Poucas horas antes da largada para o Grande Prêmio de Miami, o governo do estado da Flórida chegou a lançar um aviso de tornados para a região do Hard Rock Café Stadium. A verdade foi que nem choveu, mas a McLaren foi um verdadeiro furacão nas pistas floridenses. Mesmo tendo perdido a pole para Max Verstappen no sábado, o time comandado por Zak Brown e Andrea Stella mostrou seu verdadeiro potencial no domingo, com um ritmo de corrida avassalador a ponto do terceiro colocado e primeiro carro não-McLaren ter chegado 37s atrás da dobradinha papaia.
No entanto, não se pode afirmar que foi um passeio no parque para Oscar Piastri e Lando Norris. E o culpado foi o de sempre. Depois de tomar a pole de forma espetacular, Max Verstappen deu bastante trabalho aos pilotos da McLaren, em disputas duras e vendendo bastante caro as ultrapassagens, chegando a tirar Lando Norris do sério. Já Piastri conseguiu sua quarta vitória em seis corridas e vai se consolidando cada vez mais como seríssimo candidato ao título desse ano.
O cenário hedonístico em Miami fez com que várias equipes mudassem layouts de cores dos carros ou dos uniformes dos pilotos. A Ferrari surgiu com uma pintura com mais azul, lembrando a traseira da Williams do começo dos anos 2000. Mais um tiro n’água no marketing do time de Maranello, mas o final de semana mostraria que esse seria o menor dos problemas ferraristas.
O fenômeno Andrea Kimi Antonelli pela primeira vez em sua curta carreira na F1 levantou sobrancelhas ao conquistar uma bela pole na Sprint Race. Porém, o sábado foi mais um dia em que a F1 passou vexame pela aversão que os atuais carros têm com a pista molhada. Pneus muito largos e muita água saindo debaixo dos carros pelo fluxo dos assoalhos com efeito-solo faz com que a visibilidade dos pilotos seja bastante prejudicada. Antes da Sprint Race uma chuva torrencial encharcou o asfalto de Miami, mas a chuva já tinha parado quando os pilotos largaram atrás do SC e não demoraram a aparecer as reclamações de falta de visibilidade. A bandeira vermelha surgiu após apenas uma volta e as eternas críticas de que os melhores carros e pilotos do mundo não conseguem correr com pista molhada surgiram novamente. E com razão!
A minicorrida teve uma vitória sortuda de Norris, que foi aos pits colocar pneus slicks bem no momento em que Alonso era jogado para fora da pista por um desastrado Lawson, causando o SC que ficou até o final da prova. Piastri, que havia dado um chega pra lá no novato Antonelli na primeira curva, liderou a prova inteira, mas tendo que andar mais lento por causa da bandeira amarela em toda a pista, apenas teve que assistir Norris emergir na ponta após sua parada. Lando e SC em Miami é uma combinação que dá muito certo.
McLaren e Verstappen, o novo papai da F1, dominaram a classificação horas depois da Sprint, mas no Q3 Norris e Piastri deram pequenas escapadas e Max não titubeou em capitalizar os vacilos alheios para conseguir outra pole em que ninguém poderia apostar.
Antes da corrida havia previsão de chuva e até mesmo avisos de tornados foram emitidos pelo governo da Flórida. Havia o receio de que as cenas vistas no sábado se repetissem no domingo. Contudo, a pista estava seca no momento da largada, mas como a previsão era de chuva em qualquer momento, os pilotos largaram com um senso de urgência maior do que o normal. Saindo da pole Max Verstappen fez outra largada diagonal, trancando a porta de Lando Norris, mas ao frear no limite, ‘embarrigou’ a primeira curva, dando chance para Norris dar o bote. Desde o ano passado Max se especializou em bater o pé e colocar Lando no seu cantinho e novamente o neerlandês o fez, fechando Norris que para não bater, saiu da pista e caiu para sexto. Como sempre o inglês choramingou via rádio, mas a McLaren não tinha muito do que reclamar, pois Piastri fizera algo muito parecido em Jedá com Verstappen.
