His name is… Bob Dylan

Engenheiro da vitória
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Caos na confirmação da expectativa – coluna + YouTube
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Há quem já chegue pronto ao mundo. É o que mostra “Um completo desconhecido”, a cinebiografia dos primeiros anos de vida profissional de Bob Dylan – acho que já falei aqui que gosto deste cara… (https://gptotal.com.br/a-morte-mais-vil/ e https://gptotal.com.br/bob-nico/, por exemplo)

Bob saiu dos sertões dos Estados Unidos direto para o sucesso em Nova York, impressionando quem o ouvisse desde os primeiros acordes. Brilho criativo, ousadia, personalidade, determinação, discernimento, um toque de sorte de encontrar rápido os interlocutores certos, está tudo ali, como que por um milagre. E ele não se perde no sucesso que atinge, algo que arruinou e arruína a carreira de centenas de artistas. Pelo contrário, Bob desenvolve as suas qualidades, não perde o fio das ideias nem a coragem de se renovar, mantendo-se integro e coerente até hoje, aos 83 anos de idade.

À Fórmula 1, muita gente já chegou pronta como Bob, se impondo desde seus primeiros GPs – Lewis Hamilton, Michael Schumacher e Ayrton Senna, só para citar os casos mais recentes. Jacques Villeneuve também está nesse time – onze pódios em seus quinze primeiros GPs –, mas ele já vinha de sucesso na Indy e, depois de dois anos na F1, por conta de escolhas infelizes e, creio eu, uma personalidade peculiar, meio como a de Bob, viu as vitórias escapar-lhe.

Outros jovens pilotos impressionaram desde cedo – Max Verstappen, Fernando Alonso, Mika Hakkinen e Emerson Fittipaldi, por exemplo –, mas por diferentes motivos demoraram um pouco a quebrarem a barreira da vitória.

Esperamos que este venha a ser o caso de Gabriel Bortoleto (foto acima).

O juízo que se faz dele me parece bem sintetizado por Helmut Marko, que o definiu como um piloto ‘B’. “É um muito inteligente, ganhou a F3, mas com apenas uma vitória e se manteve longe de problemas, parecido com a F2, ganhou duas provas. Ele é o piloto que leva o carro até a chegada, é bom em termos de estratégia e conservação dos pneus, mas eu não acho que ele tem aquela velocidade pura”. Bortoleto respondeu com elegância: “Helmut colocou muitos talentos na F1, acertou e errou e espero que eu prove que ele está errado”

O brasileiro chega à F1 como um dos pilotos menos preparados na história, pelas restrições espartanas aos testes. Também terá se conviver com uma equipe que está sendo reconstruída depois da chegada de Mattia Binotto, que encontrou um organograma com ao menos duzentas vagas abertas, a construção de sede e simulador, sem falar no maior desafio: ter um bom carro e motor em 26, quando a equipe passa a se chamar Audi, com a responsabilidade de reproduzir na F1 o extraordinário cartel de vitórias que conquistou no Mundial de Marcas neste século.

Os testes no Bahrein não poderiam ter sinal pior. A Sauber foi a única equipe a não melhorar seus tempos em Sakhir, 1m31s do próprio Bortoleto no segundo dia dos testes x 1m30s7 de Valtteri Bottas no grid de 24, os carros demonstrando terem problemas de tração.

Marko também avaliou outros novatos de 25, os maiores elogios ficando pra Andrea Kimi Antonelli, da Mercedes.

Será ele um novo Bob?

Estamos a horas da largada do GP da Austrália (escrevo antes do 1º treino livre) e ninguém é capaz de arriscar um palpite sobre favoritos ao título.

Há uma impressão geral de que a McLaren mantem a superioridade técnica do final da temporada passada, ainda que a Ferrari tenha somado mais pontos nos últimos dez GPs, 307 x 300. Falando a AutoSprint sobre os testes no Bahrein, Ivan Capelli notou o que chamou de “um grande passo” da McLaren no ganho de estabilidade na fase crucial entre frenagem e reaceleração nas curvas.

