O QUE OS NÚMEROS DIZEM
No fim da temporada passada, apresentei uma modesta análise dos últimos oito campeões. Ali havia uma tabela com umas percentagens, que pretendiam mostrar as condições em que os pilotos tinham conseguido os seus títulos. A maioria das conclusões que eu fazia correspondiam às percepções generalizadas dos leitores, do que tinha acontecido naqueles anos. Creio que o resultado foi curioso em alguns casos e esclarecedor em outros.
As curiosidades encontradas naquela tabela me animaram a aprofundar ainda mais nos números gerais e tentar ver mais além do que eles mostram à primeira vista. Novamente, o resultado é muito curioso e, em muitos casos, confirma muitas das percepções dos leitores sobre as condições em que os pilotos se desenvolveram nos seus anos de sucesso. Naquele primeiro trabalho, apresentei os resultados de 8 pilotos. Porém, para confirmar a sua coerência, analisei os dados de mais de 20 pilotos. Agora, apresentarei os resultados de 4 pilotos, mas analisei os dados de 8 e , novamente, tudo parece coerente.
Os quatro pilotos escolhidos desta vez são: M. Schumacher, A. Senna, A. Prost e J. Stewart. O alemão, por ser o piloto mais bem sucedido dos últimos anos. Senna, por ser o piloto que, com mais freqüência, é comparado ao alemão. Prost, por ser um tetracampeão, e Stewart, por ser, como o alemão, um piloto que teve total primazia na sua equipe e, como Senna, um tricampeão.
Nesta ocasião, faço uma análise dos anos em que foram campeões e vice-campeões, comparado aos seus máximos rivais. Como rival, considero os pilotos que foram vice-campeões quando estes quatros foram campeões, e vice-versa. Tudo é apresentado em percentagens sobre corridas disputadas e corridas terminadas (descontando abandonos), o que permite uma rápida comparação.
Se são tão amáveis de dar uma olhada nas tabelas, pode ver-se como os números tem muitas coisas a dizer. Mais das que parece haver nos simples números gerais de vitórias, títulos, etc. É só querer escutar o que eles dizem !. Para não me alongar muito, farei resumidos comentários das minhas conclusões:
– Tal como vimos no anterior estudo, e como todos intuíamos, Schumacher é o piloto que teve as condições mais favoráveis para ganhar, pois apresenta o percentagem de abandonos mais baixo ( 16,5% ), enquanto o do seu rival é dos mais altos. Neste quesito, Prost segue o alemão de perto, com Stewart mais atrás. Senna, é o único que, praticamente, não teve nenhuma vantagem desta natureza. Apenas 0,4% ao seu favor.
– Schumacher, também é o piloto que mais benefício obteve dos abandonos do rival. A sua percentagem de vitórias, sobre corridas disputadas, quando o rival tinha abandonado, é o mais alto ( 13,5% ). Para maior beneficio seu, quando ele abandonou, seu rival apresenta uma percentagem muito baixo de vitórias. Neste quesito, Prost, novamente, segue o alemão, e Stewart e Senna são os mais prejudicados. Sobre corridas terminadas, vemos que Prost é o piloto que mais aproveitou a ausência do rival ( 35,8 % das suas vitórias foram conseguidas sem o rival na pista ), Schumacher vem logo depois, seguido de Senna e Stewart. Sendo um pouco simplistas, podemos dizer que Schumacher e Prost são os mais beneficiados pelas desgraças alheias.
– No que se refere à confrontação direta entre o piloto em questão e o seu rival, acoisa muda bastante. Senna, com grande diferença, é quem mais derrotou o rival (28% das corridas terminadas). Considero uma vitória sobre o rival a corrida vencida pelo piloto em questão, com o rival em segunda posição. De fato, mais da metade das vitórias de Senna, foram conseguidas assim (51,8%), enquanto que Schumacher apresenta uma percentagem apenas ligeiramente superior a um terço das suas vitórias. Stewart e Prost vêm atrás dos dois.
– Stewart, é o piloto com o mais baixo percentagem de corridas tendo sido derrotado pelo rival (6,3%), Senna vem depois, seguido de Schumacher e Prost. O francês é, com grande diferença, o piloto mais derrotado pelo rival (muitas dessas derrotas, foram infringidas por Senna).
– Schumacher, é o piloto que apresenta o mais alto percentagem de vitórias sobre corridas terminadas (55,9%). Mas considerando as enormes vantagens que teve, a percentagem deveria ser muito maior. Senna, em condições muito mais desfavoráveis, fica bem perto do alemão e Stewart vem logo atrás.
Só como brincadeira, se fazemos uma classificação entre estes 4 pilotos, concedendo 4 pontos ao primeiro em cada quesito analisado, 3 pontos ao segundo, 2 ao terceiro e 1 ao quarto, temos o seguinte resultado:
– Senna – 24 pontos
– Stewart – 19 pontos
– Schumacher – 17 pontos
– Prost – 10 pontos
É realmente curioso ver como os dois pilotos com os números de vitórias e títulos mais altos, ficam para trás quando tudo é representado de forma homogênea. A interpretação que eu faço é que, o maior número de vitórias e títulos de Schumacher e Prost, é só uma questão de quantidade, não de qualidade.
Devo deixar claro que não sou anti Schumacher ou anti Prost, nem pró Stewart ou Senna. Simplesmente me molesta que, neste caso (ou em qualquer outro) alguém seja elevado acima dos seus próprios merecimentos como, na minha humilde opinião, acontece no caso do alemão.
Se Schumacher tivesse menos vitórias e títulos mas conseguidos em condições menos favoráveis, acho que não haveria nenhuma dúvida sobre o seu talento pois este não seria tão questionado. Eu não me atrevo a dizer que Schumacher ou Prost não mereçam estar entre os grandes pilotos da história. Mas só digo que não merecem estar à frente dessa hipotética lista, por muito impressionantes que sejam os seus números absolutos de vitórias e títulos.
Como curiosidade, se Hakkinen estivesse na classificação acima, também superaria a Prost, e ficaria muito próximo de Schumacher, pois afrontou umas condições até mais adversas que Senna.
Cada um que continue curtindo o seu piloto preferido. Mas, se for possível, sem fanatismo e em harmonia. Como vemos, os números dizem coisas muito interessantes, mas…só são números no fim de contas.
Um abraço,
Manuel Blanco, Valência, Espanha |