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O ALEMÃO

Marcelo Jardim

O menino cresceu vendo aquele sujeito de sobrenome alemão correr. Foi este mesmo sujeito que fez o menino decidir o que fazer da vida, o que ser quando crescer. Ele era seu ídolo. Tinha pôsteres espalhados pelo quarto, réplicas em escala de seu carro, de seu capacete. Sempre que podia estava em Interlagos, acompanhando seu herói.

Tudo isso começou quando ele assistiu o “alemão” ser bicampeão brasileiro da Divisão 3 – categoria 1600 e aumentou ainda mais quando ele foi campeão sul-americano de F2. Era emocionante ver sua tocada firme, sua coragem, seu comprometimento com a vitória.

São Paulo acabou ficando pequena para o garoto. Ele insistia com o pai para vê-lo em Jacarepaguá, em Tarumã, em qualquer outra pista que o “alemão” fosse estar.

Quando seu ídolo foi para Europa, seguindo os passos do já bicampeão mundial, o garoto de longe, ficou acompanhando as conquistas nos campeonatos de Fórmula 3 e de Fórmula 2.

Ficou radiante quando viu o “alemão” ser chamado para testar um Fórmula 1. Não acreditou quando ele, logo em seguida, assinou um contrato promissor por quatro anos, já a partir de 1976. Parecia tudo um sonho. Parecia que tudo estava correndo bem… Mas…

Algo de estranho o garoto sentiu quando o viu largar nas últimas posições no GP Brasil, sua estréia, pertinho dele. Ali, decididamente não era seu lugar, pensou ele. Ao longo desse ano, o garoto não entendeu porque seu herói, com todo aquele talento, não conseguia um carro competitivo para abrir espaço na F1. Por que ele foi preterido na equipe de forma tão dura, tão racional. Para o pequeno fã não importava a pressão dos patrocinadores, da mídia, do governo, de ninguém sobre o primeiro piloto da equipe, na época bicampeão mundial. Ele queria acompanhar seu ídolo, ele queria vê-lo correr.

No ano seguinte, em 1977, o garoto foi a Interlagos ver o “alemão” largar em 19o no grid e terminar em 7o, lentamente, com um pneu furado. Não agüentou. Foi preciso seu pai tirá-lo de lá, chorando. O garoto sentia que ali a Fórmula 1 acabava para o seu herói.

Mas teimoso que era, o fã preferiu acreditar que a F1 não estava preparada para o talento do “alemão”. Sabia que se tivesse um carro competitivo, seu ídolo poderia correr como os outros, poderia disputar campeonatos e ganhá-los, pois ele tinha a chamada “verve de campeão”.

Mas… o tempo passa, e o melhor ainda estava por vir. O “alemão”, retornando de sua passagem pela Europa, começa a disputar a novíssima categoria de turismo brasileira, chamada Stock Car, categoria que com o passar dos anos tornaria seu sinônimo, sua referência.

E lá foi o garoto, agora um pouco mais velho, para a primeira corrida do campeonato no Autódromo de Tarumã em 1979, acompanhar seu herói, renascido, revigorado, pilotando aqueles Opalas com motores de 6 cilindros com a mesma determinação, a mesma alegria, a mesma fibra que o fez ser o que é: um vitorioso.

A partir daquele ano, foi emocionante ver o “alemão” campeão em 80 e 85 naqueles Opalas. Foi de arrepiar a conquista de 89 naquela Carenagem Caio. Comemorou como criança a seqüência maravilhosa de 90, 91, 92 e 93 nos protótipos Opalas e as conquistas de 94, 96, 97 e 98 nos Omegas. E vibrou como nunca antes com o título de 2000 com a carenagem do Vectra. Foram 12 indescritíveis títulos. 12 inesquecíveis conquistas.

Hoje, o garoto tornou-se homem. Estava sentado nas arquibancadas do Autódromo de Jacarepaguá com seus 2 filhos. Voltou a se emocionar com mais uma vitória de seu herói, agora com 51 anos bem vividos e bem corridos. Para aquele pai, a história não estava sendo feita lá na Europa, na F1, pelo outro alemão, mas sim aqui, nos autódromos brasileiros. A história estava sendo escrita a quatro rodas, por esse gênio do volante chamado INGO HOFFMANN.

Forte abraços a todos,

Marcelo Jardim
GPTotal
GPTotal
A nossa versão automobílistica do famoso "Carta ao Leitor"

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