Pesa, porém, uma desconfiança de muita gente – e que eu compartilho – sobre a capacidade de Lando Norris e Oscar Piastri em se imporem em uma disputa contra Verstappen, mesmo ao volante de um carro melhor.

Pode sair algum milagre da Ferrari e da Mercedes, mas temos de esperar pra ver se, desta vez, os engenheiros acertaram a mão, se a idade de Hamilton não lhe tirou um pouco do talento e se Charles Leclerc e George Russel são fortes o suficiente para disputar um título – coisa em que não acredito.

Tudo somado, a temporada começa, para mim, com a pergunta: alguém será capaz de superar Verstappen? Vejo o holandês no auge da forma, somando velocidade, domínio do carro e da equipe, toda voltada a ele, e uma capacidade de leitura de corrida e da temporada muito acima da oposição. O considero favorito a um quinto título mesmo mantendo-se os problemas do RBR observados a partir da metade da temporada passada. Capelli, à propósito, considerou o carro competitivo, ainda que exigindo muito trabalho de Verstappen na correção do volante.

Ainda sobre o holandês, segue em aberto o seu futuro: irá para a Aston Martin? Fala-se também na hipótese Mercedes, mas isso dependeria da quebra de uma pretensa promessa de Toto Woff a Hamilton: enquanto o inglês estiver na F1, a equipe não contrataria Verstappen.

A F1 começou os festejos da sua 75ª temporada no Bahrein sendo lembrada que somos pó, todos nós.

A toda a arrogância da apresentação em Londres à la Victoria’s Secret, sucedeu-se uma sessão de testes repleta de pequenos vexames – falta de energia elétrica em Sakhir, por exemplo. Ainda por cima, o calor e o vento variavam de sessão para sessão, complicando a análise do desempenho das equipes.

Os colegas do Formula Data Analysis fizeram o possível para destrinchar os resultados do Bahrein. A previsão deles para o começo da temporada: a McLaren seria a mais rápida, seguida pela Ferrari (+0s15/volta), RBR (+0s21) e Mercedes (0s23). A Williams seria uma distante quinta, seguida por Alpine, Haas e Racing Bulls. No final da fila, Sauber e Aston Martin.

Um registro: seguem os questionamentos sobre a legalidade do nível de flexibilidade das asas traseiras de McLaren e Ferrari. A Fia promete mais rigor na fiscalização, inclusive com instalação de câmeras.

Outro registro: Interlagos é o 8º autódromo mais longevo da F1 em 25!

Um lamento: é absolutamente inacreditável que chegamos ao ponto de uma única sessão de testes pré-temporada!

Enquanto isso, Mohammed Ben Sulayem, o presidente da Fia, sedento de dinheiro e poder, vai fazendo na federação o que Donald Trump tenta fazer no governo americano, mudando a composição de órgãos de governança e baixando regulamentos autoritários.

Derrubá-lo parece algo distante pois, seguindo métodos postos em práticas décadas atrás por João Havelange quando presidia a Fifa, Sulayem seduz ou simplesmente cria federações em países distantes, garantindo votos para a sua reeleição.

Mantido no cargo de presidente da Liberty Media até 29, Stefano Domenicali encara o desafio de estabelecer as bases da convivência das transmissões ao vivo da F1 entre TV aberta, TV paga, streaming, internet ou algo ainda mais novo?

Até recentemente, a venda dos direitos de transmissão para TV aberta (Globo e a Band, por exemplo) era a maior fonte de receita da F1. Bernie Ecclestone namorou a hipótese de concentrar as transmissões em canais pagos (como o Sportv e o da própria F1), mas a iniciativa não decolou. Sendo o objetivo publicitário de qualquer transmissão esportiva a exposição das marcas dos patrocinadores no autódromo, carros e intervalos ao maior número de pessoas, qualquer movimento tem enorme repercussão.

