Como diria Chapolin...
A triste notícia da morte de Roberto Gómez Bolaños, duas semanas atrás, afetou gente de todas as gerações e dos mais variados lugares, especialmente — mas não somente — na América Latina. Após a passagem do grande artista, foram lembradas as mais diversas frases e episódios de seus principais ícones, Chaves e Chapolin.
Uma das melhores lines do super herói trapalhão era aquela em que, depois de todo um mistério resolvido e desmontado — invariavelmente sem sua participação –, ele dizia ter suspeitado daquilo desde que a história se iniciou. Ontem, dois anúncios foram feitos. Para ambos, seria o caso de evocar Chapolin e sua máxima.
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Fernando Alonso será piloto da McLaren em 2015. Mencionei essa probabilidade no começo da temporada, quando escrevi a coluna “Fernando Reutemann”: lá, eu comparava a trajetória de Alonso à de Carlos Reutemann.
O argentino entrou para a história por sempre ter estado no lugar certo na hora errada. Trocou de equipe freneticamente na fase final de sua carreira, buscando conquistar o título que muito merecia, mas nunca obteve.
Alonso, agora, muda de equipe pela quarta vez nos últimos oito anos. Já esteve nas duas maiores do circo, venceu várias corridas e disputou títulos na última prova da temporada em três ocasiões, mas o Mundial não veio.
“Muitos me consideram louco por sair da Ferrari, mas eu preciso vencer”, disse o espanhol semana passada.
Alonso reencontra o Ron Dennis que lhe nutria um sentimento Charles Bronson, sete anos atrás; reencontra a Honda que saiu humilhada da F1, seis anos atrás; e finalmente formará uma parceria com Jenson Button, com quem dividiu Benetton/Renault doze anos atrás.
Qual, pois, será o maior desafio de Alonso: Dennis, Button ou Honda? Analisemos nessa ordem.
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Quem acompanhou F1 nos últimos anos ouviu, mais de uma vez, Alonso dizer que nunca teve problemas com Hamilton, mas “com algumas pessoas na direção da equipe”.
Sempre pareceu fria a relação do bicampeão com Dennis, em oposição ao paternalismo que este tinha com Lewis. Agora, com o retorno de Alonso ao time, Ron fez questão de rever o passado e até botou na conta de Hamilton a causa da briga.
Dennis sempre teve uma “sazonalidade” no gerenciamento dos pilotos: Prost era o desafiante de Lauda, Senna era o desafiante de Prost, Mika era o desafiante de Senna. Depois, Montoya X Kimi, Alonso X Hamilton e Hamilton X Button.
Outro fator que sempre foi preponderante na história de Dennis à frente do time: grana.
Foi por isso que Senna teve seu contrato corrida a corrida em 1993. E nada me tira da cabeça que foi por isso que Hamilton deixou o time rumo à Mercedes.
httpv://youtu.be/d-vAZ_T84Ks
O contrato de Alonso prevê 25,5 milhões de euros anuais. Button vai levar 6. Problema resolvido, não?
No embate entre os dois pilotos, creio que o espanhol tem boa vantagem: nenhum deles é um ás nas classificações, mas Alonso é mais rápido: é um piloto horizontal, enquanto Button é ascendente.
Em ritmo de corrida, Button tem duas pequenas vantagens: conserva melhor os pneus — algo com que Alonso sofreu muito nos últimos dois anos, especialmente com os compostos duros — e rende melhor em condições adversas (chuva, principalmente).
Porém, nos demais aspectos vejo Alonso como um piloto mais completo. Ele consegue manter um ritmo forte com maior constância e frequência. E está muito mais motivado.
Minha aposta: Button deverá superar Alonso em alguns GPs no começo do ano, mas ao longo da temporada vai dar Fernando.
Portanto, nem Dennis, nem Button: a grande prova de Alonso será a Honda. Não apenas por conta do desenvolvimento natural de um novo propulsor – veja o que opinou Mika Häkkinen, que pegou o início dos trabalhos da McLaren com a Mercedes –, mas também por conta do método de trabalho diferenciado da fabricante japonesa.
O espanhol, que novamente citou Ayrton Senna em sua apresentação, deve se inspirar no brasileiro quando começar seu contato com o japas. Essa pode ser a solução para Alonso no (difícil) trato com a McLaren: afinal, serão duas equipes numa só.
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A outra notícia nada surpreendente do dia foi o relatório da comissão que investigou o acidente de Jules Bianchi (vale reler a excepcional coluna de Manuel Blanco, já “prevendo” o que iria acontecer).
O curioso é que a conclusão apresentada contradiz até mesmo algumas medidas adotadas pela FIA.
A culpa é do piloto. A culpa é da vítima, a culpa é do morto. O trator podia estar lá, não tinha nada de errado.
O que dizer sobre essa merda toda? Fala, Piquet!
httpv://youtu.be/l6VzPw-RpuI
– Não faz parte do jogo da Fórmula 1 admitir culpas também?
– Não em caso de morte.
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2014 foi um ano (muito) difícil, inclusive na Fórmula 1. Se 2015 for melhor, já será bom.
E que seja ótimo.
Um abraço a todos!
4 Comments
Vamos ver como será a reedição da parceria McLaren-Honda.
Espero que não seja tão desastrosa quanto o retorno da Williams-Renault…
Quanto a Jules Bianchi, a conclusão é mais do que óbvia. Até mesmo os telespectadores que possuem o aplicativo para smartphone já sabiam disso – através da “telemetria” do aplicativo, foi possível visualizar que Bianchi realmente não reduzira a velocidade sob bandeira amarela. Agora, investigar o que teria levado ao piloto assumir tal risco, isso ninguém faz…
Até por que o J. Bianch não vai poder se defender.
Fernando marques
Marcel,
não vejo como o J. Button sequer fazer uma sombra em Alonso. Ele foi a opção escolhida para ajudar com sua experiência no desenvolvimento do carro e do motor Honda. Somente isso. Quem vai dizer se o Alonso voltará a vencer vai ser o conjunto Mclaren/Honda.
Com relação ao Jules, estou plenamente de acordo com Piquet.
Fernando Marques
Niterói RJ
Bela coluna Marcel!!
Olha, na minha opinião o Alonso vai minar o Button, tipo, o inglês é boa praça e super carismático, mas o espanhol é barra pesada, e com certeza vai jogar pesado.
Nos resta aguardar.
Pois é, este é um lado da F1 que só quem curte são os cartolas, mas é de ficar indignado mesmo.
Abraço!
Mauro Santana
Curitiba-PR