BOICOTADO… E CAMPEÃO
– Por Marcelo Caram
O ano era 1979. Na penúltima etapa do Campeonato Mundial de Motovelocidade-500 cm³, em Silverstone, havia quatro candidatos ao título: o norte-americano Kenny Roberts, o inglês Barry Sheene, o italiano Virginio Ferrari e o holandês Will Hartog. Naquela época (e até o final de 1986), a largada era dada com os motores desligados: as motos ficavam alinhadas no grid, com os pilotos em pé ao lado delas. Ao ser dada a largada (com bandeira ou, anos depois, sinal verde), os pilotos empurravam as motos para fazer o motor “pegar” e só então pulavam em cima delas.
A corrida não poderia ser mais dramática. Na volta de apresentação, estourou uma válvula do radiador de óleo da moto do Roberts. Já alinhado no grid, ele e os mecânicos tentam desesperados fazer o conserto. Tinham exatamente um minuto para tanto: a corrida começaria com ou sem Roberts – e ele próprio colocou a mão na massa. O conserto foi feito, mas ninguém sabia se a moto agüentaria a corrida toda ou somente uma volta. Imagine pilotar uma moto a 200 km/h todo sujo de óleo!
Na corrida, logo de cara, Ferrari ficou para trás. Sobraram Roberts, Sheene e Hartog, que andaram grudados por umas 10 voltas. No final, Hartog ficou um pouco para trás e Roberts ganhou de Sheene por uma moto de vantagem, depois de percorrerem toda a última volta lado a lado, trocando seguidamente de posição.
Kenny Roberts foi um dos grandes pilotos da história da motovelocidade. Só foi saber o que era correr na chuva ao migrar para a Europa – nos Estados Unidos, as corridas com chuva eram interrompidas. Em 1974, ele fez sua primeira aparição em continente europeu: GP da Holanda, no difícil circuito de Assen, com uma Yamaha na categoria 250 cm³. De cara, fez a pole position e terminou em 3º lugar. Mas ele só passou a disputar realmente o Mundial em 1978, nas categorias 500 cm³ e 750 cm³ – esta últimadurou apenas cinco anos. Foi um começo difícil: os europeus o boicotavam (Sheene, de quem se tornaria grande amigo, era exceção) e na primeira corrida disputada em pista molhada não recebeu pneus de chuva (pensavam algo do tipo “como é que esse yankee caipira chega aqui, vindo do nada, e começa a dar pau em todo mundo?…”). Roberts não teve dúvidas: pegou um par de pneus slick, desenhou os sulcos com gilete, largou e… GANHOU!
Marcelo Caram (Campinas-SP)