“Winston Churchill estimulou nossas tropas durante a segunda guerra com seu famoso sinal com as mãos do V da vitória”, nos anos 40 e 50 essa frase estava na boca de 10 em cada 10 britânicos.
Mais do que um símbolo a comunicação era usado de forma muito forte pelo primeiro-ministro, suas frases de efeito também, ele as proferia como lições e pensamentos, das muitas que ele proferiu escolhi a seguinte para representar o que o automobilismo britânico passava nos anos 50
“O sucesso é ir de fracasso em fracasso sem perder o entusiasmo”
Os britânicos nesse início de sua jornada de vitórias enfrentaram muitos percalços, precisaria de mais alguns anos até eles acertarem o caminho da vitória, até então eles produziram muito barulho por nada, escrevi sobre isso na coluna “Muito barulho por nada” ( clique e releia https://gptotal.com.br/muito-barulho-por-nada-4/ )
O vexame da BRM no GP da Inglaterra em 1951 foi tamanho que eles ficaram quase seis anos afastados das pistas.
Enquanto isso a Vaxwall, a Cooper e uma Lotus embrionária ao longo dos anos 50 foram impondo inovações e dando início as vitórias pelos bem dos brios britânicos
A BRM faz uma mudança importante em sua cúpula em 1952, Raymond Mays que muito falava e com isso criava um clima alto de expectativas por parte do publico e imprensa é afastado, em seu lugar quem assume é o próprio Sir Alfred Owen, CEO do grupo, a mudança em si não se converte em vitórias de imediato, mas Alfred Owen não á dado a arroubos em entrevistas e cria um ambiente menos tenso dentro da equipe
Na Fórmula 1 a equipe desiste momentaneamente das provas oficiais e participa de provas extracampeonato, conquistam um segundo lugar com Froilan Gonzalez em Albi em 1953 e com Tony Brooks em 1956.
Em 1956 a BRM volta a participar no GP da Inglaterra, a jovem promessa britânica Mike Hawthorn se junta a equipe em Silverstone, Hawthorn conquista um promissor 3º lugar no grid de largada, mas na corrida seu carro quebra e ele teve que desistir, novamente a equipe se recolhe e não participa de nenhuma outra prova no campeonato oficial.
Em 1957, a BRM se inscreve em 3 provas, Monaco, França e Inglaterra, a situação praticamente não melhorou no campeonato, nenhum carro terminou as corridas, naquela altura os torcedores britânicos passaram de vez sua atenção para a Vanwall e a Cooper, elas pareciam ter um futuro mais promissor
Jean Behra vence o GP de Caen, prova extracampeonato, isso dá um animo para no ano seguinte a BRM participar de todo o campeonato para valer, com Harry Schell e Jean Behra como pilotos titulares.
A equipe tem uma participação mais consistente e termina o campeonato de construtores em quarto lugar, tendo pontuado em seis de onze provas, tendo seu melhor resultado no GP da Holanda em que terminaram em segundo e terceiro lugar respectivamente em Zandvoort, atrás de Stirling Moss que venceu com seu Vanwall, era a primeira vez que três carros britânicos conquistavam os três lugares no pódio, um sinal de que os italianos começavam a ser dominados pelos britânicos.
Na temporada de 1959, Jo Bonnier entra na equipe no lugar de Jean Behra e é com ele que a primeira vitória da BRM acontece no GP da Holanda, ao final do ano a equipe fica em terceiro lugar no campeonato de construtores, enfim eles não eram mais vistos como chacota por parte dos torcedores e imprensa.
Em 1960, outra mudança na dupla de pilotos, Graham Hill entra no lugar de Harry Schell e consegue um bom desempenho ao volante do P48, mas muitos abandonos arruinaram sua temporada, mesmo assim eles ficam em quarto lugar no campeonato de construtores.
Graham Hill era dotado de um espirito que se encaixava muito bem dentro da BRM, ele havia entrado a primeira vez em um carro aos 24 anos de idade, sua trajetória foi muito mais construída a base da tenacidade e persistência do que no talento natural, como um Moss ou Clark, e essa tenacidade era o que a BRM precisava para dar o impulso que faltava rum a vitória
Em 1961, Hill conquistou vários pódios em corridas fora do campeonato, mas não no campeonato, isso reflete na queda para o quinto lugar no campeonato de construtores, será que a BRM iria decair antes de uma conquista maior? Essa pergunta pairava no ar.
Graham Hill e Alfred Owen tinham outra forma de encarar a adversidade, não desistindo
E começa a temporada de 1962, a situação muda. O trabalho no motor BRM V8 colhe os frutos da persistência de Alfred Owen e seu time e a recompensa vem logo na primeira corrida, Graham Hill consegue a vitória na Holanda, prova de abertura do campeonato. Um segundo lugar na Bélgica, na sequência do ano Hill vence as corridas de Nürburgring e Monza e pontua de forma consistente em outras provas.
A partir de agora, o título era possível e o adversário era outro britânico de carreira meteórica, Jim Clark e seu Lotus que vinham fazendo uma bela temporada e também estavam colhendo os frutos do trabalho para vencer, no caso da Lotus a genialidade de Colin Chapman fazia uma diferença importante, o carro projetado por ele e pilotado por Clark era superior a dupla Hill / BRM, a favor da BRM estava o espírito de não parar de lutar.
