Edu,
Depois de Bélgica e Áustria e das confusões legislativas do GP do Brasil deste ano, as leis antitabagistas fazem mais um estrago: o GP do Canadá está fora da temporada de 2004. Justamente a corrida disputada em uma das pistas mais interessantes do calendário (e também uma das mais bonitas e agradáveis, como pude constatar ao vivo em 1993).
Todas estas leis antitabagistas espalhadas pelo mundo refletem apenas uma coisa: hipocrisia. Os representantes de governos e de organizações antitabagistas se dizem muito preocupados “com a saúde da população” e começam a criar leis restritivas, incluindo a proibição de anúncios e patrocínios de um produto que é vendido legalmente em qualquer esquina. Se o cigarro causa tantos males à saúde (e não estou dizendo que não possa vir a causar), deveriam fazer como se faz com entorpecentes, proibindo sua fabricação, comercialização e posse.
Ah, mas tem os impostos recolhidos com a venda de cigarros… Burocratas e crédulos dirão que “os impostos são altos justamente para custear os problemas de saúde pública causados pelo fumo”. É mesmo? Então, gostaria imensamente de receber algum indício de que o dinheiro desses impostos é destinado integralmente a tal finalidade, sem desvios de qualquer espécie.
Bando de farsantes, isso sim.
Não vou fazer apologia do ato de fumar, mas existe um problema muito mais sério que não é atacado com tanto vigor: o alcoolismo. Quem fuma em demasia pode, no máximo, incomodar aos outros e prejudicar a própria saúde (não vou analisar aqui a tal história dos “fumantes passivos”). O sujeito que fuma quatro maços por dia não fica incapacitado para trabalhar e conviver em sociedade. Mas quem enche a cara com bebidas alcoólicas torna-se incapaz de fazer qualquer atividade produtiva, provoca desagregação familiar e pode causar acidentes trágicos. Exemplo? Um de nossos melhores atletas, o saltador João do Pulo, perdeu uma perna em um acidente causado por um motorista bêbado no final de 1981.
Para não parecer que sou excessivamente moralista: gosto de algumas bebidas alcoólicas (embora beba muito pouco) e, mesmo estando sem fumar desde o final de 1996, até hoje adoro aquele aroma de tabaco – apagado ou aceso, tanto faz.
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Quase todos os dias recebo de Ricardo Divila uma seleção dos melhores (ou piores…) boatos, artigos e notícias sobre automobilismo internacional publicados em sites variados. Selecionei dois para apreciação dos leitores.
– “A melhor declaração das últimas semanas foi uma única linha de um comunciado da McLaren. O assunto era o teste de Alex Wurz com o novo MP4/18 em Barcelona (Nota do colunista: em um dos dias, Wurz completou apenas sete voltas e não conseguiu marcar tempo): ‘Ele estava trabalhando em procedimentos de largada abortados’.”
Como se tem visto, o MP4/18 não estreou até agora e o próprio Ron Dennis já aventou a possibilidade de ele nem correr, mas apenas ser usado como base para o carro de 2004, o MP4/19. Sabe-se que ele foi reprovado no crash-test da FIA, mas um integrante da equipe afirma que isso aconteceu por uma margem muito pequena – teria absorvido 1 ponto percentual (não é a mesma coisa que 1%, não!) a mais de carga de impacto do que o máximo permitido. A conferir…
– Trecho de um artigo do jornalista inglês Mike Lawrence, motivado pela demissão de Antonio Pizzonia da Jaguar:
“É típico do modus-operandi das grandes corporações. Em 1982, a Ford estava desenvolvendo um carro de Grupo C (NDC: protótipos), o C-100, e outro para rally, o Escort RS 1700. O C-100 foi uma desilusão, mas Tony Southgate (NDR: projetista de renome nos anos 70 e 80, tendo trabalhado em equipes como Shadow e Arrows) foi chamado e os tempos começaram a baixar – se não me engano, ele tornou o C-100 cerca de 3,5 segundos mais rápido por volta. A Ford, então, encarregou-o de desenhar um carro completamente novo.
“Tony era meu vizinho e um dia, em 1982, eu estava em sua casa olhando os desenhos do novo carro. Ele disse: ‘Está quase tudo pronto e agora vou trabalhar nos detalhes. Não estou contente, por exemplo, com a localização do motor de arranque’.
“Então, tocou o telefone. Quando ele desligou, disse: ‘Era da Ford. Karl Ludwigsen está fora, Stuart Turner está de volta e o carro foi cancelado. Acho que vou deixar o motor de arranque exatamente onde está’.” (NDC: Karl Ludwigsen é um dos melhores jornalistas automotivos do mundo; não há menção no texto, mas certamente Ludwigsen ocupava algum cargo na Ford com poder de decisão sobre o programa de competições. E Stuart Turner ocupara a chefia do departamento de competições da Ford nos anos 1960 e 1970.)
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Estamos chegando ao final da temporada e não sei se é o caso de continuar chamando de “novo” o horroroso regulamento que entrou em vigor na F 1 este ano. Por isso, doravante adotarei como assinatura de minhas colunas a frase “este regulamento é uma merda”.
Abraços,
LAP