Sem passeio

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Quando se iniciou a temporada 2024 da F1, havia a aposta que mais recordes de dominância seriam quebrados nesse ano pela Red Bull e Max Verstappen. Será que a Red Bull seria perfeita e venceria todas as corridas do calendário da F1? Logo na terceira etapa do ano veio a resposta: Não! Contudo, não restavam dúvidas que o domínio da Red Bull continuaria ao longo da temporada, com vitórias tranquilas de Max Verstappen, muito provavelmente tendo Sergio Pérez completando seguidas dobradinhas.

Numa F1 sem testes e com teto orçamentário, onde as equipes tem que ser mais assertivas em suas atualizações, prever um campeonato inteiro pode ser bem mais do que um exercício de futurologia, mas um tiro no escuro. Bastou um escândalo abalar os bastidores da Red Bull, culminando na saída do mago Adrian Newey, junto com o crescimento de outras equipes e o passeio esperado da Red Bull não está se confirmando. Ok, o time venceu duas das últimas quatro corridas, mas mesmo ainda tendo o melhor carro do pelotão, o Red Bull RB20 não domina a F1 como esperado.

No excelente palco que é o circuito Gilles Villeneuve, vimos Max Verstappen usar seu talento e solidez para derrotar perigosas McLaren e Mercedes e conquistar sua sexagésima vitória na F1, numa corrida insana, onde praticamente de tudo aconteceu nessa tarde de domingo.

Na semana anterior ao final de semana canadense, o mercado de pilotos da F1 foi agitado por algumas notícias. Após toda a presepada aprontada por Esteban Ocon em Monte Carlo, a Alpine resolveu dispensar o gaulês no final dessa temporada, que procura uma equipe para 2025, fazendo tremer os demais pilotos, pois ser companheiro de equipe de Esteban Ocon não vem sendo um emprego muito atrativo. Assim como não vem sendo nada atrativo o cockpit da Alpine. Mesmo sendo uma equipe de fábrica, ninguém se anima em pilotar para a confusa equipe bancada pela Renault.

Se a saída de Ocon não foi uma surpresa, a extensão do contrato de Sérgio Pérez com a Red Bull foi assombrosa, ainda mais por ter sido por dois anos, que era algo imposto… por Pérez! Novamente o mexicano não vem fazendo uma boa temporada e seu final de semana tenebroso em Montreal corrobora para a surpresa de sua renovação.

A renovação de Checo mostra que a Red Bull tem ao mesmo tempo um assento valioso e amedrontador pelo contexto de uma equipe que funciona em torno de Max Verstappen, que vai se tornando um dos gigantes da história da F1, iniciando um círculo virtuoso para o neerlandês, mas vicioso para quem quer que esteja ao seu lado. Não custa nada lembrar que a Red Bull conta atualmente com 64% dos pontos vindos de Verstappen para se manter na liderança do Mundial de Construtores e é no certame de fabricantes que as equipes ganham dinheiro.

E se Checo tiver outros finais de semana como o canadense, não haverá contrato que segure o mexicano na Red Bull.

Empates na pole são extremamente raros na F1. De cara lembramos da épica classificação da não menos histórica decisão do campeonato de 1997, onde Villeneuve, Schumacher e Frentzen empataram em 1:21.072 em Jerez. Passados quase 27 anos, Montreal viu algo parecido, mas com um algo a mais. George Russell conseguiu a marca de 1:12.000 no Q3, um número já raro de se ver, mas momentos depois Verstappen foi lá e fez… 1:12.000!

Russell ficou com a pole por ter marcado o tempo primeiro, além de mostrar que a Mercedes vinha forte para o restante do final de semana.

O circuito Gilles Villeneuve é uma das pistas mais icônicas do calendário da F1 e mesmo a Liberty Media teimando em inchar o já apertado cronograma da F1, o autódromo localizado em Montreal permanece no calendário pelas incríveis corridas que por lá acontecem, além do ótimo ambiente na cidade canadense. E em 2024 tivemos outra corrida para nos lembrarmos em Montreal!

