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Nas pesquisas feitas antes da corrida em Cingapura, ninguém apostava em Sérgio Pérez, patinho-feio dentro do curral eleitoral da Red Bull. Afinal, dentro do partido austríaco, há um candidato muito mais forte e com chance real de conquistar sua reeleição na pessoa de Max Verstappen, porém, o neerlandês não teve um bom dia de campanha na iluminada pista cingapuriana, enquanto Pérez aproveitou toda a força da Red Bull para fazer o que o próprio admitiu ter sido a melhor corrida na F1 do mexicano, resultando numa vitória de ponta a ponta, se elegendo como o grande vencedor do Grande Prêmio de Cingapura de 2022, corrida que voltou após três anos de ausência por causa da pandemia.

Se serve de consolo para Verstappen, ele não foi o único que errou no sudeste asiático. Hamilton e Russell não tiveram um domingo feliz, enquanto a dupla da Williams deu um bom prejuízo para a turma de Jost Capito. Num dia em que a Ferrari não cometeu nenhuma atrocidade contra si própria, foram os pilotos que não estiveram numa jornada das mais inspiradas, com Leclerc e Sainz completando um pódio sem maiores atribulações nesse domingo.

Logo na sexta-feira a F1 foi despertada por uma denúncia de que Red Bull e Aston Martin não teriam respeitado o teto orçamentário em 2021 e no caso dos austríacos, o rombo teria sido grande o suficiente para obter uma vantagem significativa não apenas no ano passado, como também nessa temporada, onde a Red Bull domina o campeonato após ter saído claramente atrás da Ferrari. O ti-ti-ti dentro do paddock rendeu declarações enfurecidas de lado a lado, com a Red Bull se defendendo das acusações, enquanto as demais equipes, particularmente Mercedes e Ferrari, cobram a FIA para uma punição exemplar para a Red Bull, em caso da confirmação do desrespeito.

Porém, o que chamou atenção foi que a FIA simplesmente não tem uma tabela de punição em caso de furo do teto. Multar? Debitar pontos no Mundial de Construtores? Simplesmente não há nada inscrito no regulamento para o que fazer em caso de gastos excessivos de uma equipe. A Red Bull sabendo disso, literalmente, pagou para ver. Aguardaremos os desdobramentos nas próximas semanas, mas no caso de um desrespeito das regras do teto, saberemos o quão sério terá essa iniciativa que segurou a Renault na F1 e seduziu Audi e Porsche.

Voltando às pistas, a Red Bull teve um dia de Ferrari no sábado, quando calculou errado o quanto de combustível tinha no carro de Max Verstappen no final da classificação, fazendo o neerlandês abortar o que seria uma volta que lhe daria a pole. Max ficou possesso. A pista em Cingapura é uma das poucas onde Verstappen ainda não venceu e até os postes de iluminação da pista sabem que largar numa boa posição faria uma enorme diferença. Como realmente fez.

No sábado já dava para perceber que secar a pista de rua de Cingapura não era algo muito fácil. Uma tempestade tropical, algo bastante comum na região, caiu no começo da noite, atrasando a largada em uma hora. Mesmo com o fim da chuva, o piso ainda estava úmido quando os carros estavam preparados para a largada. E logo de cara Pérez mostrou a que veio ao tracionar melhor e tomar a ponta do poleman Charles Leclerc ainda antes da primeira curva. Logo atrás dele Hamilton teve um movimento parecido de Charles e acabou superado por Sainz, após um toque entre os dois na primeira chicane. Isso deu o tom das primeiras voltas, com Pérez em primeiro tendo Leclerc no seu retrovisor e Sainz tendo Hamilton fungando em seu cangote. No entanto, não havia tentativas mais incisivas dos pilotos que atacavam, afinal, fora do traçado a pista estava ainda mais escorregadia.

