3 x 3

Forma e Função
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Em Abu Dhabi a 3ª prova em busca do Tri. O campeonato emenda uma dobradinha de corridas para o campeonato não esfriar.

Mais um final de semana seguido de Fórmula -1. Sempre um momento delicioso, ainda mais no final do campeonato. A tensão não arrefece. A pressão continua no ar e não precisamos esperar dias e mais dias para ver o próximo capitulo.

Chegamos a Abu Dhabi depois de Vettel aplicar um golpe dolorido em Alonso na India. Um vitória de ponta a ponta, sem sustos, sem ameaças. A Ferrari com um carro que não acompanha o desenvolvimento da Red Bull precisa que o mágico Alonso faça o melhor da sua magia para não tornar o título de pilotos impossível.

É a 3º prova do “minicampeonato” de 5 provas que os dois protagonistas desenharam para esse fim de temporada. A 3 prova rumo ao 3º título.

Abu Dhabi. Ahhhh Abu Dhabi. Quando você sai de casa para ir a um shopping center procura comodidade. Um estacionamento bom. Ar condicionado na temperatura ideal. Abrigo da chuva. Procura conforto! Você releva o fato de ter outros passeios interessantes, mais divertidos até. Pois bem, essa é a sensação de estar em Abu Dhabi. Tudo confortável. Tudo limpinho e cheiroso, as melhores instalações da F1 na opinião de 10 em 10 pilotos. Mas o circuito é a aquela coisa chata de sempre criada pelo senhor Tilke. A Pirelli define bem Abu Dhabi e sua escolha por testar lá: é uma pista que tem todo tipo de curva e situação necessária para testar por completo um pneu. Uma salada. Sem harmonia, sem ritmo, sem fluência. Como preparar um arroz com todos os temperos disponíveis em seu armário, só pelo prazer de usá-los.

São 21 curvas e duas grandes retas de aceleração plena. Novamente, duas zonas de DRS para tentar o impossível: ultrapassar. Logo após os dois trechos retilíneos, um miolo travado com sequencia de troca de lados. Os pneus pra essa corrida serão os Médios e Macios. Uma opção conservadora da Pirelli. O único ponto crítico para uma boa volta (no caso dos pneus) é uma boa tração. Nesse ponto as equipe tem um duro trabalho nos treinos para ajustar os pneus para a janela certa de temperatura de funcionamento. A corrida começa ao entardecer e termina de noite. Em um deserto essa mudança de temperatura é bastante significativa e compromete a performance do pneu. Segundo Lucas di Grassi – que testou esses pneus infinitas vezes nessa pista – um setup muito bem feito pode trazer os tempos de volta entre os dois pneus bastante próximos, sem degradação excessiva, permitindo muitas variáveis na estratégia. Esse fator (performances proximas e baixo consumo de pneu) pode trazer de volta uma situação destacada por Hamilton no final da prova da Índia: ele conseguia tirar 100% do carro sem que os pneus acabassem. Um fato raro esse ano, uma corrida como os tempos “antigos” de Bridgestone.

Ainda na área de acerto, Tilke proporcionou um circuito com duas gigantes retas que necessita de um setup aerodinâmico muito próximo a Mônaco. Isso mesmo. Duas retas gigantes e um setup próximo a Mônaco. Palavras do time técnico da Lotus, não minhas. Entre as curvas 11 e 21 todas as curvas são de baixa velocidade, muitas feitas em 2º (!) marcha. Também é necessário encontrar um bom ajuste de suspensão, firme o suficiente para ter um bom contorno das “chicanes” 8-9 e 11-13, e macio para usar bem as zembras, especialmente altas nessa pista.

Novamente, os times de ponta prometem atualizações para seus carros. Não serão grandes atualizações, devido a falta de tempo entre as duas corridas, mas nessa altura do campeonato qualquer novidade que traga alguns décimos é fundamental. Não lembro de um ritmo de desenvolvimento tão intenso na reta final do campeonato como o visto esse ano. Talvez seja só uma impressão ou talvez as equipes passaram a divulgar mais esse tipo de informação pra gerar interesse do público.

A Red Bull traz pequenas evoluções do carro. Tudo dentro do planejamento do gênio Newey. Conta a favor o ótimo retrospecto do carro nessa pista. Se nada acontecer de errado (quebras, batidas, Grosjeans), o domínio da Red Bull deve ser mantido. Não custa lembrar que, mesmo sem o difusor soprado, o chassi básico é o mesmo do ano passado. Aderência mecânica e equilíbrio estão garantidos.

