Pilotos e Jogadores III

Na tela da TV, no meio desse povo …
07/12/2015
Incompreendidos
11/12/2015

Mais comparações entre pilotos da F1 e jogadores: se atuasse no futebol, quem Felipe Massa seria? E o atual campeão Lewis Hamilton?

Em 2012, fiz um exercício de analogia unindo duas paixões: fórmula 1 e futebol. Dois dos esportes mais populares e apaixonantes do mundo, e duas fontes inesgotáveis de personagens históricos, folclóricos e únicos.

Foram duas colunas: na primeira delas comparei, por exemplo, Schumacher a Romário, e na segunda apontei semelhanças entre Fittipaldi e Eusébio.

Num dos textos falei que Sebastian Vettel era o perfeito par de Lionel Messi. Assim, nada mais lógico que o correspondente de Lewis Hamilton no futebol seja Cristiano Ronaldo.

Assim como entre o alemão e o argentino há uma coincidência de datas (apenas duas semanas os separam na história), entre o britânico e o português isso acontece: ambos de 1985, Hamilton aniversaria em 7 de janeiro, e menos de um mês depois (05/fev) Cristiano celebra o aniversário.

Cristiano e Hamilton são mais garotos propaganda do que Messi e Vettel, parecem muito mais preocupados com a estética, são muito mais engajados nas redes sociais (ninguém do ramo tem mais “seguidores”), e também são mais notícia em tablóides por conta de seus relacionamentos com beldades/famosidades — enquanto que seus antagonistas preferem a discrição.

Por fim, nos campos e pistas LH44 e CR7 se assemelham por conta da obsessão em treinamentos e por parecerem estar sempre se lapidando – enquanto que Sebastian e Lionel fazem mais o tipo do talento natural.

O grande adversário de Lewis Hamilton nas duas últimas temporadas, e provavelmente também em 2016, é uma espécie de David Beckham da F1.

A imagem de Nico Rosberg não chega nem perto do reconhecimento que Beckham tem, mas ambos se assemelham por algumas razões: suas características físicas chamam mais atenção do que o talento, e as oportunidades que tiveram parecem maiores do que tudo que fizeram: Beckham jogou por Manchester United e Real Madrid, e Nico só pilotou por Williams e Mercedes.

Quando ambos estiveram diante dos maiores desafios de suas carreiras, não corresponderam: o gol do empate brasileiro diante da Inglaterra na Copa de 2002 nasceu de uma bola que Beckham não quis disputar, e quantas vezes Hamilton precisou somente de uma curva para vencer GPs?

httpv://youtu.be/WzJQjPnfUhs

Mas em situações sem pressão ou onde há pouco em jogo, brilha(va)m: Nico está com 6 poles e 3 vitórias seguidas, e Beckham foi um dos melhores cobradores de falta que o mundo já viu.

Já que citamos Cristiano e Messi, falta o terceiro indicado à Bola de Ouro deste ano: Neymar não tem um correspondente na F1, mas na MotoGP: Marc Márquez.

Com um ano de diferença e fazendo aniversários separados por doze dias (Neymar 05/02, Marc 17/02), as atitudes questionáveis de Márquez ao longo desta temporada lembram o perfil de Neymar, expulso de campo várias vezes.

httpv://youtu.be/S9O3OrUPZsU

Mas ambos são ainda mais parecidos na parte positiva.

Piloto e jogador galgaram passos muito parecidos rumo ao estrelato, inda que o espanhol esteja um pouco à frente do brasileiro em termos de conquistas: Márquez estreou na Moto3 (125cc) no mesmo ano em que Neymar chegou ao profissional do Santos. O título de Márquez na categoria veio junto da primeira conquista de Neymar (a Copa do Brasil de 2010). Na sequência, foram ascendendo: Márquez foi vice e campeão da Moto2 (250cc) enquanto Neymar ganhava a Libertadores e depois a Prata Olímpica.

Márquez chegou à categoria rainha no mesmo ano em que Neymar faria sua estreia pelo Barcelona. Hoje o brasileiro tem uma Copa das Confederações e uma Liga dos Campeões, e o espanhol já soma dois mundiais na MotoGP.

Dois talentos precoces e exuberantes.

No entanto, claro que por motivos distintos, em 2015 duas lendas do esporte (Lionel Messi e Valentino Rossi, respectivamente) mostraram que eles ainda não chegaram ao máximo de suas capacidades.

Fechando as comparações com pilotos em atividade: sem medo de errar, Felipe Massa é o Robinho da Fórmula 1. Os motivos para tal analogia são vários, mas vamos aos principais: ambos “explodiram” no cenário nacional no ano de 2002: Massa estreou na F1 e Robinho conduzia o Santos. E já estavam chamando a atenção antes: Robinho era incessantemente comparado a Pelé, e Massa era apontado como sucessor de Senna.

Massa, então na Sauber, frustrou: foi demitido da equipe e “promovido” a piloto de testes da Ferrari. Por outro lado, Robinho brilhou: conquistou o Campeonato Brasileiro e levou o Santos à sua primeira final de Libertadores em quarenta anos.

Mas a partir daí a história começou a se alinhar novamente: Robinho e Massa foram contratados para atuarem pelas maiores marcas dos respectivos esportes, e atuariam como coadjuvantes de monstros sagrados: Robinho seria companheiro de Zidane e Ronaldo, e Massa abraçava a chance de correr ao lado de Michael Schumacher.

Nenhum deles de fato “aconteceu”: Robinho foi reserva da seleção na Copa de 2006 e titular em 2010, sem brilhar. Saiu do Real, indo ao Manchester City e ao Milan, não vencendo ou protagonizando nada relevante. Massa conseguiu bater Räikkönen, mas sucumbiu diante de Alonso, teve nova chance na Williams e novamente foi superado.

