Visitando as raízes, final

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Indy: o circo cruza o Atlântico para a fase final do campeonato.

Watkins Glen, 3,4 km de extensão, recebe o circo para o nono e penúltimo GP.

Graham tinha vencido esse GP no ano anterior mas agora a pista estava recapeada.

Os organizadores, The Watkins Glen Grand Prix Corporation, estavam tão satisfeitos com o resultado que criaram um prêmio extra: 120 garrafas de champanhe para o primeiro piloto que quebrasse a barreira das 120 mph. Em quilômetros significa 193 km/h, cumprir a volta em 1:08.9.

Certamente não foi esse o motivo que fez a Ferrari trazer 4 carros para seus dois pilotos.

A novidade é que eles estavam pintados nas cores nacionais dos Estados Unidos, azul e branco, porque inscritos pela N. A. R. T. – North American Racing Team – equipe pertencente a Luigi Chinetti. Este era ex-piloto, responsável pela primeira vitória da marca em Le Mans e tinha se tornado o principal revendedor da Ferrari nos Estados Unidos. O Comendador estivera brigando com as autoridades esportivas italianas por causa da homologação da 250LM e por isso não podia competir oficialmente enquanto o imbroglio persistisse.

Um desses carros era a 1512, portanto era verdade que a Scuderia tinha desenvolvido um motor 1,5L de 12 cilindros.

Indy: certamente a equipe ainda não tinha confiança no carro, porque escalou Bandini para correr com ele, evitando riscos para John.

A Lotus trouxe o habitual 25 e um 33 para Jim escolher. Jim treinou com o 25 enquanto o 33 era aprontado e, não tendo andado o suficiente para ganhar confiança nesse modelo, optou por continuar com o antigo. Suficiente para conquistar a pole, com 1:12.65, mas não para atingir a média imaginada pelos organizadores. Portanto ninguém levou as 120 garrafas de champanhe, embora o recorde de Graham, do ano anterior, tenha sido batido.

John marcou 1:12.78, Dan 1:12.90, Graham 1:12.92. Na casa de 1:13 classificaram Bruce, Mike, Jack e Lorenzo. Inaugurando a casa dos 1:14 vieram Jo e Innes, fechando os 10 primeiros.

O domingo, 4 de outubro, amanheceu ensolarado, quente, com brisas frias ocasionais.

Formação do grid 2-2-2.

Jim larga na frente, mas logo é ultrapassado por John e, surpresa, seu colega de equipe. Antes de completar a primeira volta, Graham também passa por ele.

A seguir vinham Jack, Innes (outra surpresa), Dan e Bruce.

Correndo em casa, Dan tinha mais é que ir para o ataque, e logo passa Innes e o chefe.

Mais à frente Graham ultrapassa Mike, assumindo o segundo lugar na volta 5. Jim parece ter acordado e inicia uma caçada, passando os dois na volta seguinte e partindo para cima de John. Consegue passar na volta 13, na saída da curva que antecede os boxes.

Dan passa Spence e vai atrás de Graham, mas este também ataca e passa John na volta 31.

Na volta 40 o motor de Jim começa a falhar, com problemas de injeção de combustível, e ele é obrigado a entrar nos boxes quatro voltas depois, deixando o caminho livre para John, Graham e Dan. Na volta seguinte Graham passa novamente John.

Enquanto isso a equipe Lotus devolve Jim à pista em último lugar após 2 voltas, mas a injeção continua falhando e Jim entra novamente após 6 voltas. Como na época de Fangio, o regulamento ainda permitia que pilotos trocassem de carro, então Colin chama Mike aos boxes e Jim toma o carro do colega. Parece pouco esportivo com os pilotos, mas o objetivo das equipes era obter o máximo numero de pontos possível e, logicamente, ninguém melhor que Jim para tentar operar o milagre.

Na volta 61 Graham, John e Dan se aproximam de Richie. Graham passa logo mas o segundo BRM parece ter um dispositivo que alarga os semi-eixos de repente, e a dupla tem que suar para passar o colega de Graham. Conseguem isso na volta seguinte, mas obviamente perderam terreno para o líder.

Tentando diminuir a distância John roda na volta 64 ao ultrapassar um retardatário.

Prejuízo zero, porque consegue retornar logo e Dan abandona com o motor quebrado, pressão do óleo inexistente, na volta 69.