O piloto da Red Bull liderava a prova após a primeira volta, na frente de Antonelli e Piastri. Mesmo com o tempo fechado, o clima úmido e quente de Miami favorecia claramente o ritmo de corrida da McLaren e Piastri não demorou muito para deixar Antonelli para trás e partir em perseguição à Verstappen. E Oscar teve que usar seu talento para não cair nas artimanhas de Max e o derrotar numa luta dura, onde Verstappen jogou pesado, mas Piastri parece mais vacinado do que Norris, que à essa altura já tinha escalado o pelotão e estava encostando na dupla que ponteava a prova.
Sem ritmo para liderar a prova e andando muito mais que o potencial do carro, Verstappen novamente jogou duro com Norris. As três zonas de DRS deixaram Max com poucas chances contra uma McLaren muito superior ao seu Red Bull, mas Verstappen não entregou a paçoca fácil e essa batalha que teve como vitorioso Lando Norris praticamente definiu a corrida, pois quando o inglês finalmente se livrou de Max (com direito a dedo do meio e tudo), Piastri já estava definitivos 8s na frente. Para melhorar a situação para a McLaren, a esperada chuva passou ao largo do estádio Hard Rock Café e nada pôde impedir a dobradinha da McLaren, a mais dominante de 2025.
Quando foi ultrapassado por Norris, imediatamente Verstappen perdeu rendimento com os pneus em frangalhos pela disputa dupla com a McLaren, mas Antonelli não conseguia encostar e então veio o SC Virtual pelo carro de Bearman parado ao lado da pista com o motor quebrado. Max já tinha feito seu pit-stop, mas um obscuro quinto colocado Russell ainda não. George então tirou a sorte grande, pois fez sua única parada bem no momento do SC Virtual e o inglês saiu à frente de Max, pulando para terceiro. Usando pneus médios e ar limpo, Russell não teve maiores problemas para manter o terceiro lugar e subir novamente no pódio.
Quando a McLaren colocou pneus duros nos seus dois carros, Lando esboçou uma reação, mas Piastri parecia ter tudo sob controle e mesmo a diferença tendo caído de 8 para 3s, o australiano não se abalou e com a vitória desse domingo, se igualou a Norris em número de vitórias, mas no campeonato 2025, chegou ao seu quarto triunfo, enquanto Lando tem apenas um, além de dezesseis pontos a menos. Piastri começa a abrir uma vantagem considerável para Norris, que precisa urgentemente tirar Verstappen da cabeça, pois Oscar parece ser o grande adversário de Norris pelo título.
O sortudo terceiro lugar de Russell o deixou mais próximo de Verstappen no campeonato, do que o neerlandês está do vice-líder Norris. As voltas milagrosas de Max Verstappen na classificação não parecem ser o suficiente para bater a McLaren nesse momento e ficar apenas seis pontos do quarto colocado Russell parece ser a realidade do momento para Max, que vai levando a Red Bull nas costas. Yuki Tsunoda faz um trabalho bem melhor do que Liam Lawson, mas ainda assim o japonês só marcou um pontinho na corrida, mais de um minuto atrás do líder e 35s depois de Max, sendo que Yuki ainda foi punido por ter excedido o limite de velocidade nos pits. Verstappen contabiliza impressionantes 94% do total de pontos conquistados pela Red Bull esse ano.
Após ter assombrado em volta lançada, Andrea Kimi Antonelli se mostrou menos impressionante em ritmo de corrida e mesmo tendo andado em terceiro no começo da corrida, seu ritmo despencou e ele terminou apenas em sexto, mas há bastante potencial no jovem italiano.
A Williams surpreendeu ao andar no mesmo ritmo de Ferrari e numa excelente corrida de Alex Albon, o anglo-tailandês superou Antonelli para ficar num ótimo quinto lugar, amealhando bons pontos para a Williams. Sainz terminou em nono e viu de camarote a confusão via rádio protagonizada pela dupla da Ferrari, com declarações fortes e ácidas de Leclerc e Hamilton, resultando em duas constrangedoras trocas de posição, que não valeu nada mais do que a sétima posição. Muito, muito pouco para uma equipe que prometia tanto e agora precisa domar seus dois pilotos.
Na volta final, talvez desconcentrado pela briguinha via rádio com Leclerc, Hamilton deixou a porta aberta no final da reta oposta e Sainz mergulhou com tudo. Lewis percebeu tarde demais a manobra e jogou sua Ferrari em cima do bólido do espanhol, resultando num toque forte entre eles, mas sem troca de posições.
Com as quatro equipes grandes chegando ao fim sem problemas e a Williams numa tarde especial, restou pouco para as demais equipes. Gabriel Bortoleto teve sua melhor classificação até o momento e chegou a flertar com o Q3. Na corrida ele chegou a ultrapassar Hamilton na primeira volta, mas perdeu a posição logo em seguida e ficou à frente o primeiro stint inteiro de Hulkenberg, sendo o primeiro piloto a fazer o seu pit-stop, no que parecia ser uma tática errada pela chuva que se aproximava, mas como ela não veio, não fez muita diferença, principalmente com o problema na bomba de combustível que fez Gabriel abandonar. Hulkenberg fez outra corrida sólida, chegando a figurar no top10 antes de sua parada e ficar fora dos pontos.
Hadjar fez uma corrida discreta, não capitalizando a punição de Tsunoda, faltando 2s para tal, enquanto Lawson abandonou após seu carro ter sido atingido na primeira curva por Doohan e não ter tido rendimento a prova toda. Alpine e Haas passaram a corrida praticamente incógnitas, enquanto a Aston Martin ficou com as duas últimas posições, se consolidando como uma das piores equipes de 2025. Newey terá trabalho.
Muito se falou que a Cadillac anunciaria Sergio Pérez como um dos seus pilotos para 2026 nesse final de semana, mas tudo o que a tradicional montadora americana fez foi apresentar um vídeo introdutório e nada mais. Novamente Dan Towriss, CEO da equipe, falou que pensa num piloto americano para o próximo ano, mas se Towriss olhar para a Indy a escolha lógica seria Alex Palou. O espanhol vai fazendo algo bastante raro na Indy: dominar. Nesse domingo Palou conseguiu sua terceira vitória em quatro corridas em 2025, liderando o campeonato de forma implacável e rumando ao tetracampeonato.
Poucos minutos antes da largada para o Grande Prêmio de Miami, a família de Jochen Mass anunciou o falecimento do piloto germânico aos 78 anos de idade, enlutando toda a comunidade automobilística. Piloto consolidado da F1 na década de 1970, Mass foi o último alemão a vencer na F1 antes de Michael Schumacher e após se envolver no acidente fatal de Gilles Villeneuve em 1982, Mass se mudou de forma definitiva para o Mundial de Marcas, vencendo as 24 horas de Le Mans em 1989 com a Mercedes. Uma verdadeira pena…
Após a corrida em Miami, Zak Brown chamou seus dois pilotos para uma selfie. O dono da McLaren não poderia esperar por um final de semana melhor em Miami. Dobradinha na Sprint e na corrida principal, simplesmente 100% dos pontos possíveis conquistados, além de quase 40s na frente do próximo carro. Se não vacilarem na classificação, Piastri e Norris tem tudo para dominarem no domingo em qualquer pista.
O que Brown, Andrea Stella e seus papaia caps precisam administrar é uma possível disputa forte entre seus pilotos. As lutas com Verstappen vão dando casca para ambos os pilotos da McLaren, mesmo que Piastri esteja à frente nesse quesito. A grande questão para a McLaren será o momento em que seus dois pilotos travarem uma briga forte entre si, como a que tiveram com Max no primeiro terço da prova desse domingo. Aí veremos como Brown e Stella administrarão seus rapazes. No momento, é tudo alegria para os lados da McLaren.
Abraços!
João Carlos Viana
1 Comments
J.C. Viana,
Corrida foi animada início por causa do Verstappen … Depois o que vimos foi uma corrida chata, com as estratégias bem definidas por vc na coluna.
Até o momento a grande decepção se chama Ferrari. Não podemos criticar o Hamilton e nem o Leclerck … São apenas figurantes na pista.
Bortoleto ao menos animou a torcida brasileira nos treinos de classificação. Mas sinceramente o que funciona direito nesse carro da Sauber?
Fernando Marques
Niterói RJ