Canadá vermelho

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Panda

A vitória de número 150, a gente não esquece.

E, como sempre acontece com Schumacher, pareceu uma vitória muito fácil: bastou ao alemão se conservar próximo aos líderes no começo da corrida, não deixando Rubinho e Montoya escaparem na frente. O resto do serviço foi feito pelas deficiências do motor BMW mais a crônica capacidade da Williams para se enrolar em pit stops e pela fraqueza geral da McLaren.

E assim, a Ferrari e Schumacher chegaram às marcas de 150 e 59 vitórias, respectivamente, e a uma liderança escorchante no Mundial de Pilotos: 70 pontos, pouco menos do que os pontos do 2o, 3o e 4o colocados juntos!

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A aparente facilidade da vitória de Schumacher faz pensar: por que a Ferrari mandou Rubinho para duas paradas? Não seria melhor fazê-lo parar uma única vez e sair do Canadá com mais uma dobradinha?

Os neuróticos de plantão podem, com todo o direito, presumir quea equipe preferiu não arriscar repetir a situação da Áustria pois era evidente que Rubinho tinha boas chances de vitórias partindo para a corrida em igualdade de condições com Schumacher.

Mas, descartando a teoria conspiratória, acho que a Ferrari foi apenas precavida. Sabendo ou não que Montoya pararia duas vezes, preferiu preparar Rubinho para acompanhar o ritmo do colombiano, não o deixando fazer uma corrida isolado na ponta.

Ao que tudo indica, a estratégia de Williams para Montoya era perdedora desde o começo da corrida mas Rubinho cumpriu seu papel.

Ou seja: também no Canadá, qualquer chance de vitória de Rubinho foi sacrificada em prol da tranqüilidade de Schumacher.

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Pena para Rubinho, que perdeu a chance de ganhar os seis pontos do 2o – pontos que que ele precisa desesperadamente para chegar a vice-liderança do campeonato, o mínimo que se exige dele, pilotando um carro tão superior à concorrência.

Resta a Rubinho o consolo de ter ultrapassado Montoya de uma forma espetacular, mesmo se admitindo que o colombiano tenha tido algum problema de tração ou câmbio e perdido um pouco de velocidade na saída daquela curvinha enjoada. Rubinho não hesitou e, numa manobra que lembra a rapidez de reflexos de Mansell na ultrapassagem sobre Senna na Hungria/89, jogou o seu carro com decisão para a parte suja da pista e avisou: ou passo ou ficamos por aqui.

Até mesmo um piloto notoriamente arrojado como Montoya percebeu o recados e achou melhor recolher.

Pela ultrapassagem, pela segurança com que liderou a prova e também pela sorte na fase final da corrida, Rubinho merece nota 10 pelo seu GP do Canadá

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Notas altas merecem também Raikonenn e Ralf Schumacher.

Muito interessante o pega entre eles no começo da corrida, os dois acelerando ao máximo e Ralf em particular freando sempre no limite e entrando de lado na curva da saída dos boxes.

O esforço de Raikonenn, Ralf, Coulthard e a incapacidade de Montoya em abrir vantagem sobre Schumacher só sublinham a superioridade da Ferrari sobre seus rivais.

Disse aqui que esperava um começo de virada no campeonato nas próximas duas corridas mas acho que pode demorar um pouco mais de tempo. Quem sabe em 2003…

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150 vitórias para a Ferrari em 661 GPs, quase uma vitória a cada quatro corridas. Mas a vida nem sempre foi fácil para os italianos, que alternaram anos de vacas magérrimas a outros, onde tudo deu certo.

52 e 53 foram anos bons assim como 56. 61 também foi bom mas terminou com um gosto amargo, pela morte de Wolfgang von Trips, que deveria ter sido o primeiro campeão alemão na Fórmula 1, na corrida decisiva. 64 trouxe mais um título, este vencido mais por uma questão de sorte e malandragem.

Como castigo, a Ferrari entrou num período terrível de nove anos, com desempenho tão medíocre em alguns momentos que chegou até a faltar a alguns GP.

A partir de 74, coincidindo com a condução de Lucca de Montezemollo ao comando da equipe e a concentração na Fórmula 1 (até 73 a Ferrari disputava também o Mundial de Marcas), as vitórias voltaram. De 74 a 79, foram quatro títulos e dois vice-campeonatos de Construtores e mais três títulos de Pilotos.

80, em compensação, foi um dos piores anos da equipe. 81 foi um pouco melhor e, em 82, a equipe venceu o Mundial de Construtores. Mas, como em 61, não pode comemorar, seja pela morte de Gilles Villeneuve – provável campeão da temporada – seja pelos ferimentos que determinaram o fim da carreira de Didier Pironi, o outro piloto da equipe.

Nos anos seguintes até 98, a equipe oscilou desempenhos medianos a outros, sofríveis. Os títulos de Construtores só voltaram em 99, 2000, 2001 e, podemos dizer, 2002. Confirmando-se o campeonato deste ano, será a primeira vez na história da Fórmula 1 que uma equipe vencerá quatro títulos consecutivos.

Em tempo, a primeira vitória da Ferrari veio pelas mãos do argentino Froilan Gonzalez, no GP da Inglaterra de 51.

Boa semana para todos

Eduardo Correa

Eduardo Correa
Eduardo Correa
Jornalista, autor do livro "Fórmula 1, Pela Glória e Pela Pátria", acompanha a categoria desde 1968

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