A disputa final entre eles fica para a última corrida do ano, na África do Sul, essa seria a primeira vez que a Fórmula 1 correria no país sul africano, a temporada de 1962 tinha como regra só computar os cinco melhores resultados, tanto no campeonato de pilotos como o de construtores, como resultado do regulamento, Graham Hill deveria descartar qualquer resultado abaixo da vitória, ou seja, mesmo um segundo lugar já não contaria para sua pontuação, no caso de Clark ele estava com apenas quatro corridas pontuadas, mas estava exatos nove pontos atrás de Hill, para ele só a vitória interessava e contando com o fato que ele e Hill ficariam empatados em pontos e pelo critério de desempate, o número de vitórias, ele Clark seria declarado campeão por ter mais vitórias
Clark lidera a corrida desde a largada e com boa vantagem, a corrida foi disputada em 82 voltas, a partir da volta 56 uma leve cortina de fumaça começa a sair do motor de Clark, ele para na volta 62, foi constatado que uma arruela havia sido mal colocada e o óleo vazou, um azar ao mesmo tempo uma falta de atenção em detalhes por parte da equipe Lotus, a partir daí Graham Hill assume a liderança, vencendo a prova, ele e a BRM conquistam os títulos mundiais de pilotos e construtores.
Uma frase de Winston Churchill serve como mais uma lição nesses acontecimentos da Africa do Sul:
“A sorte não existe, aquilo que chamas de sorte na verdade é o cuidado com os pormenores”
Em 1963, Jim Clark e Lotus dominaram o campeonato, o que não impediu Hill de conquistar duas vitórias, uma em Mônaco e a outra nos Estados Unidos.
Em 1964, Hill estava novamente na disputa pelo título até a última prova no México , novamente Jim Clark precisava vencer e ele lidera, até a última volta quando abandona, Lorenzo Bandini que corria pela Ferrari decidiu atacar e empurrar Graham Hill num acidente controverso, com isso seu companheiro de Ferrari John Surtees conquistou o título. Se todos os pontos somados fossem computados, Hill teria sido campeão, junto com a BRM, só que dessa vez a regra dos descartes tirou de ambos os respectivos títulos.
Em 1965, Jim Clark dominou novamente, mas Hill e o recém-chegado Jackie Stewart conquistaram três vitórias entre eles para a BRM.
Em 1966, diante da mudança na regulamentação dos motores, a BRM decidiu trabalhar no motor H16. Antes do início do campeonato oficial da Fórmula 1, Graham Hill venceu corridas na Tasman Series e Stewart venceu em Mônaco com o motor do ano anterior. Mas após a introdução deste novo motor, apenas Jim Clark conseguirá triunfar com este motor com o seu Lotus, enquanto na BRM, apenas Stewart consegue obter um segundo lugar em Spa durante a temporada de 1967.
A partir de 1968 a BRM regressa a uma fase com um motor convencional, eles adotam um V12 e tendo o mexicano Pedro Rodriguez como seu principal piloto eles obtém dois pódios, na Holanda e no Canada. Em 1969, o carro carecia muito de confiabilidade e desempenho e faz uma fraca temporada.
Em 1970, o modelo P153 permitiu a Rodriguez trazer a BRM de volta à vitória ao vencer em Spa-Francorchamps, após uma batalha feroz com Chris Amon da Ferrari. Mas durante toda a temporada, o carro não é tão eficiente quanto se esperava e seus resultados são bastante irregulares. Na temporada seguinte, a BRM sofre o baque do acidente fatal de Rodriguez numa prova de endurance. O suíço Jo Siffert assume como piloto principal e conquista a vitória na Áustria, também nesse ano um GP da Itália memorável por sua final (os primeiros 5 colocados com a diferença em 0″61!) que Peter Gethin vence seu único GP e pela BRM.
Em 1972, a última vitória da BRM será graças a Jean-Pierre Beltoise, que venceu a corrida de Monaco sob um aguaceiro tremendo.
Em 1973, os jovens Lauda e Clay Regazzoni não conseguirão subir ao pódio. No final da temporada, a Organização sob o comando de Alfred Owen decide se retirar da Fórmula 1.
É o começo do fim para a BRM, Em 1974, Beltoise terminou em 2º em Kyalami, mas toda a temporada foi desastrosa. Em 1975, a equipe contratará apenas um piloto, Mike Wilds, substituído por Bob Evans, mas nenhum deles conseguirá restaurar a situação. Em 1976, a BRM fez apenas uma corrida e em 1977, Larry Perkins disputou dois GPs no Brasil e na Africa do Sul curioso que no país onde eles haviam vencido seu campeonato de piloto e construtores foi palco de seu último GP.
A BRM tem como balanço na história, 17 vitórias, um título de piloto e de construtores, nesse interim ao longo dos anos 60 e 70 os britânicos passaram a dominar o mundo da Fórmula 1 e a BRM tem um currículo honroso nessa história
Deixo uma última frase de Winston Churchill:
“A lição é a seguinte: nunca desista, nunca, nunca, nunca. Em nada. Grande ou pequeno, importante ou não. Nunca desista. (…) Nunca se renda à força, nunca se renda ao poder aparentemente esmagador do inimigo”
Da forma que foi possível a BRM não desistiu e venceu
Até a próxima
Mário
4 Comments
Thanks for sharing. I read many of your blog posts, cool, your blog is very good.
Mario,
a história da BRM é grandiosa com toda certeza …
a BRM usada por Beltoise em Mônaco é simplesmente linda …
Graham Hill podia não ser um Clark mas era muito bom piloto também … sempre achei isso …
Show de bola pela coluna
Fernando Marques
Niterói RJ
A imprevisível vitória em Mônaco 1972, sob a guiada de Beltoise, ainda com feno como limite de curva, é um episódio memorável da história da categoria.
Excelente texto. Não é só informativo, é envolvente!
Obrigada por compartilhar seu conhecimento conosco.
E a mensagem final é muito cativante.