O telefone toca, era o Panda:
– Edu? Falei com o Flávio, ele disse que adora o GPTotal e pede para a gente enviar um banner para colocar na home dele.
“Flávio”, no caso, é o Flávio Gomes e a “home dele” é a home page do www.grandepremio.com.br. Um banner no grandepremio é mais ou menos a mesma coisa que você oferecer um teste na Ferrari a um jovem kartista.
Naquele dia, 22 de março de 2002, poucos dias antes do GP do Brasil, graças à generosidade do Flávio, o GPTotal começou a deixar de ser uma ação entre amigos para se tornar um player, por modesto que seja, deste universo chamado Internet. A parceria fez com que fechássemos aquele mês com um recorde de 6.400 visitas – contra 2.700 de fevereiro. Em abril, os números subiriam para 10.500 visitas e, em maio, para 17.400.
Hoje, por motivos de natureza estritamente comercial, estamos encerrando nossa parceria com o Flavio, desejando a ele e à equipe do www.grandepremio.com.br muito sucesso e felicidades.
Ah, sim, sei que vocês estão curiosos em saber: encerramos batendo mais um recorde de visitas – 84 mil durante o mês de abril. É como se estivéssemos mudando de equipe, mas celebrando a despedida com uma vitória na última corrida do campeonato.
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Nossa nova parceria também começou com um telefonema do Panda:
– Edu? O Perrone quer que a gente participe da Rádio F1 na Web.
“Perrone”, no caso, é Ricardo Perrone, uma espécie de Juan Pablo Montoya do automobilismo na web, e a Rádio é apenas uma das dezenas de atrações de seu site, www.f1naweb.com.br.
Por qualquer motivo, acabei não atendendo àquele convite. Mas Perrone insistiu na semana seguinte e eu e Panda acabamos nos rendendo.
Seguiram-se almoços (um deles com a presença de Schumy, o simpático ainda que um tanto irrequieto beagle do Perrone, filando batatas fritas do meu prato), muita conversa e uma proposta, envolvendo uma parceria comercial e de conteúdo bastante interessante.
Hoje é o dia zero desta parceria que, esperamos, seja longa e profícua – e se o Schumy parar de babar na minha calça também ajuda.
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Tudo novo na Fórmula 1, também.
De maneira surpreendentemente simples, aquele incrível balaio de gatos se organiza e aprova num intervalo de pouco dias o maior pacote de mudanças da história da categoria. Perto do que aconteceu na terça-feira (imagina-se que as discussões em torno do tema estejam encerradas, mas nunca se sabe), o aumento da cilindrada dos carros para 3000 cc é brincadeira.
É assustador ver como as coisas se resolveram mas é sempre assim. Dirigentes esportivos raramente são bons em reformas; eles preferem mesmo demolir a casa inteira, ainda que não saibam o que construir no lugar.
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Não temo a redução da potência dos motores nem a imposição de que durem duas ou mais corridas. Querem apostar que em menos de um ano os carros terão desempenho bem parecido aos seus antecessores?
Mas eu não espero absolutamente nenhuma surpresa em relação à manutenção do domínio das grandes equipes, da mesma forma que vejo sem emoção a entrada de gente nova na categoria. Elas só tornarão a disputa pelos últimos lugares mais acirrada.
O que não gosto muito é desta pauperização geral da categoria, com a obrigatoriedade de uso de componentes standard, apenas dois jogos de pneus para todo o final de semana, redução dos testes e a venda de Fórmulas 1 “semi-novos”.
Até o cuidado de proibir a troca de pneus vem nesta direção. Para fazer um pit stop rápido, uma equipe precisa, hoje, de 14 pessoas – três em cada pneu mais dois nos macacos. Com a nova regra, e também com a limitação de trabalho no carro durante o final de semana, o número de mecânicos desempregados não fará inveja a Lula nenhum.
Isso tudo vai dar a Fórmula 1 uma cara muito Nascar, onde o maior desafio dos organizadores é encher o grid. Daí para intervir no resultado das provas, por meio de bandeiras amarelas ou penalizações técnicas aos carros melhores é um passo.
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Mas me deixem especular um pouco sobre as motivações política por trás deste surpreendente acordo. Vamos começar relacionando os interesses de quem manda alguma coisa na categoria.
Os interesses de Bernie: 1) aumentar o número de GPs para algo próximo de 20 por ano; 2) liquidar a disputa com as montadoras pela tal Fórmula 1 alternativa; 3) ceder o mínimo de dinheiro adicional das suas burras para as equipes.
Os interesses da Fia: 1) preservar a segurança da categoria; 2) apoiar Bernie (é difícil acreditar que os interesses da entidade e os de Bernie não sejam inteiramente convergentes).
Os interesses da Ferrari: 1) preservar ao máximo a sua condição de liderança política e tecnológica 2) reduzir custos pois a equipe perde em breve o patrocínio da Marlboro (se bem que, mais dia menos dia, vai economizar o salário de Schumacher que tem de aposentar um dia).
Os interesses de Williams e McLaren: 1) desestabilizar a Ferrari 2) reduzir custos.
Os interesses das outras equipes: 1) sobreviver, reduzindo custos; 2) faturar um pouco mais.
Os interesses das grandes montadoras: difícil dizer quais são mas, em qualquer caso, o novo regulamento aplica-lhes um duro golpe, reduzindo um pouco a relevância política delas.
Costurar este emaranhado de interesses olhando de fora é trabalho além das minhas modestas capacidades mas acho que:
a) as montadoras perderam toda a sua força a se desentenderem entre si. E também não tinham tanto café no bule assim pois, caso a caso, nenhuma delas encontra-se numa situação financeira que permita investimentos como os exigidos pela Fórmula 1. Nem dinheiro para a comprar o controle da Slec, a empresa de Bernie, elas tiveram.
b) na hora devida, com o inimigo já entregando os pontos, Max Mosley acertou um regulamento técnico capaz de convencer a Ferrari (que é quem, de fato, chuta a bola em gol) enquanto Bernie Ecclestone aumentava a receita das equipes em US$ 180 milhões anuais – ainda que já tenha armado o bote para repor as perdas com mais corridas no calendário. A Ferrari deve ter ganho um mimo extra para ter aceito a coisa tão fácil assim. Não é de se descartar que a negociação envolva até mesmo a presidência da Fia ou da Fom daqui a alguns anos.
c) a escassez de patrocínios e o fim do dinheiro dos cigarros se encarregaram do resto.
Agora, é torcer para que a nascarização da Fórmula 1 pare por aí.
Abraços (EC)
Eduardo Correa |