UM MAVERICK EM LE MANS

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GP da Alemanha
28/07/2002

Edu,

Eu sei que tem GP da Alemanha neste final de semana e que transformaram o traçado de Hockenheim em mais uma pista comum – ou seja, cheia de curvas lentas e praticamente sem retas longas.

Também sei que a Ferrari anunciou que Barrichello passará a ter carro reserva nas corridas que faltam para o final do campeonato e que o brasileiro tem boas chances de encerrar o ano como vice-campeão.

Mas de Fórmula 1 eu vou falar depois. Hoje vou contar uma história pouco conhecida e dedicar a coluna a três personagens muito especiais. Todos eles são bastante conhecidos pelos leitores do GPtotal. Um deles é nosso amigo Bob Sharp, que volta e meia comparece esclarecer dúvidas técnicas – nossas e dos leitores. Os outros dois são Paulo Gomes, o Paulão, e o saudoso José Carlos Pace.

A história começa em 1975. Naquela época, as coisas eram assim: havia o Campeonato Brasileiro de Divisão 1, uma categoria para carros de turismo nacionais com preparação limitada, que corriam em provas de longa duração. A equipe de Luís Antônio Greco era a mais forte de todas, contando com dois Ford Maverick V8 e apoio da fábrica. No Campeonato Brasileiro de Divisão 3 (corridas curtas disputadas por carros de turismo preparados), a equipe de Greco tinha outro Maverick, pilotado por Paulão.

Naquela temporada, Greco tinha duas duplas “barra-pesada” para as corridas da Divisão 1. Uma era formada por Pace (que naquele ano havia conseguido sua primeira – seria a única – vitória na F 1) e Paulão. O outro carro era pilotado por Bob e por outro personagem bastante conhecido de todos nós: Edgard Mello Filho.

Naquele ano, o campeonato da Divisão 1 teve cinco corridas. Bob/Edgard venceram a primeira, em Brasília. Na segunda, a equipe de Greco não participou por divergências com os dirigentes. As três etapas seguintes foram vencidas por Pace/Paulão, que conquistaram o título nacional na última corrida, derrotando a dupla Aloysio de Andrade/Ricardo Lenz por apenas 1 ponto. Bob/Edgard ficaram em 3º lugar no campeonato. A última corrida do ano foi uma prova extracampeonato, a 25 Horas de Interlagos, vencida pelo trio Pace/Paulão/Bob. De quebra, Paulão conquistou ainda o título da Divisão 3.

Em 1976, Bob conquistou os dois títulos (Divisão 1 e Divisão 3) pilotando os Maverick de Greco. Nesse mesmo ano, o regulamento da 24 Horas de Le Mans passou a admitir a participação de carros de turismo preparados, atraindo várias equipes norte-americanas de Trans-Am e Stock Car. Segundo Bob, surgiu a idéia de levar para a 24 Horas de Le Mans de 1977 o Maverick preparado. “O Maverick preparado teria uns 420 cavalos”, avalia Bob. Claro, não era um carro para derrotar os potentes Porsche 936 turbo ou os Renault A442: a expectativa de Bob, Greco e cia. era medir forças com os carros de turismo americanos, como o Chevrolet Monza e o Ford Torino. Vale lembrar que o motor V8 usado no Maverick era importado dos Estados Unidos. “Estava tudo encaminhado, mas o Moco morreu em março e os planos acabaram ali”, lamenta Bob.

O leitor poderá perguntar: o que um Maverick poderia fazer em Le Mans? “É claro que não seria um carro para ganhar a corrida na geral, mas ele poderia ir bem na categoria dele. Imagino que ele poderia chegar a uns 250 km/h no final da reta Mulsanne”, avalia Bob. “Foi uma pena este projeto não ter virado realidade. Seria a primeira participação de um carro fabricado no Brasil na 24 Horas de Le Mans. Acho que é a única frustração de minha carreira como piloto.”

Bom final de semana a todos,

Panda

GPTotal
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A nossa versão automobílistica do famoso "Carta ao Leitor"

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