Caro Rubinho
E aí? Curtinho as férias e o filho Eduardinho? Legal. E a vitória nas 500 Milhas da Granja? Deu para se divertir? Um amigo, o Enio Vergeiro, correu e tomou cem voltas de você. Em compensação, duvido que você vença o prêmio Caboré como ele certamente irá vencer.
Bom. Aproveite bem as férias porque em 2003 a barra vai pesar para o seu lado.
Vai pesar porque você fez uma temporada 2002 excelente: vice-campeão, quatro vitórias (cinco na carreira, o que o coloca ao lado de gente como Clay Regazzoni, Keke Rosberg e Nino Farina e à frente de Dan Gurney, Mike Hawthorn, Phill Hill, Pedro Rodriguez, Jo Siffert e Wolfgang von Trips) e, o mais importante, duas corridas em que você bateu de forma insofismável ninguém menos do que Michael Schumacher.
Áustria e Nurburgring foram corridas maravilhosas, fantásticas, perfeitas, onde você soube combinar coragem, ousadia e inteligência. Ayrton Senna, lá em cima, deve ter ficado orgulhoso, principalmente da sua largada em Nurburgring e depois como suportou a pressão do Schumacher. O fato de você ter cedido a vitória a ele na Áustria é apenas um detalhe num domingo inesquecível, um detalhe que de certa forma contou pontos a seu favor.
Na Hungria e em Monza, você fez boas provas mas não no mesmo nível da Áustria e Nurburgring – e nem você nega isso. Muita gente achou que Schumacher simplesmente deixou você ganhar. Sabemos que não é bem assim. O alemão deu uma maneirada no ritmo em alguns momentos da corrida mas ninguém lembra que você também podia ter pisado mais, forçado mais o carro. Contudo, sabedor de que o dia era seu, fez apenas o bastante. Tudo bem, faz parte do jogo.
Indianápolis é outro papo mas, que diabo, uma vitória é uma vitória e a mancada foi do Schumacher em se confundir com a linha de chegada, não sua. Ele queria repetir a chegada triunfal da Ferrari em Sebring 67 e aprontou a c… do ano.
O problema é que depois de tudo isso, você está no mínimo obrigado a repetir a dose em 2003 e sabemos que isso não é fácil, principalmente pelo fato de que Schumacher certamente não será tão condescendente com você, mesmo porque as possibilidades de jogo de equipe estão limitadas agora. É claro que sempre se pode atrasar um pitstop ou se simular uma parada extra nos boxes mas, com o mundo inteiro de olho, não se deve esperar por falsetas desta ordem, tanto mais numa equipe como a Ferrari, já com o traseiro consideravelmente exposto depois de Áustria, Indy etc.
Assim, se você quiser vencer pelo menos quatro corridas, terá de repetir o feito da Áustria e Nurburgring quatro vezes. Outro problema: você não deve contar com tanta moleza por parte das outras equipes. Williams e McLaren, BMW e Mercedes, uma hora dessas acertam a mão de novo e aí você terá de se bater também com Montoya&Cia, o que pode ser um problemão.
Mas isso não é tudo. Sabemos que 2003 será apenas um ano de transição, um interregno na sua carreira, pois o jogo pesado começa em 2004, quando você tem de correr pelo título e não mais por vice-campeonato.
Você já está garantido na Ferrari, sabe que as chances de Schumacher ganhar no ano que vem são grandes, chegando ao sexto título, e também que as chances de ele manter a motivação para vencer um sétimo em 2004 são reduzidas. Afinal, Schumacher é um homem de carne e osso e me parece humanamente impossível ele manter-se babando no macacão como hoje por esmagar recordes.
Em 2004, com 35 anos nas costas, seis títulos, onze temporadas completas, quase duzentos GPs disputados, sabe Deus quantas vitórias e poles na carreira e mais dinheiro do que um banco é capaz de guardar, ele deve – ele tem – de tirar um pouco o pé do acelerador. E aí, Rubinho, será a sua vez.
Para isso, você tem de fazer um 2003 impecável, melhor do que 2002. Você vai precisar de muita força de caráter, personalidade, habilidade técnica e inteligência, seja nas suas relações com a equipe seja no confronto com os demais pilotos.
Causei alguma polêmica aqui no GPTotal quando proclamei que você havia quebrado a barreira da vitória depois do GP da Áustria. Considerando o que você fez nas pistas até a metade do campeonato, não tenho dúvidas de que quebrou mesmo mas olhando para a segunda metade do campeonato, já não posso afirmar isso de forma tão taxativa. É claro que a superioridade da Ferrari mascarou as coisas e transformou tudo num alegre passeio pelas pistas do mundo – mas ficou a dúvida.
Como sou um incorrigível otimista, continuo acreditando. Vai lá Rubinho!
Abraços
Eduardo Correa
PS: Envio em anexo duas fotos dos testes de ontem em Barcelona, onde Pizzonia e Da Matta estrearam oficialmente na Fórmula 1. Boa sorte para eles também.