“VAI CONTINUAR UMA M…”

WITH A LITTLE HELP FROM OUR FRIENDS
20/10/2003
Piquet na Renault?
24/10/2003

Luis Fernando Ramos

Pois é, todos nos divertimos com uma temporada que trouxe emoções acima do esperado e colocou o alemão Michael Schumacher como o maior campeão da história da categoria. Tivemos sete pilotos de quatro equipes diferentes vencendo corridas, sendo o título decidido apenas na última etapa – pela primeira vez desde o ano 2000. Enfim, um ano para ninguém botar defeito.

Será mesmo? E o regulamento?

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Como o Panda cansou de falar durante o ano, o novo regulamento é um fracasso (eu sei, ele usou outras palavras). Se olharmos uma a uma as novidades introduzidas antes do GP da Austrália deste ano, poderemos constatar que nenhuma delas trouxe um efeito positivo para a categoria. Vamos conferir?

– Nova pontuação: diminuiu o valor da vitória e causou algumas situações absurdas. No Canadá, tivemos nas últimas voltas um trenzinho de quatro pilotos que jamais lutaram por posições, já que a diferença na pontuação diminuiu. E o pior foi ver a atuação embaraçosa de Michael Schumacher em Suzuka para assegurar um título que, pelo sistema antigo, já seria seu. Afinal, me parece injusto contestar a superioridade de alguém que venceu seis corridas diante de um rival que ganhou apenas uma.

– Teste às sextas-feiras: outra bobagem. Por mais que tivessem duas horas a mais para trabalhar no acerto do carro, Minardi, Jordan e Jaguar foram as equipes mais fracas do campeonato (está certo que esta última terminou com mais pontos que a Toyota, mas graças à extrema falta de confiabilidade dos japoneses, que tinham um carro imensamente mais veloz e pouco resistente).

E a Renault venceu uma corrida, mas poderia até ter vencido mais se tivesse testado tanto quanto as outras três equipes de ponta. No fim, desperdiçaram volume de desenvolvimento de um ótimo chassi desenhado por Mike Gascoyne, que agora debandou para a Toyota.

– Fim da pilotagem eletrônica: como um mau político em época de eleição, a FIA anunciou uma medida para agradar à mídia e aos torcedores, para voltar atrás depois. Controle de tração, largada automática e câmbio automático seriam banidos a partir do GP da Inglaterra. Não foram e, pior, devem continuar liberados no ano que vem. Assim, vamos continuar apreciando pilotos como Zsolt Baumgartner e Nicolas Kiesa, que sempre andaram no pelotão do meio da F-3000 mas acabaram não fazendo feio na Fórmula 1 graças às geringonças eletrônicas.

– Pneus de chuva: inicialmente, cada equipe optaria por apenas um tipo de pneus de chuva por corrida. Mas uma tempestade de primavera paulistana serviu para resfrescar a memória dos dirigentes que há diversos tipos de chuva. E o regulamento foi mudado, não sem antes nos proporcionar uma corrida deliciosamente caótica, mas absolutamente fajuta do ponto de vista esportivo.

– Classificação com uma volta lançada: com certeza, a maior besteira inventada pelos dirigentes. Primeiro, porque é um castigo muito duro para quem comete um erro ter de largar em último lugar e há quem diga que Kimi Raikkonen perdeu o campeonato por isso (vide Barcelona e Montreal). Segundo porque vira tudo uma loteria se o clima está variável. A Minardi dominando o treino de sexta-feira em Magny-Cours ou os candidatos ao título largando no meio do bolo em Suzuka são exemplos do absurdo que é esta regra.

E vai ser ainda mais ridículo no ano que vem, já que trouxeram a classificação que era na sexta para o sábado. Se bobear, São Pedro ainda vai colocar uma Minardi na pole-position. O melhor modelo de classificação é o utilizado na DTM, na qual há uma sessão normal de 45 minutos, com todos os pilotos na pista, seguida de uma sessão com uma volta lançada apenas para os dez primeiros colocados. Assim, se alguém erra, sai na pior das hipóteses em 10º lugar. E o efeito da chuva é praticamente eliminado. Mas Max Mosley e Bernie Ecclestone são cabeças duras demais para admitir que outra pessoa teve uma idéia melhor que mereça ser copiada. Neste caso, eles preferem manter a caca mesmo.

