a barreira da vitória

SCHUMACHER GUIA DEMAIS!
31/03/2002
Não acho que Barrichello tenha culpa nas quebras de sua Ferrari.
08/04/2002

Panda

Montoya tem todo o direito de estar p… da vida – mas só com ele próprio, não com Schumacher, a quem teria xingado (veja o nosso novo Frases, Frases, Frases) e acusado de desleal.

Montoya provavelmente perdeu o GP do Brasil porque vacilou durante uma fração de segundo metros após a largada, quando jogou o seu Williams para cima de Schumacher mas, por achar desnecessário ou se sentir inibido
ou temeroso das conseqüências, voltou à trajetória convencional.

Foi o que bastou para Schumacher tomar-lhe a liderança. Impulsionado por uma excelente arrancada – dizem que amparada por um software de largada novo em folha -, o alemão não vacilou. Chegou junto ao S do Senna e tomou a ponta (como? Ninguém viu, pelo menos pela TV, que bobeou feio).

Montoya tentou descontar o prejuízo na reta oposta mas aí, quem ficou esperto foi Schumacher, que fechou a porta de forma absolutamente legítima, na hora certa e sem bobeira. Montoya se atrapalhou na freada da Curva do Lago, tocou de leve a traseira do Ferrari (tão de leve que o bico do Williams não se quebrou no momento do toque mas sim alguns segundos depois) e jogou sua corrida pela janela.

Por que Montoya errou tanto em tão pouco tempo? Pode ter sido apenas um domingo particularmente infeliz do colombiano. Pode ser também que tudo lhe tenha acontecido, inclusive o ridículo episódio da pipa, porque ele ainda não quebrou a barreira da vitória.

Barreira da vitória? Sim, aquela, da qual Jackie Stewart tanto falou, que é tão fácil de se entender quanto difícil de explicar.

É aquela situação na qual você finalmente aprende como superar grandes desafios sem se esforçar além de um certo limite para isso. Vale para ganhar dinheiro, conquistar mulheres, vencer corridas. Você simplesmente se senta no carro, faz o seu trabalho e as vitórias correm ao seu encontro, como virgens enlouquecidas de desejo. Assim como aconteceu tantas e tantas vezes com o próprio Schumacher e Prost, por exemplo.

Quebrar a barreira da vitória é saber misturar talento natural a talento adquirido, personalidade, calma, força política, sorte, conhecimentos técnicos, uma percepção mediúnica de saber forçar uma ultrapassagem ou esperar um pouco mais e toda um série de ingredientes que sustentam uma auto-confiança que permite ao piloto superar condições adversas e atingir seus objetivos aparentando facilidade.

Alguns nascem com esse dom, outros o conquistam rapidamente, outros ainda correm a vida inteira atrás dele. Note que não basta ganhar uma corrida para quebrar a barreira da vitória. Ronnie Peterson, por exemplo, ganhou várias e nunca deixou a barreira para trás. Senna e Prost só a demoliram de vez depois de conquistar os seus segundos títulos. Schumacher, por sua vez, parece ter recebido as chaves secretas da vitória logo no começo da sua carreira na Fórmula 1.

Montoya, no momento, do alto do seu inegável talento natural, começa a perceber os contornos do que significa ganhar continuamente na Fórmula 1. Ele já fez isso em outras categorias, tem um boa noção do que é, muito provavelmente vai chegar lá. Se já tivesse quebrado a barreira da vitória, teria sabido bloquear Schumacher depois da largada ou intuído se a reta oposta era o momento certo para tentar a ultrapassagem. Ah sim. E o raio da pipa não teria se prendido ao seu carro. Isso nunca acontece aos grandes campeões.

+++

Ninguém parece mais distante no momento de quebrar a barreira da vitória do que Rubens Barrichello.

Você provavelmente viu em minha coluna passada a sugestão de como ele teria mandado sua corrida para o espaço na Malásia. Pois bem: será que não foi a mão pesada de Rubens quem acabou por danificar o sistema hidráulico do Ferrari?

Acho que, nesta altura, até as pedras de Interlagos sabem que Rubinho não é um velocista nato. Ele simplesmente não consegue andar em ritmo pesado (como o de Schumacher nas voltas anteriores ao seu pit stop) sem judiar demais do carro.

Embalado pela necessidade de abrir vantagem sobre os demais pilotos – ele iria parar duas vezes -, Rubinho pisou sem dó durante 17 voltas. Foi brilhante mas talvez tenha comprometido a integridade do seu carro que quebrou tão poucas vezes em um ano e meio de uso. Se Rubinho tivesse rompido a barreira da vitória, saberia dosar as próprias forças e as do carro e aguardar pelos acontecimentos.

+++

O que faltou para Ralf ganhar a corrida? Culhões? Talvez. É difícil acreditar que, distante apenas meio segundo de Schumacher, ele não pudesse ter tentando ao menos uma ultrapassagem.

Mas Ralf sabe que terá de suar sangue para passar o irmão. Lembra-se dos GPs da Europa e Itália do ano passado? Previamente derrotado, Ralf pensou em seu duelo particular com Montoya dentro da Williams e preferiu embolsar seis pontos certos. Não é atitude de quem deseje romper barreira nenhuma.

+++
Mistérios de Interlagos:

1) por que só os pneus Bridgestone de Schumacher renderam tão bem?
2) Qual mágico fez a Ferrari de Schumacher parar um vez só quando o resto do mundo esperava por duas paradas?
3) Da onde saiu aquela p… daquela pipa?

+++

Agradeço a você e aos amigos leitores de não me gozarem pela minha tão desabrida aposta nas chances de vitória de Rubens Barrichello.

Eu, de minha parte, poderia dizer que meu plano estava dando certo: Rubinho tinha mais 50 e tantas voltas para abrir 30 segundos de vantagem e ganhar a corrida. Quem pode me garantir que domingo era o dia?

+++

Panda e meus caros amigos que assistiram a corrida pela TV: saibam que nada, nada no mundo, substitui o prazer de ver aqueles carrinhos passando à sua frente.

Assisti a corrida no trecho da reta de largada onde, na volta de apresentação, quase todos os pilotos dão aquela esticada para limpar a garganta do motor e aquecer os pneus e freios. É um das coisas mais bonitas da Fórmula 1. Insubstituível, verdadeiramente insubstituível.

Grande abraço

Eduardo Correa

Eduardo Correa
Eduardo Correa
Jornalista, autor do livro "Fórmula 1, Pela Glória e Pela Pátria", acompanha a categoria desde 1968

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *