Essa turma da geração Y veio para acabar com tudo!
No mundo corporativo, eles estão deixando de ser estagiários e trainees para assumir posições gerenciais. Vários deles têm menos de 30 anos e já ostentam títulos de pós-graduação, MBAs e vivência no exterior. Dominam as novas tecnologias com uma destreza quase irritante e, não raro, acham prosaico que ainda utilizemos o e-mail como forma de comunicação e que compremos CDs para ouvir música. Se o amigo nasceu antes de 1980, cuidado, os jovens da Geração Y estão se preparando para engolir você.
Na Fórmula 1, o primeiro piloto da Geração Y a se sagrar campeão foi Fernando Alonso, à época desbancando Emerson Fittipaldi como campeão mais jovem da história. O recorde do brasileiro, que durou vinte e três anos, pareceu batata quente daí para frente. Em 2008, Lewis Hamilton tirou o cetro da mão do espanhol, para entregá-lo a Sebastian Vettel só dois anos depois. Nada de anormal que o esporte consagre os jovens. O peso da idade, a perda dos reflexos, a fileira de conquistas e a inevitável perda de motivação decorrente delas aniquilam as chances dos mais velhos. Michael Schumacher não me deixa mentir.
Vettel, no entanto, parece estar além da habilidade com máquinas e botões tão cultivada pelos nascidos nos anos 1980. De fato, em 2012, o campeonato deu-lhe pelo menos duas oportunidades de mostrar seu inequívoco talento ao volante de um Fórmula 1 – Abu Dhabi e Brasil. Poderíamos discutir até a próxima passagem do cometa Halley se suas recuperações fantásticas, nessas duas corridas, foram frutos de uma habilidade incomum ou se seu trabalho de Hércules foi facilitado por um carro de outro planeta. Não entro nesse mérito. Parece não haver dúvidas de que Vettel é um piloto extraordinário. Ninguém se torna o campeão, o bicampeão e o tricampeão mais jovem da história em três temporadas seguidas. Mas ele é mais que um piloto tecnicamente superior.
Os predicados de Vettel começam em sua certidão de nascimento. O alemão é muito jovem ainda. Com 25 anos, tem três títulos, 26 vitórias, 36 poles. Em termos de vitórias, é o sétimo na história da Fórmula 1. À sua frente, o único oponente na ativa é Fernando Alonso, com 30. Na proporção entre vitórias e GPs disputados, já está à frente de Alain Prost e de Ayrton Senna, respectivamente o segundo e o terceiro da lista. Acreditar que Vettel possa bater muitos recordes na Fórmula 1 é como predizer que a China será o maior produtor de quase tudo que se fabrica no mundo. Muitos anos para um, muitos braços para trabalhar para outro. É uma questão quase lógica.
É claro que a Red Bull pode sacar um carro ruim uma hora dessas. Adrian Newey é humano e, se até Lionel Massi faz umas partidas ruins aqui e acolá, por que não ele? Ou que o magnata dos energéticos canse das sandices de Bernie Ecclestone e resolva investir, sei lá, no milionésimo novo formato de programa de calouros ou em uma competição de nado sincronizado para robôs manipulados por tripulantes de uma estação espacial. Ainda assim, é difícil imaginar que Vettel não seria disputado a tapas e dólares por Ferrari, McLaren, Mercedes ou quem pudesse lhe dar um carro para continuar vencendo.
Vettel está no Olimpo e por lá deve ficar, no mínimo, por mais uns dez anos. Quem lhe fará companhia? Alonso, certamente por mais uns cinco anos. Hamilton, pouco mais velho que Vettel, ainda tem enorme potencial, mas está em um ponto de inflexão: ou sua ida para a Mercedes leva todos para cima – a equipe e ele junto – ou ele começa a descer a ladeira rumo à mediocridade. É um piloto magnífico, mas meteu-se em uma montanha-russa técnica e emocional que pode (eu disse pode, não deve) custar-lhe uma carreira ainda mais vitoriosa. Jenson Button, na fronteira entre as Gerações X e Y, é outro que entra 2013 no point of no return. Se não se impuser sobre o jovem e inexperiente Checo Perez, pode abraçar de vez o atletismo amador. Ainda que completar uma maratona em menos de três horas seja conquista suficiente para todos nós aqui, imagino que sem exceção, tirarmos o chapéu para o campeão de 2009. Kimi Raikkonen, revigorado em uma volta consistente que lhe rendeu o terceiro lugar no Mundial, pode também incomodar o alemãozinho tricampeão.
