Panda
Escrevendo no final da tarde da 5a-feira, reafirmo minha aposta firme em Michael Schumacher como vencedor do GP da Hungria, dando um grande passo rumo ao título e me fazendo a ganhar a aposta com uma certa amiga e leitora, cujo nome começa com Ale… e termina com …ssandra, que começou apostando no Ralf, depois mudou para o Montoya e agora vai querer concorrer com os dois – mas tudo bem porque é por uma boa causa.
Espero muito da corrida que, acredito, será um momento capital para o campeonato. Não nego que a Williams seja favorita para a corrida mas acho que a dupla Schumacher-Ross Brawn vai neutralizar a fome de bola do time inglês apesar do calor de rachar catedrais que se espera no domingo.
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A verdade tarda mas não Folha, como se costuma dizer entre os jornalistas.
Aos poucos, vão emergindo informações que descrevem com mais precisão os bastidores da demissão de Antonio Pizzonia pela Jaguar duas ou três corridas atrás. O que conto nas linhas seguintes tirei principalmente de edição recente de Autosprint, a revista semanal italiana que não tem medo de dar as notícias, bem ao contrário da imprensa inglesa.
Pois segundo artigo assinado pelo competente Alberto Antonini, o inegavelmente fraco desempenho do amazonense esteve longe de ser o único motivo por trás do caso todo. Também um tal Paul Stoddart, presumível proprietário da Minardi, meteu-se na história em proveito próprio.
Sabendo que a Jaguar não conseguia achar um piloto minimamente capaz de justificar a substituição de Pizza, Stoddart foi lá e ofereceu seu piloto Justin Wilson para a vaga.
O preço da “gentileza”? Um desconto no fornecimento dos motores Cosworth – empresa que, caso os leitores não saibam, faz parte do mesmo grupo controlador da Jaguar – e ainda abriu a possibilidade para depenar outro pato, no caso o patrocinador dinamarquês de Nicolas Kiesa, que levou a beleza de uns US$ 2 milhões para a equipe, sempre sedenta de grana.
Ah! Sim: Wilson não custa nada para a Jaguar, pois recebe seu dinheiro dos investidores que compraram ações sobre lucros (?) futuros da carreira do longilíneo inglês.
É isso, não vou esticar meus comentários, apenas elogiar a elegância de Pizzonia no episódio todo e renovar a ele os votos de boa sorte em seus próximos desafios profissionais.
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Que nenhum leitor pense que Bernie Ecclestone se meteu em apuros e fez bobagem com a história de tentar enfiar 18 GPs na temporada 2004, onde supostamente só caberiam 17.
Confusão, se houve, foi deliberadamente aberta por ele visando forçar as equipes a aceitar uma corrida a mais, idéia antiga, que ele faz circular todo ano, sempre recebendo um não redondo naquela carinha simpática e amigável (mas ponha o dedinho na boca dele para você ver se ele morde).
Acontece que as equipes não são obrigadas pelo Pacto da Concórdia a correr mais do que 17 provas por ano e elas, que também não são bobas, devem pensar: “eu ganho US$ 100 milhões dos meus patrocinadores para fazer 17 corridas. Se fizer 18, eles vão continuar me pagando a mesma coisa pois é isso que está no contrato. O mesmo vale para os direitos de TV. Então porque gastar tanto dinheiro numa corrida extra se o que vou receber a mais é tão pouco? Quer saber? O Bernie que se dane”.
Resta a Bernie brigar pela sua idéia com as armas de que dispõem e a hora é agora porque não há tantas corridas assim ao alcance da suas mãos.
Russos, indianos, argentinos e cariocas podem anunciar à vontade que pretendem organizar um GP mas até que somem as despesas todas e vejam quanto vão receber em troca, vai uma distância abissal. Construir um autódromo padrão Bernie de qualidade e organizar uma corrida idem é dinheiro que não acaba mais, só possível a governos ligeiramente irresponsáveis como devem ser os da China e de Bahrein.
E como eles se dispuseram a torrar o dinheiro dos respectivos povos em atividades tão essenciais quanto o automobilismo, deram a Bernie a chance de dobrar a aposta. Aparentemente perdeu seu tempo, pois as equipes parecem inamovíveis mas não tenho certeza se a parada está encerrada.
E engraçado que ninguém questionou a continuidade dos GPs de San Marino e Inglaterra em 2004, sempre tão atacados por Bernie & Cia. As corridas continuam lá, onde sempre estiveram, e sobrou para os canadenses, tadinhos, que não tiveram a flexibilidade do governo brasileiro em protelar a vigência das leis antitabaco.
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Os leitores estão convidados a ouvir domingo, a partir de 8h30, nas rádios Globo e CBN, este velho enrugado, ranzinza e um tanto obeso mas que ainda dá as suas cacetadas falar um pouquinho sobre as histórias do GP da Hungria.
Bom final de semana a todos
Eduardo Correa