PRESEPADAS

Rubinho voador
25/07/2003
WITH A LITTLE HELP FROM OUR FRIENDS
30/07/2003

Edu,

Aquilo que foi anunciado para maio e parecia adiado para o final do ano aconteceu em julho: Antônio Pizzonia foi dispensado pela Jaguar.

Não costumo defender pilotos irrestritamente apenas pelo fato de serem brasileiros. Também não vou entrar naquelas teorias conspiratórias de que Pizzonia passou por tudo isso apenas por causa da nacionalidade que tem: pilotos do mundo inteiro já passaram por isso. Pizzonia não foi o primeiro e não será o último.

Mas é nítido que alguma coisa muito fedorenta esteve por trás do processo de desgaste em que Pizzonia foi colocado pela Jaguar desde o começo do ano. Tanto durante quanto depois da demissão, praticamente todas as declarações e atitudes dos integrantes da Jaguar (incluindo o outro piloto, Mark Webber) parecem ter sido estudadas para desgastar e desmoralizar o brasileiro. Dentro da equipe, a única voz que se ergueu a favor de Pizzonia foi a de Jackie Stewart.

É muito difícil prever “quando” e “se” virá a público o real motivo da atitude da Jaguar em relação a Pizzonia. Não creio que ele concorde comigo, mas acho que para o brasileiro foi uma verdadeira bênção ter saído de um ambiente tão carregado de energias negativas como o da Jaguar. Espero que Pizzonia erga a cabeça e dê a volta por cima.

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Para quem valoriza os “tempos antigos” da F 1, achando que em décadas anteriores o esporte estava acima de todas as coisas e que tudo era muito mais limpo, mais puro, mais honesto, menos comercial, menos sórdido, menos isso e mais aquilo, vale a pena lembrar o que aconteceu com Alex Dias Ribeiro.

Alex assinou contrato para disputar a temporada de 1977 pela March. Pelos resultados de 1976 (vitória de Ronnie Peterson no GP da Itália), a March parecia ter tudo para conseguir bons resultados. Só que os pilotos da March não marcaram sequer um ponto no campeonato de 1977 e, pior, não se classificaram para a largada em vários GPs. No final do ano, as reputações de Alex e de seu companheiro, Ian Scheckter, estavam acabadas na F 1. Vale lembrar: um dos donos da March era Max Mosley – ele mesmo, o atual presidente da FIA.

O que aconteceu naquele ano é óbvio para qualquer um, mas passo a palavra a Alex: “A equipe pegou o dinheiro dos patrocinadores e não investiu nos carros”. Ainda no primeiro semestre, Mosley chegou a escrever ao brasileiro uma carta, absolutamente humilhante, culpando-o pelo mau desempenho do carro e eximindo a equipe de qualquer responsabilidade. “Tive que apelar para a misericórdia divina para conter o ímpeto de amassar a carta e enfiá-la pela garganta de Mosley”, escreveu Alex em seu livro “Mais que vencedor”.

A March, por sua vez, retirou-se da categoria no final do ano – muito provavelmente, isso estava previsto desde o começo da temporada, razão pela qual Mosley e os demais diretores preferiram simplesmente aumentar patrimônio e se abster de competir seriamente na F 1.

Nessa época, a March fabricava bons carros de F 2 e F 3, que na verdade eram seu grande mercado. A March vendia por ano cerca de quatro chassis de F 1, enquanto as outras categorias absorviam 20 chassis ou mais, cada uma. Alex conta em seu livro que no final daquele ano fez o primeiro teste do March 782, o carro de Fórmula 2 para o ano seguinte – e, com ele, virou três segundos mais rápido do que seu melhor tempo com o F 1. “Aquilo encerrou minhas esperanças de ter um Fórmula 1 competitivo em 1977”, lembra.

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Existe uma coincidência entre as “presepadas” de Alex e de Pizzonia.

No final de 1976, Alex foi convidado por Bernie Ecclestone para ser piloto da Brabham, ao lado de José Carlos Pace. O brasileiro disputaria as últimas três corridas daquele ano, mas recuou ao ver o contrato que Bernie lhe ofereceu: nenhum pagamento (nem mesmo o das despesas de viagem), nenhuma garantia de que continuaria na equipe depois das tais três corridas, nada.

Diante disso, Alex não teve dúvidas em assinar com a March, que – no papel – dava garantias mais sólidas. Só que Mosley e Ecclestone já eram intimamente ligados, e há quem diga que Ecclestone teria recomendado a Mosley que “queimasse” Alex.

Nos dias de hoje, corre o boato de que Flavio Briatore teria “recomendado” à Jaguar que arruinasse a reputação de Pizzonia. Motivo: a recusa de Pizzonia, em 1999 ou 2000, em assinar com Briatore um contrato leonino, daqueles que comprometem a carreira do piloto por dez ou quinze anos.

Fico como naquele ditado espanhol: “Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay…”
Abraços,

LAP

GPTotal
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A nossa versão automobílistica do famoso "Carta ao Leitor"

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