De antemão se sabia que o clima seria um fator preponderante no final de semana canadense, com a chuva aparecendo com força na sexta, nem tanto no sábado e reaparecendo com tudo no domingo. Mesmo não chovendo na hora largada, a pista estava encharcada, fazendo com que a dupla da Haas arriscasse os pneus de chuva extrema, algo bastante raro nos últimos anos. Com a largada acontecendo normalmente com pista molhada, nos livrando da constrangedora situação de vermos uma largada atrás do Safety-Car, os vinte pilotos partiram com bastante cautela, com praticamente nenhuma mudança nas primeiras posições. Russell liderava à frente de Max, Norris e Piastri. Num primeiro momento a aposta da Haas se pagou com Magnussen e Hulkenberg escalando o pelotão e o danes chegando a se aproximar de um impressionante top-5, mas um sol tímido mostrava que não demoraria para que a carruagem americana se transformasse em abóbora. E a corrida pegasse no tranco de vez.

Quando a pista ainda estava bastante molhada, os carros estavam mais espaçados, mas na medida em que a pista foi secando, Max foi encostando em Russell. Com o trilho se formando, ultrapassar se tornou algo bem desafiador, mesmo quando o DRS foi liberado, pois bastava encostar na parte molhada, para que os carros dançassem ao ritmo do melhor forró cearense. Russell forçava bastante seus pneus intermediários e com isso os desgastava. Sem chance de ultrapassar Russell, Verstappen ficou travado atrás da Mercedes, vendo Lando Norris crescer em seus retrovisores. Cuidando mais dos pneus e com um ritmo melhor, Lando viu o trilho aumentar e proporcionar duas ultrapassagens sobre Max e George, assumindo a liderança. E abrir!

Parecia que aconteceria algo parecido com Miami, quando Lando Norris disparou com vento no rosto, mas um Safety-Car causado pelo horroroso Logan Sargeant mudaria a face da corrida novamente. Voltando à corrida na Flórida, quando um SC ajudou sobremaneira Norris, no Canadá aconteceu o contrário. A McLaren perdeu a entrada dos pits e quem se aproveitou foi o trio Max, Russell e Piastri, que foram aos pits na hora certa e quando Lando fez sua parada uma volta depois, ele perdeu terreno, caindo para terceiro. Apesar da pista praticamente seca, todo mundo colocou pneus intermediários, pois o radar mostrava que a chuva estaria de volta em minutos e ninguém, com exceção de Leclerc, cuja corrida tinha ido para as cucuias, arriscou os slicks.

Mesmo tendo apenas 26 anos, Verstappen usou sua já vasta experiência em relargadas como ponteiro para deixar Russell para trás e assumir a liderança, mas sem disparar. E a chuva realmente veio, mesmo que de leve e de forma rápida. A briga pelo segundo lugar era apertada entre Russell, Norris e Piastri, enquanto Gasly ia aos pits colocar pneus slicks, sendo o boi de piranha para as demais equipes. Todos acompanhavam o ritmo do piloto da Alpine e quando ficou claro que Pierre se tornava um dos pilotos mais rápidos da pista, começou uma nova romaria rumo aos boxes para colocar pneus slicks.

Norris arriscou ao esticar sua segunda parada e numa grande atuação, ele chegou a sair do pit-lane na frente de Verstappen, mas com pneus slicks gelados, Lando quase rodou antes de ceder a primeira posição definitivamente para Max. No entanto, a corrida do neerlandês não ficaria sossegada. Faltando pouco menos de quinze voltas, Carlos Sainz coroava um final de semana horripilante da Ferrari ao rodar e atingir Alexander Albon, trazendo o segundo Safety-Car do dia.

A Mercedes tentou dar o pulo do gato ao colocar pneus novos nos carros dos seus pilotos e Russell foi para cima da dupla da McLaren, com o inglês quase batendo em Piastri na curva 13 e perdendo posição para Hamilton na sequência. No entanto, George se recuperou, ultrapassou o australiano e deu o troco em Lewis numa ultrapassagem no limite nas voltas finais. Porém, Russell lamentou bastante o erro que lhe custou a segunda posição para Norris, que foi sincero em dizer que se foi ajudado pelo SC em Miami, foi atrapalhado em Montreal. No entanto, é nítido o crescimento de Lando Norris nessa temporada, principalmente quando conquistou sua primeira vitória na F1, lhe dando um boost de confiança.

Porém, a ótima corrida de Norris ainda não foi páreo para Max Verstappen. O neerlandês fez uma corrida correta em mais um final de semana onde a Red Bull não dominou e tirando uma ligeira escapada de pista na curva um quando a pista estava ainda bem molhada, Max não errou e disparou novamente no campeonato, com o zero ponto de Leclerc, num final de semana irreconhecível da Ferrari.