Como todos sabem, a audiência da TV aberta cai de forma acentuada, principalmente junto aos mais jovens, diante das opções digitais cada vez mais fáceis. Domenicali citou recentemente que 230 milhões de pessoas assistiram aos destaques das corridas no YouTube.

Vamos ver como as coisas evoluem, mas é fácil prever que será cada vez mais difícil desfrutar das transmissões sem pagar.

Mais desafios para Domenicali: concluir as negociações para renovação do Pacto da Concordia para 26 e, muito provavelmente, discutir a entrada de uma 12ª equipe na categoria, a Toyota sendo a principal candidata.

Motores V10 em 2031?

Acreditem se quiserem, mas já há defensores da ideia para um novo regulamento de motores quando se esgotar o que entra em vigor no ano que vem. Entre os defensores está Christian Horner, chefão da RBR, e Domenicali, que argumenta que o esporte tem que planejar para o longo prazo e estar preparado para a possibilidade de os fabricantes se retirarem. Regras mais simples seriam um benefício, pois abririam as portas para fornecedores como a Cosworth.

Já Horner, que, com o apoio da Ford, vai se tornar um fabricante de motores em 2026, reclama que inadvertidamente, a F1 acabou arcando com um motor muito caro e complexo a partir do ano que vem. “Acho que o purista em mim adoraria voltar para um V10 que fosse feito de forma responsável, com combustível sustentável e que reintroduzisse o som das corridas de Grand Prix”.

Sobre “Um completo desconhecido”, achei um filme legal, capaz de emocionar, principalmente nas cenas de palco e as passadas no hospital onde Woody Guthrie, maior inspiração de Bob, agonizava.

James Mangold, o diretor do filme, é nosso conhecido de “FordxFerrari” e também do ótimo “Johnny & June”. O ator Timothée Chalamet está longe de cantar como Bob, mas tudo bem, e Monica Barbaro está belíssima e faz jus a Joan Baez.

Uma boa temporada a todos

Edu

 

Eduardo Correa
Eduardo Correa
Jornalista, autor do livro "Fórmula 1, Pela Glória e Pela Pátria", acompanha a categoria desde 1968

3 Comments

  1. Fernando Marques disse:

    Edu,

    Não sei o por que do Nelson Piquet não constar na lista de pilotos primeira parte da coluna. Seu primeiro ano na fórmula 1 foi ruim em resultados por causa do carro. Bom segundo ano foi vice campeão … no ano seguinte campeão. Não entendi. Desde sua primeira corrida na fórmula 1 ele chamou a atenção se todos.

    Quanto a temporada 2025. Minha torcida é pelo sucesso do Bortoleto. Afinal temos por quem torcer na fórmula 1 de novo.
    Depois torço pelo sucesso do Hamilton na Ferrari. Pra mim ele é o único que pode superar o verstappen em termos de pilotagem

    Fernando Marques
    Niterói RJ

    • Edu disse:

      Oi Fernando, obrigado pelos comentários
      Piquet certamente foi um talento precoce, bastando para isso o que fez na F3 inglesa , mas ele demorou 22 GPs até ter seu primeiro resultado notável na F1, 2o lugar na Argentina/80.
      Poderia, claro, tê-lo incluído na lista dos que demoraram um pouco mais pra se impor, mas não o fiz porque sempre achei que ele foi pra Brabham pelo fato de, ao lado do talento, ter topado um contrato leonino do Bernie, coisa da qual o inglês não abria mão, basta ver quem ele colocou ao lado de Piquet em 80…
      Abraços
      Edu

  2. Leandro disse:

    Ando bem animado com esta temporada, embora não signifique muita coisa, sou apenas espectador rsrs

    Gosto da postura do Bortoletto, espero que ele consiga mostrar serviço mesmo com as limitações da equipe, sinto que ele é uma contratação sólida e já mira o médio prazo.

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