Não gosto, decididamente não gosto quando as notícias da Fórmula 1 vão parar nas páginas de Economia do jornais.
Cada vez que isso acontece, a Fórmula 1 fica um pouco mais feia, mais pobre, mais medíocre enquanto dirigentes, pilotos e organizadores se revelam mais mesquinhos e menos esportistas (sim, eu confesso: sinto saudades da esportividade e do cavalheirismo nas pistas, tão evidente nos anos 60 e começo dos 70).
Agora, é a questão dos custos. Precisamos economizar. A recessão acabou com o dinheiro fácil dos patrocinadores. Vamos falir, já falimos, já era, acabou.
É verdade que Alain Prost dançou bonito. Não é impossível que ele tenha investido na equipe todo o dinheiro que ganhou como piloto e esteja, de fato, falido (sim, porque existem muitos empresários ricos donos de empresas falidas. É só não reinvestir o que ganhou nos tempos das vacas gordas…)
Prost pode ter companhia em breve: Tom Walkinshaw, dono da Arrows, Paul Stoddart, dono da Minardi, Richard esqueci-o-nome, plantonista da Bar, e Eddie Jordan, dono da equipe que leva o seu nome, dizem de forma mais ou menos clara que estão vendendo o almoço para comprar o jantar; em breve, se as coisas não mudarem, estariam fazendo companhia a Prost na rua da amargura.
A eles se junta alegremente Flavio Briattore, este monumento à esportividade às avessas, chefe de turno na Renault. Os franceses não parecem ter problemas de dinheiro mas Briattore é um hábil pescador de águas turvas, como se dizia antigamente lá pelas bandas de Brasília. Ele simplesmente acha que pode tirar alguma vantagem da situação, emplacando sugestões capazes de desestabilizar, por pouco que seja, as bases onde se apoia o sucesso da Ferrari, Williams, McLaren e, num futuro próximo, Toyota.
Creio não ser da minha conta lembrar que Walkinshaw, Jordan e Stoddard estão entre as maiores fortunas do esporte mundial. Afinal, eles não são obrigados a reinvestir nas próprias equipes o dinheiro que ganharam no automobilismo ou fora dele (não vamos falar em ética nessa hora, vamos?).
Mas eu gostaria de lembrar que, se de fato caírem, Walkinshaw & Cia estarão apenas entrando na cova que ajudaram a construir. A Fórmula 1 ficou esta overdose de gastos porque quis, porque era conveniente a ela, porque, durante muitos anos, os pesados gastos serviram para asfixiar outras categorias que foram sendo abatidas, uma a uma, pela Fórmula 1.
Que categorias? Vou falar apenas as principais: Fórmula 2, Can-Am, Turismo, Sport-Protótipos – não venha me dizer que isso que aí está é capaz de reviver a fúria e a beleza das disputas que, nos anos 60/70, envolveram Ford, Ferrari, Porsche, Alfa-Romeo, Matra e, mais tarde, Renault, se é que não esqueci de ninguém). Só escaparam os rallyes, ninguém sabe exatamente como.
Se é que você ou algum leitor não sabia, a Fórmula 1 tem estescrimes nas costas. Agora, que se sente ameaçada pela diminuição dos seus lucros, está prontinha para cometer outros. Quer apostar?
Abraços e desculpe o mau humor
Eduardo Correa