Particularmente não gosto de me referir a coisas “a-religiosas” usando termos que vêm da religião: por exemplo, quando alguém escreve uma “Bíblia do Churrasco” (sim, isso existe!) ou quando intitula a camisa de algum time como “O manto”, ou ainda quando “batiza” alguém, coisas assim. Mas há situações em que essa é mesmo a melhor analogia.
No próximo fim-de-semana, a Fórmula 1 visita as ruas de Monte Carlo, e a Fórmula Indy vai à sua casa, Indianápolis. São, ao mesmo tempo, dois verdadeiros ‘templos sagrados’ do automobilismo mundial, e palcos verdadeiramente consagradores.
Recentemente falamos sobre alguns feitos realizados pelo grande Graham Hill (sua estreia na categoria e sua última vitória ocorreram no mesmo 18 de maio) em Mônaco, e é digno de nota ter sido ele o único piloto da história a vencer as 3 corridas mais tradicionais (uma ‘Santíssima Trindade’?) de todos os tempos: ele ganhou as 24 Horas de Le Mans, as 500 milhas de Indianápolis e o GP de Mônaco. Aliás, o feito de Graham Hill toma maiores proporções ainda se pensarmos nos outros nomes da F1 que percorreram os dois caminhos.
Nem mesmo o escocês Jim Clark (único homem da terra a ser campeão do mundial de F1 e vencer as 500 milhas no mesmo ano), Emerson Fittipaldi (único a ser bicampeão do mundial de F1 e das 500 milhas), Mario Andretti (vencedor das 500 milhas e migrou para a F1 depois, conquistando o mundial em 1978), Nigel Mansell (não levou nenhum dos troféus, mas é o único caso de campeão da F1 e da Indy em sequência) e Jacques Villeneuve (que venceu as 500 milhas e o campeonato e por muito pouco não repetiu o feito de Mansell) conseguiram vencer em Indianápolis e em Mônaco: somente Juan Pablo Montoya (!), ele mesmo, conseguiu “igualar” Graham Hill, vencendo a Indy 500 em 2000, e o GP de Mônaco em 2003.
httpv://www.youtube.com/watch?v=vPvqyUjhBTI
Ontem foi decidido o grid das 500 milhas, e penso que Rubens Barrichello acabou surpreendendo com sua 10ª posição na largada. O prognóstico que se vinha fazendo era bastante pessimista, alguns até cogitando que o piloto ficasse na lista do “Bump Day”. Mas Rubinho ficou entre os 10, e à frente de nomes como Dixon, Franchitti e Pagenaud.
Barrichello chega aos seus 40 anos na próxima 4ª feira, e parece, aos poucos, estar encontrando o “caminho das pedras” na Fórmula Indy. Acho que ainda não se pode pensar em vitória, mas acredito que o brasileiro está fazendo um papel decente. Aliás, entendo que a Barrichello e sua adaptação na Indy não tem sido dada a mesma ‘tolerância’ que foi dada a Schumacher em seu retorno à F1.
Foi-se o tempo da clássica frase de Bernie Ecclestone, quando perguntado sobre ‘quem eram melhores pilotos’, se os da Indy ou da F-1: o ‘chefão’ respondeu que “não havia dúvida”, uma vez que “metade dos pilotos da Indy já eram avós”. Hoje, o único vovô talvez seja Jean Alesi (como diz Lucas Giavoni, está “na pior equipe do grid e com um motor de máquina de lavar”), último colocado no grid.
A questão da idade já não é mais o ponto-chave no contraponto das duas categorias, e a Fórmula Indy também já não é mais aquela coisa tão maçante de antes. Acompanhei dois GPs da categoria norte-americana esse ano, e confesso que gostei do que vi.
Ainda temos todas aquelas reservas sobre a bandeira amarela, etc, mas não vejo nisso algo pior que os regulamentos “competitivos” da F1.
A chegada da F1 a Mônaco (há 62 anos acontecia o primeiro GP no principado) anuncia uma corrida com muita expectativa para uma temporada muito inusitada.
Até aqui foram 5 vencedores diferentes em 5 etapas, e todos esperam que Mônaco possa também trazer surpresas. Será a vez de Kimi?…
Vejo Fernando Alonso com chances, mas ainda penso na McLaren como favorita. Só que agora já não se pode desdenhar da Williams de Maldonado (que sempre andou bem lá!), e da Red Bull. E não esqueçamos da Mercedes, cujos pilotos apostam em bons resultados.
Como diz o outro: “palpitando assim, como é que vai errar?!”
Aliás, Schumacher – que irá perder 5 posições no grid em virtude da barbeiragem pra cima de Bruno Senna – andou soltando o verbo, dizendo que é “irônico os pilotos e a categoria lutarem por segurança e ainda assim correrem em Mônaco”, mas que é “justificável” pois “é divertido”.
