A HISTÓRIA DA CAPA
– por Gabriel Marazzi
A revista Auto Esporte mostrada neste “Friends” foi às bancas em agosto de 1976. Nesse ano, a crise do petróleo, deflagrada no final de 1973, já fazia seus estragos na economia brasileira e alguém no governo resolveu proibir corridas de automóveis no Brasil.
Foi o caos. Os jornais publicaram manchetes de primeira página sobre o assunto, e a Auto Esporte foi mais a fundo fazendo uma reportagem sobre as conseqüências dessa atitude nos meios automobilísticos.
Para ilustrar a reportagem, resolveram fotografar um carro de corrida abandonado, cheio de pó. Por acaso, eu acabei assumindo a produção do carro, um Polar de Fórmula Super-Vê. Levei ao estúdio um pouco de talco, linha e uma aranha de estimação – de borracha, é claro.
Depois de horas montando a teia, espalhando o talco e finalmente colocando a aranha na carenagem, o responsável pela reportagem – um tal de Marcus Zamponi, um carioca gordo e irreverente que eu acabara de conhecer – achou que, além do carro abandonado, deveria haver um piloto desanimado lendo a manchete de um jornal que rolava pelo estúdio. Nele se destacava a frase “A última corrida”. Bem, como na hora havia apenas um macacão de competição por ali, e de tamanho pequeno, o tal do “Zampa” resolveu que seria eu o tal “piloto”.
Com apenas 16 anos de idade, realmente eu era o único que cabia naquele macacão. Foram mais algumas horas de cliques e flashes, até que a foto ficou pronta. A pérola que o gordo soltou no final me marcou como “o dia que eu conheci o Zampa”. Ele disse: “É a primeira vez que alguém sai na capa de uma revista sem ter que …” Bem, vocês imaginam o resto.
Depois desse dia, no entanto, conheci melhor o sujeito e fiquei seu amigo, assim como a maioria das pessoas que o conhecem. Principalmente depois de uma boa convivência como assessor de imprensa da Yamaha (e eu trabalhando na Revista Duas Rodas). Resolvi contar esta história porque, há pouco tempo, encontrando o Zampa em Interlagos, ele lembrou desse dia.
Duas curiosidades a respeito desse fato, na época: apesar de eu ter saído de corpo inteiro na capa da Auto Esporte, que ficou o mês todo exibidas nas bancas, ninguém acreditava que era eu o tal piloto, o que me deixava muito irritado. De costas, realmente não tinha como me reconhecerem, e meu orgulho de “garoto da capa” ficou arranhado. Para tentar provar que era eu, peguei uma das provas da foto, amassada e borrada, e saí mostrando para todo mundo. A outra curiosidade é que entre o dia da produção até a revista ir para as bancas, as corridas voltaram a ser liberadas, enfraquecendo a reportagem. Bem, é claro que eu não estava nem um pouco preocupado com isso…
Gabriel Marazzi, São Paulo-SP
Fantástico, Gabriel. Apenas algumas informações adicionais: o carro das fotos pertencia a um piloto, Fernando Jorge, que corria sem qualquer patrocínio e decidira pintá-lo de verde com faixas brancas e amarelas – as cores nacionais, o que deu ainda mais força à composição. Depois que as corridas foram novamente liberadas, Fernando venceu uma corrida, em Interlagos, com aquele carro. Nos dois anos seguintes, correu na F 3 inglesa, e em seguida parou por falta de patrocínio. Outro detalhe: pela diagramação e pelo tipo de letra, o jornal que você estava segurando devia ser o “Jornal da Tarde”. Acertei?
Abraços e obrigado pelo “Friends”. (LAP)