Era esperado uma corrida de recuperação avassaladora de Verstappen, como já ocorrera algumas vezes esse ano, mas o neerlandês saiu incrivelmente mal na largada e chegou a cair para 12º, além de se envolver num toque com Kevin Magnussen. Max se livrou do danês, mas se encontrava numa situação bem distinta das recuperações que lhe acarretaram em impressionantes vitórias. Verstappen foi evoluindo e quando já se insinuava contra Fernando Alonso, que hoje completou sua 350º largada na F1, se tornando o piloto com mais largadas na F1, o motor do espanhol explodiu. Para quem esperava uma corrida especial, Alonso teve a pior das surpresas. Porém, foi nesse momento que George Russell, que tinha largado dos pits, resolveu tentar dar o pulo do gato e colocou pneus slicks. Se desse certo, seria bestial. Bastou dar a relargada para que Russell ficasse como uma besta no circuito, andando mais de 5s mais lento que os carros que vinham à sua frente. Porém, Russell passou a ser o piloto a ser observado, pois bastava que o inglês melhorasse de ritmo, que todos iriam iniciar uma procissão nos boxes.

Sainz fazia uma corrida insossa, ficando muito longe do seu companheiro de equipe, mas não se esforçando muito para segurar Hamilton. O piloto da Mercedes já parecia impaciente atrás do espanhol, mas Sainz não fez nada para que Hamilton passasse direto e batesse na barreira de pneus, quebrando o bico, num erro incaracterístico do inglês. Hamilton voltou à pista bem na frente de Verstappen e mesmo com a asa dianteira quebrada, Lewis ficou aporrinhando a paciência de Max, permanecendo uma volta na frente do piloto da Red Bull, que choramingava via rádio. Hamilton trocou seu bico e colocou pneus slicks. Com Russell marcando a volta mais rápida da corrida, era chegada a hora de fazer a troca para os slicks e todos foram aos pits. Menos a dupla da McLaren, que tentou postergar ao máximo a parada. E deram uma sorte danada!

Tsunoda se animou com pneus slicks e bateu forte no muro de pneus e trouxe o SC novamente. Com isso, Norris emergiu em quarto e Ricciardo, que fazia uma corrida burocrática como vem sendo sua temporada, em sexto. Porém, Norris tinha Verstappen o pressionando forte na relargada. Talvez forte demais. Max acabou passando reto na freada numa tentativa de ultrapassagem, num erro nada comum para o atual campeão. Com os pneus mais esculhambados do que último debate presencial antes das eleições, Verstappen retornou aos pits e caiu para as últimas posições, mas com pneus macios, era o carro mais rápido da pista. Lá na frente, Leclerc tentava uma estocada final sobre Pérez, principalmente quando o DRS foi liberado. Então, surgiu a informação de que Pérez teria infringido uma regra atrás do SC e que seria punido. A Red Bull avisou Checo, que imediatamente aumentou seu ritmo. Logicamente a Ferrari fez o mesmo, mas Leclerc simplesmente ficou bobocando atrás de Checo. Com a confirmação dos 5s de punição, Pérez ainda teve 2.5s de lambuja para garantir seu segundo triunfo em 2022 e o quarto na carreira. Foi uma exibição sublime de Pérez, onde o mexicano liderou de ponta a ponta, controlou Leclerc a prova inteira sem maiores problemas, além de encostar no monegasco na luta pelo vice-campeonato. Porém, é uma pena que exibições como essa sejam exceções para Checo…

Novamente Leclerc marcou a pole, mas não confirmou a primeira posição no domingo e dessa vez não se pode culpar a Ferrari em nada hoje. Charles parece que desencanou e já está com a cabeça em 2023. Já Sainz fez uma corrida extremamente burocrática, mas sem inventar a roda, conseguiu mais um pódio no ano.