Quem mais? Não sei. Mas não vejo nenhum brasileiro no retrovisor de Vettel, nem de nenhum de seus desafiantes. Ora, direis, e Felipe Massa, com suas belas exibições no final da temporada? Palmas para o brasileiro, mas alguém pode acreditar que, na Ferrari, Massa teria ou terá direito a algo além das sobras de Alonso? E fora da Ferrari, alguém daria um assento competitivo para o vice-campeão de 2008? Algum de nós consegue vê-lo na McLaren, na Red Bull, na Lotus? Não, amigos, não vou lamentar a falta de um brasileiro vencedor. Vivenciamos um campeonato esplêndido, com corridas inesquecíveis, coroado com um GP do Brasil histórico. Posso me queixar de algumas artificialidades da Fórmula 1 atual, começando por essa asa móvel. Ou dos pneus esfarelados. Ou das punições exageradas e quase moralistas em algumas ocasiões. Mas não vou me queixar de falta de habilidade ou de competitividade.
Tenho certeza – como a de que o mundo não vai acabar em 21/12/12 – que vários garotos e meninas caíram de amor pela Fórmula 1 ao ver Alonso jantar Mark Webber e engolir Massa de sobremesa no final da reta dos boxes, em Interlagos. Ou que um molequinho de dois anos achou graça na enorme carambolage da largada do GP da Bélgica e pediu para o pai repetir a imagem vezes sem conta, e assim enamorou-se da Fórmula 1. E não concebo que esses garotos, meninas e moleques possam ser apenas espanhóis, ou franceses, ou brasileiros. Em várias partes do mundo, hoje, há meninos e meninas da Geração Z nutrindo amor pelo automobilismo, independente de suas nações e das cores de seus pilotos preferidos.
Em Interlagos, conversando com o locutor Everaldo Marques, da ESPN Brasil, comentei seu sucesso ao narrar esportes como futebol americano. Ele me contou que vai a eventos e é cercado por garotos e jovens apaixonados por essas modalidades, que não abrigam brasileiro algum e, portanto, não os atraem porque, lá, há brasileiros com chances de ganhar. Por que, então, a emissora que transmite a Fórmula 1 no Brasil centra seu foco nas possibilidades, bastante diminutas há vários anos, de termos um brasileiro campeão? Por que distorcer fatos, narrar e torcer ao mesmo tempo, enfiar a bandeira, de novo e mais uma vez, em um contexto que é só esporte e competição, não guerra ou disputa territorial? Não parece claro que a Fórmula 1 é uma categoria com potencial realmente apaixonante, independente da bandeira hasteada no primeiro lugar do pódio?
Neste ano, por pouco, o público brasileiro não ficou sem uma transmissão de GP, pois a prova dos EUA coincidiu com um jogo do campeonato brasileiro de futebol. Quem não tem TV a cabo, dançou. A falta de um brasileiro com potencial vencedor não deveria ser justificativa para a emissora que detém os direitos relegar o esporte a um tapa-buraco em sua programação. Se trabalhasse melhor os conceitos por trás da Fórmula 1, é impossível que não atraísse garotos com o mesmo perfil dos que pedem autógrafos para Everaldo Marques por aí. O que será de nós, se a emissora que detém os direitos render-se ao fato de que, sem brasileiro vencendo, não vale a pena transmitir? Vamos ter que ver Fórmula 1 pela internet? Como é essa história de link? Consigo baixar na minha TV com WiFi? Soccorro, tem alguém da Geração Y aí para me ajudar?
2012 foi um ano extraordinário para mim, por inúmeros aspectos. Voltar a escrever no GPTotal, um deles. Obrigada pela acolhida, feliz 2013!
8 Comments
Ótimo texto, Alessandra. Bem humorado, informativo – impressionantes, os números de Vettel -, e válida a questão colocada. Se depender de Reginaldo Leme, não ficaremos sem F1 na “poderosa”. Mas business are business…grande abraço!
Belo post alessandra, acho que o vettel vai bater todos os recordes do outro alemão chamado schumacher.
O futuro da F1? Olha com a crise brasileira.. acho que vai díficil ver pela TV aberta daqui uns anos…
Sobre o everaldo marques acho o sucesso é carisma tem com o telespectador.
Belo Texto Alessandra!
Infelizmente a RG é assim mesmo, sem brasileiros vencendo, a brincadeira perde a graça.
O cumulo do absurdo que eles proporcionam a nós telespectadores, foi aquela entrevista antes do GP Brasil com Bruno Senna.
O que foi aquilo!?
Será que eles não vão parar com essa história de querer que este garoto seja o que o seu tio foi!?
No mais, vamos esperar para ver o que vai acontecer, e eu estou na grande expectativa para ver os carros novos de 2014, que alem de motores turbo, pelo que o regulamento esta mostrando, não deverão mais ter o bico alto, e sim, bem mais baixo, como os Williams do início dos anos 90.
