“Voltinha na pista”

ALERTA AMARELO
05/01/2004
UMA VOLTA NO VELHO INTERLAGOS
12/01/2004

Geraldo Tite Simões

Ele tem 24 anos, cerca de 1,80 e pouco mais de 60 kg. Sim, é muito magro, fino como um espaguete, mas torna-se grande e musculoso quando controla os mais de 220 cavalos de uma moto de corrida da categoria MotoGP. Até 2003 Valentino Rossi corria – e vencia – de Honda RC 211V, uma espécie de Ferrari, com duas rodas e olhos amendoados. Na última etapa de 2003 venceu de forma brilhante, igualando o recorde de 22 pódios consecutivos, que antes pertencia a ninguém menos do que Giacomo Agostini, o maior piloto de moto de todos os tempos.

Resumir a temporada 2003 é fácil: Valentino Rossi venceu nove das 16 etapas, fez 80 pontos a mais do que o segundo colocado e aumentou para cinco os títulos mundiais, incluindo os da 125 e 250cc. Nosso representante, Alexandre Barros, estreando na equipe Yamaha, teve vários problemas físicos e seu melhor resultado foi o terceiro lugar na França. Contrariada com a saída de Rossi, a Honda elegeu o brasileiro Alexandre Barros para ser o piloto número 1 da equipe oficial Repsol em 2004. E mandou um recado: o motor V6 está pronto para ser usado e, se depender dos resultados em teste de dinamômetro, a melhor Yamaha não deve chegar nem entre os cinco primeiros. Uma bela ameaça!

Uma vez definida a temporada de 2003, sem qualquer surpresa digna de nota, a notícia triste ficou pela perda de Daijiro Kato, a maior promessa do motociclismo japonês, acidentado no GP do Japão. Era nele que a Honda apostava suas fichas para ter um piloto japonês campeão do mundo na MotoGP. Talento e frieza para atingir este objetivo Kato tinha de sobra, mas uma pequena área ficou desprotegida, sem o airfence, uma espécie de colchão de ar. Foi exatamente em uma parte de concreto que Kato bateu a mais de 200 km/h.

Futuro melhor
Mal Valentino Rossi desceu de sua Honda na última etapa, os jornalistas o cercaram porque sabiam que alguma coisa muito grandiosa estava para ser anunciada. Depois de quatro temporadas defendendo a Honda na categoria mais importante do motociclismo de velocidade, primeiro chamada de 500 e depois de MotoGP, as relações entre ambos estavam um pouco estressantes. Por conta de uma superstição um tanto juvenil, Valentino insiste em correr com o número 46 na sua moto. Já a Honda, que quase fez o score máximo de pontos em 2003, alcançando 395 pontos em 400 possíveis, queria justamente portar o merecido número 1 na carenagem.

Pode ser um motivo meio besta, numa modalidade onde o dinheiro rola aos rodos, mas fala-se em outras pequenas picuinhas entre a cúpula da marca campeã e o jovem e histriônico italiano. Para a sempre fanática torcida italiana, ao trocar a vitoriosa Honda pela incipiente Yamaha, Valentino quer repetir o mesmo desafio de Michael Schumacher, quando o alemão assumiu o posto na Ferrari: levar um equipamento intermediário à condição de imbatível.

A Yamaha, intermediária? Sim, em 2003 ela depositou tudo no nosso Alexandre Barros, que logo na primeira corrida se estabacou feio e passou a temporada inteira tentando se remendar fisicamente. Um dos motivos para tantas quedas era os testes de pneus Michelin, entregues ao experiente Alex. Como todo mundo sabe, teste de desenvolvimento de pneus é um risco muito acima dos já perigosos treinos livres e classificatórios. Não deu outra, Alex caiu muito e passou a bola deste desenvolvimento para a equipe Honda, alegando “agora é a vez deles caírem também”.

Além disso, a Yamaha insiste em manter o motor de configuração quatro cilindros em linha, por uma óbvia questão de marketing: suas motos esportivas vendidas nas concessionárias têm este tipo de motor. Já a Honda preferiu o motor V5 feito exclusivamente para as pistas. No final, a Yamaha engoliu um terceiro lugar entre as (poucas) marcas, ficando atrás da diletante Ducati, marca que quebrou a invencibilidade da Honda, com uma vitória no GP da Catalunya.

It’s now or never
Para 2004 Valentino vai ter uma missão dura de roer. Provar para o mundo que suas vitórias – comemoradas sempre com festas e até fantasias, ao contrário da frieza germânica de Schumacher – não foram frutos da uma moto imbatível. Não se pode esperar que ele vença logo nas primeiras provas, embora não seja impossível, porque a Yamaha está trabalhando para entregar a Rossi uma moto, pelo menos, melhor do que a de 2003. Massao Furisawa, diretor da divisão de tecnologia e desenvolvimento da Yamaha, disse “nossos engenheiros estão empenhados em melhorar a M1 e nos testes de inverno vamos trabalhar apenas para ajustá-la às exigências de Valentino”.

Para Alexandre Barros será a maior chance desde que entrou na categoria máxima em 1990. Segundo declarações da Honda, a marca quer fazer de tudo para Alex ser campeão do mundo em 2004. Ele tem capacidade, experiência e não vai sofrer concorrência direta de seu companheiro Nicky Hayden porque o americano já mostrou que não está no nível dos três primeiros do mundial. Alex sabe que, se decepcionar nesta temporada, poderá pendurar as luvas no final do ano. As maiores ameças serão o espanhol Sete Gibernau e o italiano Max Biaggi, que perseguem um título na MotoGP com unhas e dentes.

Sei que já escrevi isso no ano passado, mas desta vez podem apostar: o campeonato mundial de MotoGP de 2004 vai ser de acabar com os nervos.

GPTotal
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A nossa versão automobílistica do famoso "Carta ao Leitor"

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