Eternas promessas.

Agora falando dos astros de antigamente, fiquei a procurar quem pudesse ser “o Nigel Mansell do futebol”…

Para ser comparado a Mansell, um jogador precisaria ter talento gigantesco mas também ter cometido alguma falha histórica (tipo Canadá-1991), ficar no quase vária vezes (tipo ser vice três vezes dispondo do melhor carro), ter uma carreira bastante longeva (afinal ele foi campeão do mundo aos 39), e ao mesmo tempo manter uma imagem de “boa praça” e ser querido por colegas.

Depois de muito pensar, me ocorreu o nome de Toninho Cerezo.

Dois anos mais novo que Mansell (é de 55, o inglês de 53), Cerezo ganhou a Bola de Ouro da Revista Placar em duas temporadas (1977 e 1980), quando foi vice-campeão brasileiro pelo Atlético-MG. Participou de duas Copas do Mundo (1978 e 1982), sem vencer, e jogou a final da Copa da UEFA de 1989, sendo mais uma vez vice.

A glória maior lhe seria reservada, no entanto, para 1993, quando conquistou o Mundial Interclubes pelo São Paulo e foi premiado o Melhor Jogador daquela Final. Piloto e jogador ainda guardam semelhanças por conta do bigode e por serem avessos aos holofotoes.

Porém, apesar de seu inegável talento e de suas conquistas, o mineiro é considerado o pivô da derrota da geração de 82 (uma espécie de Williams-Honda-Turbo): primeiro, o passe errado; depois, o escanteio mal pensado.

httpv://youtu.be/3th82ZfFsUg

Por fim, uma comparação tão óbvia quanto inevitável: James Hunt é o George Best do futebol.

Britânicos (Hunt é inglês e Best norte-irlandês), foram dois grandes talentos das pistas e gramados, mas se notabilizaram essencial e principalmente pelo extra campo.

Mulherengos, beberrões, avessos a treinamentos intensos e aos protocolos típicos, Hunt e Best brilharam intensamente mas por período muito curto. O time de 1968 do Manchester United é até hoje lembrado como um dos mais fantásticos da história da equipe, e o campeonato de 1976 é para muitos o melhor de todos os tempos na F1.

Best levou a Bola de Ouro naquele ano, e Hunt foi o campeão daquela temporada. Porém, depois de terem chegado no topo, suas estrelas foram se apagando aos poucos, com brilhos cada vez menos frequentes. Hunt saiu da F1 correndo por equipe pequena, e Best foi jogar futebol nos EUA.

São muito lembrados, também, por frases e afirmações: Hunt disse que “Sexo é o café da manhã dos campeões”, enquanto Best afirmou ter gastado a maior parte do seu dinheiro “com mulheres, carros e bebidas”, e que o resto “desperdiçou”.

Hunt morreu de infarto antes de completar 46 anos, e Best não chegou aos 60, vítima de cirrose.

Esta foi minha última participação no GPTo na temporada de 2015.

Olhando em perspectiva as colunas que produzimos nesse ano, fizemos mais textos com conteúdo histórico do que em 2014 e 2013: pouco refletimos sobre o que aconteceu neste campeonato, justamente porque, na F1 como no Brasil e no mundo… quase nada (de bom) aconteceu.

Então resta lembrarmo-nos do passado.

Desejo que em 2016 possamos nos lembrar com carinho de 2016.

Abraços e bom fim de ano a todos!

Marcel Pilatti
Marcel Pilatti
Chegou a cursar jornalismo, mas é formado em Letras. Sua primeira lembrança na F1 é o GP do Japão de 1990.

4 Comments

  1. Alair Walter Vieira Barbosa disse:

    As pessoas esquecem que no terceiro gol da Itália, o maior lateral esquerdo do mundo (Júnior) estava em cima da linha e ao lado de Waldir Peres e dando condição ao Paolo Rossi. Cerezzo falhou no início do jogo e não no fim.

  2. Robinson Araújo disse:

    Colegas

    Em 2006 indo visitar um colega em um prédio residencial na região Central da cidade (Cuiabá) encontro no elevador Toninho Cerezo. No primeiro contato achei ser apenas alguém parecido mas chegando ao pavimento desejado e encontrando o colega tive a confirmação e conversei por alguns instantes com o ex jogador e técnico.
    Demonstrou ser bastante simples e dizia que ali morava uma namorada a qual visitava sempre que podia, tiramos uma foto e nunca mais o ví.
    Não sei como seria encontrar o velho Nigel em qualquer que fosse o lugar mas, certamente, seria também um momento marcante e, acima de tudo, iria agradecer por todos os momentos proporcionados.

    Final de ano de esperanças com a proposta da F1 para 2017, quem sabe muda um pouco um rumo que muito nos incomoda.

    Boa semana aos colegas do GPTo

    Robinson Araujo
    Cuiabá-MT

  3. Mauro Santana disse:

    Belo texto Marcel!!

    E belas foram as comparações.

    Interessante que o Cerezo naquela final de 1993 pelo São Paulo, marcou um dos 3 gols do título mundial.

    Um bom descanso e ótimas festas a você e sua família, e que estejamos firmes e fortes aqui no GEPETO em 2016.

    Abraço!!

    Mauro Santana
    Curitiba-Pr

  4. Fernando Marques disse:

    Marcel,

    nestas comparações acho que a do Nico Rosberg com David Beckhan foi a melhor mas todas estão perfeitas nos seus contextos …

    No mais um bom descanso para você e até ano que vem com a gente firme e forte no GEPETO

    Fernando Marques
    Niterói RJ

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