Alonso promete a dedicação de sempre e ressalta que será importante chegar na frente de Vettel desde já. A Ferrari vem com pequenas atualizações que devem aproximar um pouco o time da Red Bull, mas Alonso mesmo já sabe que só vai aproximar, não vai igualar ou superar. Aqui vai depender da sorte e do braço. O foco de Alonso é manter a distância para Vettel aceitável até o Brasil. Aqui em Interlagos está previsto um novo pacote de atualização do carro, mais completo, que promete trazer a Ferrari pra frente do grid. Alonso tem que manter a distância em um nível que não dependa de um abandono de Vettel no Brasil pra ele ser campeão. Esse é o último fio de esperança do asturiano. Massa vai ter que se esforçar mais e começar a andar colado em Alonso. Se Alonso chegar a frente de Vettel, é importante Massa estar imediatamente atrás para roubar pontos do alemão.

Na McLaren o clima de fim de ano continua. Todo mundo acha o carro ótimo, tá tudo certo, a gente não disputa mais nada mesmo e vamos nos divertir. Há traços de resignação por ter saído da disputa tão cedo, mas acontece.

A Lotus vem animada. O carro continua com atualizações e seu principal piloto tem contrato por mais um ano. Raikkonen realmente parece se divertir nesse time e vem fazendo um campeonato muito bom. Resta saber como será o carro preto para 2013! Para Abu Dhabi, as atualizações do time visam a classificação. Largar bem tem sido o grande problema da Lotus esse ano e é fundamental uma boa possição no grid para conseguir um pódio ou ficar em condição de vitória caso haja algum imprevisto com os favoritos.

Na turma do meio e do fundo, a salada de sempre. Todo mundo tentando se provar para ganhar alguns pontos. Os ritmo de desenvolvimento quase parou e agora a variação de resultados depende mais de adaptação dos carros a cada traçado. Nada genial ou surpreendente deve acontecer. Há chances de um bom desempenho da Williams, com Maldonado, por conta do seu bom retrospecto em pistas como Monaco, Singapura e Valencia.

Pra dar um pouco de emoção no jornalismo, o mercado de pilotos está animado.

Toro Rosso vai manter a dupla de pilotos. Sem testes, sem chances de treinar, a melhor coisa a fazer é dar mais um tempo para os meninos. Não são gênios, mas vem fazendo um bom trabalho dentro do fraco carro que a STR trouxe para esse ano.

A histórica Sauber levou o promissor Nico Hulkenberg. Confirmou todos os boatos. Nessa troca acredito que a Sauber é a maior vencedora. Para Nico talvez envolva sobrar algum dinheiro dos patrocinadores no bolso, mas os carros se equivalem ali no meio do grid.

A Williams vai de Bottas. O finlandês vem pra substituir Senna. O anúncio oficial só deve ocorrer depois da corrida no Brasil, mas o brasileiro não fez nada que justificasse sua permanência além do cheque milionário. É melhor apostar no jovem e rápido Bottas. Senna precisaria de um desempenho muito forte o ano todo para ficar na Williams, ninguém deu o carro todas as sextas para Bottas por prazer. É clara a preparação para correr em 2013 e era a missão de Senna provar para o time que ele era indispensável. Para complicar o companheiro pagante e financiador da equipe ganhou uma corrida.

Para Senna e Kobayashi, as portas estão bem fechadas. Não há bons lugares. O lugar ainda indefinido da Sauber deve ser do México. Na Force India existe uma briga de foice pela vaga. A equipe jura que quer um piloto rápido e o “mercado” jura que ela precisa de dinheiro. Senna não tem tanto assim. Kobayashi, nenhum. E aí que a coisa se complica pros dois, não foram mais rápidos que seus companheiros durante o ano e não trazem grandes somas. Para piorar, há a presença constante de Alguersuari no paddock com muito dinheiro e muita vontade de correr. Talvez sobrem as nanicas. Catherham, Marussia e HRT não definiram seus pilotos pra 2013, mas prefiro ver Senna disputando Le Mans do que voltar pra HRT.