Clark assume a terceira posição e vem descontando um segundo por volta em relação a Graham, até que fica sem combustível na volta 102, problemas na bomba de combustível, faltando 8 para o fim da prova. A título de consolo marca a melhor volta, a 81, 1:12.7.

Indy: favoritos fora, quem seriam as zebras oportunistas?

Jo Siffert sobe ao pódio com Graham e John.

Em quarto, Richie, seguido pelo também americano Walt Hansgen, com a terceira Lotus-Clímax de fábrica, e Trevor Taylor, com a segunda BRP-BRM.

Sendo um GP americano, natural que as equipes oferecessem carros para pilotos dessa nacionalidade. Podiam obter um faturamento extra direto e ajudar a aumentar a audiência.

A. J. Foyt teve uma BRM à sua disposição mas preferiu não correr. Hap Sharp, o sócio de Jim Hall na Chaparral, alinhou com uma Brabham-BRM da Rob Walker mas cumpriu apenas 65 voltas.

Phill Hill reassumiu uma Cooper-Clímax mas quebrou a ignição na 4a. volta.

Bucknum teve o motor de seu Honda quebrado na volta 50.

Campeonato de pilotos. Nesta época os pilotos eram obrigados a descartar pontos, valiam somente os 6 melhores resultados, então Graham podia contabilizar somente 39 pontos dos 41 obtidos até o momento. Com o segundo lugar John alcançava 34. Jim zerou novamente, portanto se manteve nos 30. Richie subiu para 23 e Lorenzo, tendo abandonado na volta 58 por causa do motor, permaneceu com 19.

E chegam ao México.

Uma coisa era certa, o título de pilotos ficaria com a Grã-Bretanha, restando ver se seria Escócia ou Inglaterra.

O escocês era o que tinha menos chances matemáticas, precisando ganhar e os dois ingleses chegarem abaixo de terceiro e quarto. Em um campeonato com tantas quebras, ele jamais poderia ser descartado.

John precisava de um primeiro ou segundo, com Graham no máximo com um quarto, Jim mais atrás. Graham tinha sido o mais regular na colheita de pontos, o que de certa forma era punido pelo regulamento, porque eventualmente o obrigaria a descartar pontos preciosos. Só os seis melhores resultados valiam. Como Jim e John tinham abandonado mais vezes, não teriam esse problema, o que é um contra-senso na medida em que existiam prêmios de chegada. De um lado o sistema incentivava que os carros terminassem as corridas, de outro obrigava quem chegava nos pontos na maioria das corridas a jogar fora eventuais bons resultados.

A Ferrari, graças à evolução vista nos três últimos GPs, também estava no jogo para levar o título de construtores, liderando por um ponto, uma vez que BRM e Lotus também tinham que descartar resultados.

Jim faz a pole com a 33, 1:57.24, sendo o único a baixar de 1:58.

Dan vem a seguir, com 1:58.10, um Bandini surpreendendo com a 1512, com 1:58.60, e John com 1:58:70 com a 158. Mike faz 1:59.21, Graham não passa de 1:59.90, e Jack de 1:59.99.

Jo Bonnier abre a casa dos 2:00, marcando 2:00.17. Pedro Rodriguez aparece em seguida, com a terceira Ferrari (156), 2:00.90 e Bruce fecha a 10a. posição com 2:01.12.

Um outro piloto mexicano, Moises Solana, participa com uma Lotus-Clímax, largando em 14º.

Hap Sharp deve ter gostado da experiência no GP dos Estados Unidos, porque resolve participar deste outro, com a Brabham-BRM.

25 de outubro, pista de 5 km, 65 voltas, formação do grid 2-2-2.

Jim assume a ponta, seguido por Dan e Lorenzo. Parece que os deuses dos autódromos conspiram a seu favor, porque Graham tem o elástico de seus óculos de proteção arrebentado justo antes da largada e passa em 10º na primeira volta. Muito mais preocupante que isso, o motor de John falha miseravelmente e ele passa em 13º. Mas Graham logo se ajeita e começa a escalar o pelotão. Miraculosamente o motor Ferrari V8 volta a funcionar normalmente e John também parte para o ataque.

Na volta 12 Graham consegue passar Lorenzo e alcança o estratégico terceiro lugar.

