O WILLIAMS DE SEIS RODAS
– Por Manuel Blanco
A aparição do Tyrrell P34 de 1976 parecia dar inicio à era dos carros de 6 rodas na Fórmula 1. Porém, a Goodyear não estava muito entusiasmada com a idéia de fazer pneus especiais e, temendo que outras equipes acabassem construindo carros que também precisassem pneus fora do comum, tomou a decisão mais fácil e conveniente para si: disse que não forneceria pneus especiais. Isto foi o fim do P34.
Em 1977, a March também começou a trabalhar num carro de 6 rodas, mas, neste caso, 4 estavam na traseira e eram motrizes e todos os pneus eram iguais aos usados nas rodas dianteiras da época. O carro não acabou sendo totalmente desenvolvido por falta de recursos e, principalmente, pelo advento do carro asa, cujo enorme sucesso marcou o caminho a seguir nos anos sucessivos.
Um dos engenheiros que mais soube aproveitar o efeito solo dos carros asa foi Patrick Head da Williams, mas a FIA pretendia proibi-los. Em 1981, antecipando-se à eventual proibição, Head começou a trabalhar num jeito de melhorar a aerodinâmica dos seus carros e ganhar mais tração e aderência. Aquele March de 1981 foi a sua inspiração mesmo que em 1947 outro carro com similar configuração já tivesse participado nas 500 Milhas de Indianapolis. Segundo Head, os enormes pneus traseiros eram responsáveis por aproximademante 40% do arrasto total do carro – portanto, reduzindo o seu tamanho, reduzia o arrasto. A estabilidade era beneficiada graças a uma melhor distribuição do peso e à maior área de contato com o chão que as duas rodas extras proporcionavam. Além disso, a FIA claramente favorecia os interesses dos grandes fabricantes, que estavam investindo forte nos motores turbo – e Head sabia que as escuderias que corriam com os Cosworth logo seriam superadas. Portanto, o “seis rodas” parecia a única opção possível.
Tudo ficou perfeitamente comprovado quando a temporada de 1981 acabou e começaram os testes com um FW07 modificado para receber 6 rodas. Alan Jones ficou admirado pelo que ele mesmo descreveu como “aceleração de foguete e aderência descomunal”. Head começou de imediato a trabalhar no carro de 1982 segundo o conceito das 6 rodas. Com a ajuda de Frank Dearnie, desenhou o carro como uma lógica evoluçao daquele experimental FW07.
O novo carro, cujo código passou a ser FW08, tinha uma curta distância entre eixos, que lhe dava uma aparência muito compacta, e a sua aerodinâmica tinha sido muito melhorada, tanto que nem precisava do aerofólio dianteiro, pois os pequenos pneus traseiros deixavam que o fluxo nos túneis laterais causadores do efeito solo fosse muito mais limpo. Porém, a FIA acabou rebaixando o peso mínimo dos carros para 1982 até os 580 kg, e o FW08 resultava muito pesado com o seu terceiro eixo. Para poder competir com carros mais leves, era necessário reduzir o seu peso, tarefa à qual a equipe dedicou-se imediatamente. Mas, como o inicio da temporada já era iminente, tiveram que recorrer ao velho FW07 enquanto continuava-se trabalhando no FW08.
Head, vendo a impossibilidade de acabar o desenvolvimento do “seis rodas” num período curto de tempo, tomou uma drástica decisão: improvisou um carro a partir do FW08, substituindo o eixo duplo da traseira por um convencional de duas rodas, o que reduziu bastante o peso do carro. Assim nasceu o FW08C, que estreou na Bélgica com o segundo lugar conseguido por Rosberg, depois de liderar praticamente toda a corrida. Keke passou a ser o primeiro piloto da equipe depois da retirada de Carlos Reutemann após o GP do Brasil. O FW08C apresentava um comportamento estranho, que requeria do piloto um grande cuidado e mimo no seu manejo. Mas, contra todos o prognósticos, Rosberg acabaria proclamando-se compeão com aquele carro, apesar de a Williams não ter conseguido mais que o quarto lugar no campeonato de construtores.
Enquanto a temporada avançava, Head seguia trabalhando no “verdadeiro” FW08 e as melhoras eram notáveis. Nos testes em Silverstone e Donington Park, Rosberg conseguiu tempos que não foram superados em mais de uma década e tudo parecia indicar que o FW08 seria imbatível em 1983. Mas a FIA, como se esperava, proibiu os carro asa e, inesperadamente, também os carros com mais de quatro rodas. Depois dos acidentes de Villeneuve, Pironi, Paletti etc, a FIA vinha sendo acusada de passividade ao permitir a escalada de velocidade dos carros e, perante as notícias dos fantásticos tempos de Rosberg, parece que assustaram-se e tomaram a decisão mais fácil: proibir tudo.
Assim, o FW08C passou à história como o último carro equipado com motor Cosworth a dar ao seu piloto o título de campeão, apesar de ser um “carro com duas rodas menos”.
Manuel Blanco, Valencia, Espanha |