Lando Norris fez uma prova discreta, mas eficiente para ser quarto e junto com o quinto lugar de Ricciardo, somado ao duplo abandono da Alpine com dois motores quebrados, a McLaren ultrapassou os franceses na luta pelo quarto lugar no Mundial de Construtores. Outra equipe que saiu com bons pontos de Cingapura foi a Aston Martin, com Stroll pulando para sexto após o último SC, com Vettel literalmente lhe protegendo. O alemão, maior vencedor na pista citadina asiática, tornou a vida de Hamilton dura, não permitindo a ultrapassagem do inglês. Só que Verstappen saiu como um foguete das últimas posições e logo começou a pressionar Hamilton, que tendo o seu rival em sua cola, acordou para a vida e passou a pressionar mais forte Vettel. Na luta entre os três campeões, melhor para Verstappen. E pior para Hamilton. Em outro erro não forçado, Hamilton perdeu a trajetória enquanto tentava ultrapassar Vettel e Max deu o bote, logo em seguida fazendo o mesmo com Vettel, mas nem isso foi o suficiente para garantir o título de Verstappen. Como havia dito antes do final de semana de atividade se iniciar, Max preferia garantir o bicampeonato no Japão e não precisará de muito esforço para isso, bastando chegar na frente de Leclerc e Pérez em Suzuka semana que vem. Pelo carro que tinha nesse final de semana e em toda a temporada, uma missão longe de ser impossível para Max.

Um opaco Hamilton terminou em nono num dia ruim da Mercedes, após terminar o sábado falando até mesmo em vitória. Russell foi o boi de piranha do dia e ainda se envolveu num incidente com Mick Schumacher onde normalmente aconteceria uma punição, mas com George, nem investigação rolou, contudo, o inglês amargou a última posição, duas voltas atrás do líder, enquanto Hamilton cometeu dois erros que nem em sua temporada de estreia cometeu.

Nicholas Latifi aprontou novamente quando acertou Ghanyu Zhou enquanto brigavam pela penúltima posição. Os dois estavam lado a lado, mas Latifi acabou espremendo o chinês do muro, acarretando o abandono de ambos e a primeira entrada do SC do dia. Pior foi Latifi dizer que não tinha visto Zhou, sendo que segundos antes eles estavam lado a lado. Latifi pensou que Zhou tinha sido abduzido?

Por essas e outras que, mesmo trazendo muito dinheiro à Williams, Latifi já foi dispensado da equipe para 2023…

Pérez venceu pela segunda vez nesse ano e novamente numa pista de rua que começou com piso molhado, repetindo o que aconteceu em Mônaco, mantendo a incrível sequência de vitórias da Red Bull no ano, além de se aproximar de Leclerc na luta pelo vice-campeonato. A dupla da Ferrari teve uma corrida trivial, onde não erraram, mas não também não forçaram tanto para isso, como aconteceu com Hamilton e Verstappen, que erraram à vontade no dia de hoje. Foi uma corrida longa e dura, com os pilotos saindo do carro cansados. Nem mesmo a super preparação física dos pilotos atuais pode prever a tensão de uma corrida que começou com piso molhado e com muito calor. No dia das eleições mais tensas dos últimos anos no Brasil, a F1 apertou onze e elegeu Pérez como o vencedor da corrida em Cingapura.

Como todo esportista brasileiro, lamentamos bastante o falecimento do nosso ‘Galinho de Ouro’ Éder Jofre, um dos maiores pugilistas da história do boxe.

Abraços!

João Carlos Viana

JC Viana
JC Viana
Engenheiro Mecânico, vê corridas desde que se entende por gente. Escreve sobre F1 no tempo livre e torce pelo Ceará Sporting Club em tempo integral.

3 Comments

  1. Fernando marques disse:

    Pelo seu relato … Parece que a corrida foi boa. O que eu quis dizer foi que eu não gostei. Mas show de bola a sua coluna

    Faltou esse complemento.

    Fernando Marques

    • Olá Fernando!

      Sempre bom você por aqui!

      A corrida não foi das mais animadas em termos de grandes ultrapassagens, mas foi movimentada. Um fator que também pode causar essa sensação de chatice foi o tamanho da corrida. Será que não está na hora de Cingapura ser como Mônaco e ter sua quilometragem diminuída?

      Escreva sempre!

  2. Fernando marques disse:

    JC,

    Pelo seu belo relato, digamos até perfeito a respeito da corrida, sinceramente não gostei da corrida. Pra mim ela foi chata.
    Se não fosse os safity cars, virtual ou não, o checo tinha levantado muito mais poeira na Ferrari
    Agora não sabia dessa história da RED Bull e Aston Martin estourarem o limite teto de gastos. Se for verdade, outro campeonato roubado pra Verstappen.

    Fernando Marques
    Niterói RJ

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