Edu,
Você é um homem bom. Muito bondoso, mesmo. Sua compreensão para com os desvios de raciocínios dos outros é realmente edificante. Depois de tudo o que você já viu, ouviu e leu sobre o Barrichello, você ainda não acredita que ele diga esse tipo de bobagem? Pois façamos uma aposta: ele (ou melhor, suas declarações) ainda vai (vão) dar o que falar até o final do ano. Só vão variar em função do que ele conseguir até lá, mas aguarde: virão, pelo menos, mais duas frases antológicas (estou apenas garantindo uma margem de segurança na minha aposta; particularmente, acho bem possível que venham umas três ou quatro).
Sobre a corrida de ontem: uma chatice que só teve algum interesse porque Schumacher dependia da vitória para garantir o título. Barrichello só largou bem porque estava no lado limpo da pista – Coulthard estava no lado sujo e isso foi fatal para suas pretensões. Bem ou mal, o brasileiro exerceu um papel importante na vitória do alemão. Sua observação sobre os tempos de volta dele são válidas. Observando as corridas de ontem e a da Áustria, parece que ele simplesmente não tem capacidade de andar no limite máximo quando isso é necessário. É constante, mas não cresce além de um certo ponto.
Muito mais inteligente que a frase do RB foi a do Schumacher: “Não é justo nem honesto me comparar com Fangio. As coisas que aquele homem fez, com carros pouco seguros e supervelozes, são difíceis de imaginar. Comparado a isso, o que fazemos é pouco”. Depois das imagens vistas na corrida de Hockenheim, mais um tapa na cara de quem o considera arrogante e antipático apenas por ser alemão…
Agora começa mais uma discussão: ele está ou não entre os maiores da F 1? Acho que essa resposta só será dada depois que ele parar de correr. Explico: Fangio, Clark, Senna, Stewart e Prost tiveram uma coisa em comum: se afastaram ou morreram no auge da glória. Deixaram no ar (principalmente Clark e Senna, não por acaso os que tiveram a carreira interrompida pela morte) a impressão de que poderiam ter feito ainda mais. Os cinco citados são os nomes que mais aparecem quando se pede para relacionar os cinco ou seis melhores de todos os tempos.
Outros grandes pilotos, como Piquet, Lauda, Emerson, Hill e Brabham, aparecem de vez em quando, citados apenas por um ou outro interlocutor, porque saíram do cenário quando já estavam por baixo. Infelizmente, “grudou” neles a impressão de que já haviam dado o que tinham que dar – o que nem sempre foi verdade. Até Ascari, que ainda era um piloto de ponta quando morreu, raramente é citado entre os “seis mais”. Já fazia a “eternidade” de dois anos que ele havia sido campeão pela última vez…
Respondendo à pergunta do parágrafo acima: se Schumacher abandonar as pistas no auge da glória, terá grandes chances de ser colocado, sem contestação, entre os grandes. Se tiver um ano ruim (apenas um) antes de parar, muito provavelmente irá para o outro grupo. E isso independe de ele bater o recorde de vitórias de Prost, o de títulos de Fangio e o de poles de Senna.
Apenas para registro, uma frase que parece traduzir uma impressão generalizada entre os que acompanham automobilismo atentamente e de maneira inteligente, mas sem a profundidade de fãs como nós. Um amigo disse-me ontem depois da corrida: “Sem desmerecer o Schumacher, ele contra os outros é como o Santos de Pelé, ou o Flamengo de Zico, jogando contra a Portuguesa ou o Bangu…”.
Descobri uma boa história no final de semana. O Frank Williams alugou o circuito de Jarama para fazer testes um dia antes de a pista ser aberta para os treinos oficiais do GP da Espanha de 1970. Outras equipes já estavam por lá e também queriam treinar, mas tinham que pedir autorização ao Frank. Este não teve dúvida: cobrou de cada uma um “pedágio” de umas 50 libras e gerou um lucro inesperado para sua equipe, à época muito pobre e chamada “Frank Williams Racing Cars” (hoje é Williams Grand Prix Engineering, embora o nome desportivo seja “BMW Williams F1”).
Abraços,
Panda
PS – Só mais uma coisinha. Li que Prost conversou com Schumacher no sábado e disse: “Por favor, ganhe logo essa corrida porque eu não agüento mais responder a perguntas sobre esse meu recorde”. Em 1992, Fangio declarou: “Senna vai superar todos os meus recordes. Quem sabe assim eu possa descansar um pouco do ‘mito Fangio'”. Será que ser recordista é tão cansativo assim?