Mandou mal, de novo, o heptacampeão. Não se profana um templo sagrado.
Abraços a todos e ótimo fim-de-semana.
10 Comments
A propósito, o maior vencedor da história do Grande Prêmio de Mônaco é o brasileiro Ayrton Senna que venceu seis vezes (1987, 1989, 1990, 1991, 1992 e 1993). Assim como, a melhor volta em corrida foi – ainda que alguns não gostem, mas se trata de fato histório – de Michael Schumacher, com 1min 14s 439 (2004, Ferrari). Abraços,
Schumacher e Graham Hill estão empatados com 5 triunfos no principado.
Abraço!
Mauro Santana
Curitiba-PR
Teremos um domingo de gala no automobilismo … o GP de Monaco, com pista seca sempre é monótono mas um monotonomo bom de se ver … correr naquelas ruas do principado deve ser o glamour dos glamoures … quando chove é aquela loteria … e talvez seja o unico circuito em que o piloto pode pegar a sua scooter em casa e ir para a corrida …
Indianapolis 500 sempre foi uma maravilha de se ver … aquela vitoria do Emerson (se não me engano a sua 2ª) em que ele lutou e venceu o All Unser Jr lado a lado nas ultimas voltas foi de tirar o folego … é uma corrida que meche com os brios e ali a gente vê quem é macho de verdade …
A Formula Indy hoje tem uma enorme vantagem em relação a Formula 1 … só vemos carros bonitos na´pista …
Fernando Marques
Niterói RJ
Grande Fernando!
Bem lembrado a vitória do Emerson, mas esta de 1989 que ele duelou com All Unser Jr foi a primeira das suas duas vitórias no templo.
A segunda, de 1993, ele duelou o tempo todo com Mansell, Andretti, e cia, tendo uma arrancada final como numa corrida de cavalos!
Essas coisas que me dão saudades como brasileiro, pois se olharmos o nosso passado, tínhamos cada fera brasileira na pista que dava gosto de ver.
Abraço!
Mauro Santana
Curitiba-PR
Mauro,
eu gosto muito de ver corridas mas quando não tem um brasileiro levantando poeira nos outros te juro que da uma dor no peito …
obrigado por lembrar de forma correta as vitorias do Emerson em Indianapolis … vale lembrar que em 93, Emerson venceu um duelo com Mansel se não me engano em Laguna Seca … Mansel colado na traseira do rato que em momento algum deixava ele passar … lembrando muito a sua vitoria no GP da Belgica em 74 quando ele teve no seu retrovisor durante toda a corrida a Ferrari do lauda … realmente do passado não temos o que reclamar …
Fernando Marques
Niterói RJ
Sem duvida, domingão vai ser muito bom para o automobilismo!!
Lembro de 2009, em que Mônaco e Indianápolis se encontraram.
Na primeira, vitória de Button com a Brawn numa corrida monótona.
Na segunda, uma vitória emocionante do nosso Castroneves, e uma corrida fantástica!
Abraço a todos!
Mauro Santana
Curitiba-PR
Grande Mauro! Fantastico comentario! Mauro sera que eu estaria louco em dizer que nossos melhores pilotos brasileiros estão na indy? O que você acha? Um abraço!
Olá Rafael!
Na minha opinião, hoje, nossos melhores pilotos brasileiros estão na Indy, pois lá temos o Kanaan campeão de (2004), Castroneves tri da Indy 500 (2000, 2001 e 2009), e o Barrichello, que esperamos que faça uma história ainda mais rica que na F1.
Hoje na F1, infelizmente nossos dois pilotos brasileiros estão muito abaixo do nível que o Brasil sempre esteve na F1.
Abraço!
Mauro Santana
Curitiba-PR
Eu acompanho a indy desde 2004 quando Tony Kanaan venceu o campeonato daquele ano. Fico contente que os colunistas deste site estao falando mais da indy. Acredito que a indy esteja mais emocionante que a F1, pois na indy o cara que larga la nas ultimas posiçoes tem a mesma chance de quem larga na frente de vencer a corrida, é só olhar o exemplo de Dan Wheldon em Indianapolis no ano passado.
Tbm não sou fã de dar nomes “religiosos” a coisas do esporte, mas com toda a certeza é um fim de semana especial, Mônaco/Indianápolis, faltando apenas as 24h de Le Mans no mesmo dia pra fechar.
Muito se fala de Pastor Maldonado andar bem em Mônaco, porém se esquecem de Bruno Senna que também já venceu no Principado, Senna precisa mostrar serviço, e quase sempre que precisou mostrar, mostrou.