– Parque fechado: um regulamento que, na verdade, só serviu para burocratizar o trabalho feito pelas equipes antes da prova. Já no meio do ano, a FIA chegou a aceitar mais de 15 solicitações para mexerem nos carros (ou seja, mais de dois terços do grid). Desde tarefas prosaicas, como limpar a carenagem, até trabalhos extremos, como a troca de um motor ou de engrenagens do câmbio, receberam o selo de aprovação de Charlie Whiting. Perguntar não ofende: isto não fere o espírito do regulamento?

– Ordens de equipe: eram proibidas, foram realizadas discretamente (Coulthard e Raikkonen em Silverstone, por exemplo) e, no final, liberadas oficialmente por Bernie Ecclestone antes do GP dos EUA.

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Pior que um regulamento ruim, é um regulamento que não é respeitado nem por quem o criou. Qualquer certame esportivo precisa, antes de mais nada, estabilidade nas regras para que equipes e atletas possam se preparar para atingir o máximo de performance. Quando elas mudam (e o pior, no meio do campeonato) vira aquele oba-oba que tristemente conhecemos tão bem do nosso futebol, onde um bom advogado vale mais que um bom centroavante.

E o resultado está aí para quem quiser ver. Ou melhor, não ver. Porque os índices de audiência da Fórmula 1 na tevê caíram assustadoramente nesta temporada. E os autódromos receberam menos torcedores. E a questão aqui não foram os domingos quase sem atividades, como pensam os dirigentes. Ninguém é burro para achar que vale mais a pena gastar 400 Euros por um fim de semana no pior lugar de um autódromo do que usar o mesmo dinheiro para passar uma semana inteira num hotel de 3 estrelas em Mallorca ou na Grécia.

Soluções simples, como aumentar a competitividade através de um regulamento que interfira na construção dos carros, o banimento do auxílio eletrônico e/ou diminuir o preço abusivo dos ingressos, não passam pela cabeça oca dos dirigentes.

Se um fisiculturista e canastrão austríaco virou governador da Califórnia, porque um jornalista e mágico amador brasileiro não pode virar presidente da FIA? Entre comigo nesta campanha!

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Amigos internautas, não percam de jeito nenhum a conclusão de um dos melhores campeonatos de todos os tempos. O Mundial de Rali deste ano está de tirar o fôlego e, faltando duas etapas, temos seis pilotos com chances matemáticas (quatro com chances reais) de ganhar o título.

Sempre fui um fã assumido da nova geração de pilotos do WRC, em especial do norueguês Petter Solberg, mas minha torcida nesta reta final está toda com o veteraníssimo Carlos Sainz. O espanhol encarna o que há de melhor em um piloto de rali, aliando experiência, velocidade e espírito de luta. Se fossemos compará-lo à pilotos de Fórmula 1, diria que Sainz é uma mistura de Alain Prost (por ser regular e veloz sem ser espetacular) e Emerson Fittipaldi (por ser paciente e saber atacar na hora certa). Fernando Alonso ainda vai ter que vencer muitos Mundiais de F-1 para chegar aos pés deste que é, sem dúvida, o melhor espanhol sobre quatro rodas em toda a história.

E, adivinhem só, a FIA vai fazer uma revolução no regulamento do WRC para a próxima temporada. Para pior, é claro. “Estão acabando com o nosso esporte porque ameaçamos o sucesso da Fórmula 1”, esbravejou um chefe de equipe que permaneceu anônimo. Quem conhece as táticas de Bernie Ecclestone, sabe que ele não está mentindo.

É uma pena.

Abraços e até a próxima,

Luis Fernando Ramos

GPTotal
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A nossa versão automobílistica do famoso "Carta ao Leitor"

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