Abraço a todos!
Mauro Santana
Curitiba-PR
O grande problema que vejo no que diz respeito à Fórmula 1 no Brasil é o alto valor cobrado por Tio Bernie & seus asseclas para televisionamento das corridas. Não é qualquer um que pode pagar. A Vênus Platinada, notória por seu conservadorismo um tanto quanto representativo de uma velha ordem (mas pensemos que é sempre preciso considerar a “tia do Acre” e de outros rincões brasileiros onde a Geração Y simplesmente não despertou por causa da pobreza, da desigualdade e do atraso educacional e tecnológico, somados ao estúpido protecionismo alfandegário brasileiro), mantém um modelo que incomoda e afasta os Y e também muitos X, ou qualquer outra letra… Esses mais de 30 anos na companhia daquela voz “vendedora de emoções” chegaram a um ponto de fadiga. Com visão crítica, vamos buscando pelo lado negro da força uma transmissão de melhor qualidade em outros idiomas…
Só agora pude ler o texto com calma e refletir a respeito. Ótimo texto, Alessandra, gostei muito, sobretudo da parte sobre o Brasil.
Assino embaixo do que o(a) ALX escreveu. Vivenciamos um nacionalismo estúpido e vazio propagado pela Platinada e que afugenta as gerações mais novas (com possibilidades e acesso às tecnologias, como bem ponderou), pois, para estas, o país de seus ídolos é um fator menos importante na equação (Messi, C. Ronaldo, Nadal, Federer, Phelps, LeBron, Bryant, Brady, Irmãos Manning etc.); como também afugenta as gerações anteriores, acostumadas às glórias brasileiras passadas e a um modelo evidentemente desgastado – um viva à transmissão da Bandeirantes, bela opção de áudio!
A despeito de regulamentos babacas, há com corridas atraentes e campeonatos competitivos, com vários ídolos nas pistas, Mas a audiência no país patina e é ameaçada por enlatados paleozoicos como Pica-Pau (não tenho nada contra, mas não é programa para comparar com F1!) – assistidos justamente por crianças que não são atraídas pelo modelo Platinado de transmissão.
De alguma forma, meu texto “Para Quarentões?”, do começo do ano, é complementar a esses questionamentos. Tio Bernie morre de medo e não sabe lidar com internet, e por consequência, não faz ideia de como se comportam X, Y e Z. Acabei de mencionar em meu último texto que o canal de youtube da NBA já teve um bilhão de exibições, enquanto este senhor um tanto senil declara caça às bruxas e tira tudo do ar, alegando quebra de direitos de imagem. Não há como ser mais mesquinho e antiquado.
E seguimos aqui no GPTotal, remando contra tudo isso…
Abração!
Lucas Giavoni
Eu concordo que o Sebastian Vettel é o cara a ser batido nos próximos anos … quem pode vence-lo? … No momento só o Alonso pode. E L. Hamilton? … Para mim virou uma incognita pois ninguem sabe o que a Mercedez pode dar ele em termos de carro.
Esportes sempre trazem surpresas e em 2013 ela até pode se chamar Jason Button. A expectativa em torno dele vai ser grande, sendo ele o 1º piloto do time e se o carro render ao menos como rendeu este ano. Não acredito que Ice Man Raikkonen será diferente deste ano. Não por causa dele mas por causa do carro.
Com relação ao Massa acho que 2013 será seu ultimo ano na Ferrari e na Formula 1. E nada diferente do que foi em 2012. Vai faturar uma bela grana por mais um ano e depois vai fazer companhia ao barrichelo na Indy ou na Stock Cars.
Qual será o futuro do Brasil na Formula 1? … Sei lá … do jeito que as coisas andam será preto …
Fernando Marques
Niterói RJ
Alonso e Vettel são o Prost e Senna dessa década. Alguém discorda? Schumacher foi o Fangio de antes. Relegou os adversário a vices e levou 7 de 10 disputas por título. Hamilton seria um Hill, que iniciou numa equipe boa e fez boas corridas? Sim, mas com muito mais qualidade, talento e juventude. Vejamos se ascende ou decai. Kimi lembra Niki Lauda, que voltou e mostrou que podia, e pode. Levou de Prost, o melhor na época, dentro da melhor equipe, pode-se dizer.
Como aprendi em meus 18 anos de F1, esperemos e vejamos. O tempo é que melhor mostra as coisas pra nós. Apreciemos a próxima temporada e consideremo-na em dezembro.
Como a Pirelli é a unica fornecedora de pneus na F1, quem pode afirmar que não é ela que escolhe quem ganha ou perde uma corrida?