Como estão as equipes com pilotos para 2013:

RBR – Vettel | Webber
Ferrari – Alonso | Massa
McLaren – Button | Pérez
Mercedes – Hamilton | Rosberg
Lotus – Raikkonen | Grosjean
Sauber – Hülkenberg
Force India – Di Resta
STR – Vergne | Ricciardo
Williams – Maldonado | Bottas

A corrida de Abu Dhabi continua a jornada de 5 “partidas” pelo tricampeonato. A 3º prova será emocionante pelas variáveis que serão acrescentadas na disputa. Na pista, devemos ver mais um jogo de xadrez do que um thriller de ação. Traduzindo, sem falsas expectativas: ninguém vai passar ninguém.

Mesmo sendo um jogo de estratégias, não há como perder!

Abraços,
Flaviz Guerra – @Flaviz

Informações da Pista
Dimensão:
5.554 km
Voltas: 55
Distancia:
305.355 km
Volta mais Rápida*:
1:40.279 – S Vettel (2009)
Circuito da India
*Volta mais rápida em corrida
Flaviz Guerra
Flaviz Guerra
Apaixonado por automobilismo de todos os tipos, colabora com o GPTotal desde 2004 com sua visão sobre a temporada da F1.

7 Comments

  1. Flaviz disse:

    Parece que me enganei e não tivemos uma corrida de estratégia pura!
    Sorte nossa! que campeonato incrível ( :

  2. Fernando marques disse:

    Será que a sorte lembrou do Alonso novamente?

    Fernando Marques
    Niterói RJ

  3. Sandro disse:

    Concordo! Yas Marina: um autodromo que mais parece um shopping center. O nome da corrida deveria ser “The Lexotan Grand Prix”! Que pista chata, insossa, sonolenta. Mais uma obra-prima de Hermann Tilke! 🙁

  4. Lucas dos Santos disse:

    Olá Flaviz,

    Abu Dhabi realmente está longe de ser uma pista interessante, mas eu notei que depois da adoção do DRS as corridas melhoraram muito por lá. Aliás, esse negócio de DRS é bastante curioso: algumas pistas definitivamente não precisam dele – Montreal, por exemplo – outras dependem totalmente do aparato, como é o caso de Abu Dhabi.

    Lembro-me de que, antes do DRS se falava em fazer mudanças importantes no traçado para ver se isso traria mais ultrapassagens, mas o uso da asa móvel trouxe resultados aceitáveis o suficiente para “engavetar” essa ideia.

    E não tenho como me esquecer da corrida de estréia em Yas Marina: ninguém passou ninguém e ninguém sequer conseguiu alcançar ou se distanciar dos demais. O líder da corrida não colocou volta em ninguém, o que era bastante difícil acontecer, mesmo em uma época em que as equipes nanicas não existiam. Sem falar do momento em que a transmissão da TV ficou fixa na câmera onboard da Toyota do Kobayashi por voltas a fio, pois não havia nada de interessante acontecendo na pista!

    Se compararmos essa primeira corrida com a corrida do ano passado, podemos concluir que Abu Dhabi evoluiu muito. Mas concordo que a pista é bem sem-graça, no que diz respeito ao traçado. Tiver a chance de “correr” nela no jogo F1 2012 e não a achei nada divertida. Aquela chicane no fim da primeira reta e aquelas inúmeras curvas de 90 graus no terceiro setor são extremamente chatas de fazer. Velocidade mesmo, só nas retas.

    • Flaviz disse:

      Lucas,
      Repare, no mesmo F1 2012 que todas as pistas “chatas” são do Tilke. A “coisa não flui”! É uma briga no joystick.

  5. Tassio Bruno Silva disse:

    Eu tenho uma opinião estapafúrdia mas ao mesmo tempo, lógica.
    As equipes precisam de patrocino, correto? Mas grandes empresas nao vão patrocinar equipes que não tiverem bons pilotos/bons carros, pq essas nao geram bons resultados, oq daria melhor visualização às suas respectivas marcas.

    Logo, o logico seria investir num carro competitivo junto a pilotos q pudessem levar a equipe a uma posição de destaque, o q garantiria bons patrocínios. Penso assim pq esses “pilotos pagos” vem e vão, vão e vem. Deixam as equipes na mesma situação — ou seja, precisando de novos “pilotos pagos” e não ha claro, um aumento na competitividade.

    A pergunta óbvia seria, “da onde sairia o dinheiro inicial no desenvolvimento de um bom carro antes de de todo este processo?”. Esse é o dilema. Se alguém poder responder [nas próprias equipes] veremos cada vez mais equipes de boas e competitivas nos proximos anos.

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