Após largar da pole, George Russell completou o pódio e pode-se afirmar que o inglês poderia ter vencido se as circunstâncias lhe favorecessem, mas novamente a Mercedes irá ouvir de Hamilton depois da corrida, pois na última parada o time de Toto Wolff colocou pneus duros no carro de Lewis, enquanto George foi com os mais corretos médios. Hamilton ficou o primeiro terço da prova atrás de Alonso, só o superando por um pit-stop mais rápido da Mercedes. Lewis andou próximo de Russell nas voltas finais, jogou duro com o companheiro de equipe quando disputaram o último lugar do pódio e no final, parecia não muito feliz com as opções da equipe. No entanto, é muito bom para o campeonato esse súbito crescimento da Mercedes, com mais um player na luta pelas vitórias.

A Aston Martin fez uma corrida discreta, com Alonso se esmerando, como sempre, em segurar Hamilton, mas quando foi superado pelo inglês, nada mais fez além de ficar num tranquilo sexto lugar. Correndo em casa, Lance Stroll ficou a corrida toda no meio de um pelotão animado que ia do oitavo lugar até o décimo quinto e no final o canadense acabou liderando esses carros, terminando num honroso sétimo lugar. Após ser a segunda força da F1 em 2023, esse resultado foi o melhor da Aston Martin como equipe em 2024.

Depois ser criticado de forma ácida (e merecida) por Jacques Villeneuve, Daniel Ricciardo deu uma pequena resposta ao ficar em oitavo, numa corrida sólida, mas não se pode negar que o australiano andou atrás do seu companheiro de equipe Yuki Tsunoda (que teve seu contrato com a Racing Bulls nesse final de semana) a corrida inteira. Porém, nas últimas voltas o japonês deu uma rodada perigosa na frente do pelotão, onde quase foi atingido por uma Haas, mas felizmente tudo não passou de um enorme susto.

Depois de todo o entrevero em Monte Carlo, a Alpine marcou pontos com seus dois carros, porém, como é comum com os franceses nos últimos anos, a corrida terminou em polêmica, com Ocon cuspindo maribondo por ter lhe sido imposto uma ordem de equipe nas voltas finais, fazendo-o ceder posição para Gasly nas voltas finais. Mesmo quando faz uma corrida decente, a Alpine não tem sossego.

Voltando três meses no tempo, termos quatro corridas consecutivas onde a Red Bull não dominou parecia ser um devaneio, mas é o que está acontecendo no momento. Não se pode mais dizer que houveram situações pontuais, onde características de determinadas pistas favoreceram as outras equipes. Miami, Ímola, Monte Carlo e Montreal não são pistas similares e a Red Bull não performou como antes. A diferença nesse recorte de temporada foi mesmo Max Verstappen.

A próxima pista, Barcelona, sempre foi um circuito para carros feitos por Adrian Newey, mas sempre lembrando que o inglês mal aparece na Red Bull depois de anunciada a sua saída da equipe. Como falou Helmut Marko, se a Red Bull não andar bem em Barcelona, haverá um problema nas glebas austríacas, mesmo que a Red Bull ainda conte com Max, como aconteceu nesse final de semana.

Abraços!

João Carlos Viana

JC Viana
JC Viana
Engenheiro Mecânico, vê corridas desde que se entende por gente. Escreve sobre F1 no tempo livre e torce pelo Ceará Sporting Club em tempo integral.

1 Comments

  1. Fernando Marques disse:

    J. C. Viana,

    Não tenho dúvidas que o GP do Canadá foi a melhor corrida da temporada até o momento.
    Pelo que parece de se ver, a RBR deu uma estagnada enquanto a McLaren está em ascensão. Se for verdade essa realidade é excelente pro resto da temporada.
    O rendimento da Mercedes em Montreal foi muito bom. Resta saber se houve realmente uma evolução no carro. Não se pode afirmar nada nesse sentido.
    Já a Ferrari, vai entender o que aconteceu depois do desempenho em Mônaco.
    Chamo a atenção para a Mariana becker quando apresentava o grid de largada na transmissão pela Band.fez uma leitura perfeita do que poderia ser essa corrida.

    Se o Max tiver trabalho daqui pra frente vai ser bom pro campeonato.

    Fernando Marques
    Niterói RJ

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