Mas Lorenzo não dá sossego a Graham e na volta 31 acaba batendo na traseira do BRM, na saída do grampo, de modo que este acaba rodando. Foi de propósito ou não? Como não haviam fiscais nem comissários como os de hoje, ficou por isso mesmo.

Indy: alguém ainda teria coragem de perguntar a Il Grande John se esse toque foi sem querer? Dos três envolvidos ele é o único sobrevivente.

httpv://www.youtube.com/watch?v=_WCZJrrfY3E

Mas o prejuízo de Graham foi considerável porque perdeu posições e potência, devido a um cano de escape quebrado. Ele precisa ir para os boxes e com isso se atrasa novamente.

A ordem agora era Clark, Dan, Lorenzo, John.

A Ferrari se dá conta de que mantidas essas posições Graham será o campeão e passa a sinalizar freneticamente para Lorenzo abrir passagem. O flat 12 se mostra mais rápido que o V8 mas Lorenzo obedece a ordem, cedendo o segundo lugar.

Clark segue na ponta, para o que parece ser mais um título, mas faltando sete voltas seu motor começa a perder óleo. Na penúltima volta o Clímax entrega os pontos. Dan herda a ponta, seguido por John e Lorenzo, com Graham fora da zona dos pontos.

John é o campeão, com um simples ponto a mais que Graham.

Mike chega em quarto, Clark mantém o quinto mesmo tendo abandonado, Pedro Rodriguez fecha a zona de pontos. Jim faz novamente a volta mais rápida, 1:58.37.

Termina assim o campeonato de pilotos: John 40 pontos, Graham 39 (descartando 2), Jim 32, Lorenzo e Richie 23 (os cinco mais bem colocados).

Indy: se não houvesse o sistema de descartes, Graham teria sido campeão inconteste, mesmo tendo menos vitórias.

A Ferrari também conquista o título de construtores, com 45 pontos (descartando 4), contra BRM com 42 (descartando 9) e a Lotus 37 (descartando 3).

Quadro-resumo dos pilotos e seus problemas mecânicos:

Montecarlo: Jim motor, John, Lorenzo e Dan cambio, Jack ignição.

Holanda: Jack e Lorenzo ignição, Dan direção.

Bélgica:  Hill bomba de combustível, Dan tanque seco, John e Lorenzo motor, Peter superaquecimento.

França: Jim e John, motor.

GB: nenhum dos favoritos quebra.

Alemanha: Jim motor, Jack diferencial.

Austria: Dan suspensão, Mike e Jim semi-eixo, John suspensão, Hill distribuidor.

Italia: Dan bateria, Jack e Jim motor, Hill embreagem.

USA: Jim sistema de injeção de combustível e tanque vazio, Dan pressão de óleo (motor).

Mexico: Jim motor, Jack problemas elétricos.

Indy: Hamilton reclamou de motores quebrados? Jim teve 5 motores quebrados em 10 GPs. Mais uma quebra do sistema de injeção e problemas num semi-eixo e ele fica para trás em mais duas corridas. 7 problemas sobre 10 GPs. Mesmo assim podia ter sido campeão no último GP.

Seu colega Peter teve problemas de superaquecimento (uma vez) e o substituto Mike também só teve problemas uma vez, coincidentemente o mesmo de Jim, semi-eixo. Ou seja, dos favoritos Jim foi o que mais quebrou.

Graham teve problemas de bomba de combustível e embreagem, e levou uma batida. 3/10 GPs. Por isso foi o mais regular. Como seu colega Richie não quebrou nenhuma vez, fica claro que a BRM era o carro mais confiável em 64.

John teve problemas de cambio, motor (2x) e suspensão, 4/10 GPs. Lorenzo cambio, ignição, motor, 3/10 GPs.

Dan teve problemas de cambio, direção, tanque seco, suspensão, bateria e motor. Prejudicado em 6 sobre 10 GPs, perde apenas para Jim nesse quesito. Jack contabilizou problemas de ignição (2x), diferencial, motor, eletricidade, 5/10 GPs. 

Mais comparações com a temporada 2016? Fique à vontade.

Carlos Chiesa
Carlos Chiesa
Publicitário, criou campanhas para VW, Ford e Fiat. Ganhou inúmeros prêmios nessa atividade, inclusive 2 Grand Prix. Acompanha F1 desde os primeiros sucessos do Emerson Fittipaldi.

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