Talvez o clássico dos Fórmula 1 dos anos 50, embora tenha vencido apenas 8 GPs oficiais entre 1954 e 1957. A grande vitória de Juan Manuel Fangio na Alemanha, em 1957, foi a bordo de um destes carros. Trata-se da Maserati 250F. Aliás, vale a pena esclarecer: a pronúncia correta é “mazerati” e não “masserati”, como alguns a chamam.
Desenvolvido em 1953, a partir do carro da época, o Maserati modelo A6GCM, o 250F estreou em 1954 com uma vitória na Argentina, com Fangio ao volante. A nova fórmula para 1954 previa motores de 2500 cc aspirados ou de 750 cc com compressor. A fábrica desenvolveu um motor de 6 cilindros em linha de 2,5 litros, vindo daí o nome do modelo (250F=2.5 fórmula). Os outros Maserati da época, carros da categoria “Sport”, eram identificados pela letra S (e qualquer hora vamos falar deles). Foi desenvolvido um chassi de tubos de aço e a carroceria de alumínio foi feita pela Fantuzzi. O motor era alimentado por 3 carburadores duplos de Edoardo WEBER, e o câmbio tinha caixa de 4 marchas.
O primeiro motor entregou 240 cv e foi desenvolvido até 1957, quando chegou a 280 cv. O peso do carro baixou de 670 kg para 630 kg. A suspensão dianteira era a mesma de 1953, mas a traseira ganhou uma ponte De Dion antes do eixo com diferencial e caixa de câmbio juntos. Tinha um cockpit enorme (comum na época), um volante também grande e os pedais dispostos com embreagem na esquerda (nenhuma novidade até aí), acelerador no centro e freio na direita! Coisas da época, carro para “macho man”. Na parte traseira da carroceria ficava o tanque de combustível, para 200 litros. Aliás, era usada como combustível uma mistura de gasolina, metanol (álcool), benzol, acetona e óleo de rícino. A acetona aumentava a octanagem da gasolina; o benzol “acertava” a mistura gasolina/metanol; e o óleo de rícino supria a lubrificação de pistões e outros componentes, que eram “lavados” pelo metanol. Deu pra entender?
Fazia também parte do acerto o tamanho e formato dos tubos de escapamento, que davam mais ou menos torque em baixa, média ou alta rotação, dependendo do circuito. Ia me esquecendo: a queima do óleo de rícino provocava um aroma muito bom, típico dos motores “bravos” da época. Quem esteve em Interlagos nos anos 60 sentiu esse cheiro maravilhoso.
Entre 1954 e 1957 o carro evoluiu muito. Ganhou caixa de 5 marchas, sendo a primeira para a esquerda e para trás, e as outras 4 formando o “H” convencional. A carroceria foi ficando mais baixa e afilada. Basicamente se distinguem os carros de 1954, de 1956 e o de 1957. Este último foi talvez o mais bonito F 1 da época.
Os carros eram produzidos para a equipe oficial e para clientes (muitos!). Todos eram atendidos tecnicamente na fábrica, o que se traduzia numa confusão danada. Apesar disso, em 1957 Fangio ganhou o campeonato para a Maserati, mas a fábrica “quebrou” financeiramente, também em função do múltiplo acidente no GP da Caracas, na Venezuela: quando todos os carros oficiais se envolveram em acidentes. Dois deles bateram entre si, resultando a equipe oficial numa montanha de carros destroçados e incendiados.
Foram produzidos entre 1954 e 1957 os chassis números 2501 até 2535. Alguns carros de 1953 foram transformados em 250F, outros chassis foram remarcados (coisa comum na época), sendo que se conclui que perto de 35 carros foram fabricados. A maioria dos carros era vendida a particulares, e até Stirling Moss pilotou um carro privado em 1954 e 1955 (mas com a permissão da Mercedes Benz, e em provas extra-campeonato) e ganhou duas corridas.
O 250F era um carro (para os padrões da época) fácil de ser pilotado, se comparado com seus contemporâneos (Ferrari, Mercedes, Vanwall etc). A técnica de fazer as curvas “com o motor”, ou seja, induzindo derrapagens controladas através de brutal aceleração disponível, aliada ao uso na época de pneus bem finos, fazia a delícia dos pilotos e dos espectadores. Stirling Moss afirmou que esse carro foi um dos mais prazerosos de guiar, por seu manejo agradável e amável (sic).
No começo de 1957, a Maserati 250F chegou ao limite de desenvolvimento do motor 6 cilindros. Partiu então para um V12, que se mostrou difícil no trato, pois o torque vinha de repente, só em altas rotações, o que tornava o carro quase inviável. Fangio fez tempos piores do que os do 6 cilindros e não andou mais com o carro.Jean Behra (francês, um alucinado da época) e Carlos Menditegui (argentino) correram algumas provas, mas o carro era difícil mesmo. Só um 12 cilindros foi feito, o chassi 2531. Tinha 24 velas e 24 bobinas! O chassi de 1957, com outros melhoramentos, foi chamado de T2 ou “Superleggera”, mas só 3 carros oficiais foram feitos. Houve ainda um modelo chamado Piccolo, mas seu tempo tinha passado.
Hoje um carro desses está em museus (como o de Juan Manuel Fangio, em Balcarce, na Argentina) ou na mão de colecionadores. Um grande clássico.
GPs vencidos. Venceu os seguintes GPs: Argentina e Bélgica, em 1954, com Fangio; Mônaco e Itália, em 1956, com Moss; Argentina, Mônaco, França e Alemanha, em 1957, com Fangio.
Alexandre Zamikhowsky Filho, São Paulo-SP