão com várias bolas a menos. Sorte do Schumacher? Certamente que sim mas um tipo de sorte que só beneficia campeões, nunca um Rubens ou um Coulthard. Acho que é a tal barreira da vitória, descrita pelo Jackie Stewart. Às vezes, as vitórias custam a chegar simplesmente porque você está se esforçando demais por elas.
Ferrari e Schumacher conseguiram quebrar a barreira da vitória em 2000, depois de um longo inverno. Agora, tudo os favorece…
+++
O que saiu errado para a McLaren?
A culpa pode ser repartida em três. Primeiro culpado: Adrian Newey. Recentemente, alguém disse que o resumo da Fórmula 1 depois da morte de Senna foi a batalha entre Schumacher e os carros projetados por Newey, primeiro na Williams, depois na McLaren. Neste ano, ele não soube compensar as limitações aerodinâmicas impostas por um novo regulamento e seu carro nasceu com um problema aparentemente insolúvel de falta de aderência nas rodas dianteiras.
Segunda culpada: a Ilmor, que projeta os motores Mercedes. Há alguns anos, a Ilmor introduziu o alumínio-berílio em seus motores, uma liga de metal desenvolvida para uso em armamentos nucleares caríssima (parece que cada camisa de pistão custa US$ 800 e dura não mais do que 500 km) e cancerígena – daí ter sido proibida a partir deste ano. Sem o alumínio-berílio, os motores Mercedes não renderam o que se esperava deles e quebraram seguidamente.
Terceiro culpado: Ron Dennis. Numa brilhante análise publicada recentemente em Autosprint, o engenheiro italiano Mauro Coppini considera que o maior pecado da McLaren deste ano foi incorporar inovação em demasia. A equipe, segundo o engenheiro, perdeu o equilíbrio entre inovação e capacidade de gestão.
Não deixa de ser sintomático que, em várias corridas, seus pilotos simplesmente não conseguiram arrancar com o carro, vítimas de sistemas eletrônicos próximos da perfeição mas impossíveis de serem operados por seres humanos normais e falíveis.
Abraço grande
EC