A Williams está morrendo

UMA CARTA PARA COLIN CHAPMAN
04/02/2005
Adu
16/02/2005

Quem disse que não há botos no Reno?

Há sim: ele nasceu aqui mesmo no Rio Tietê (dizem que nas imediações do Canindé), singrou destemido o Atlântico e fixou residência em pleno Rio Reno, no coração da Europa.

E agora aí está ele, um Boto irreverente e divertido, materializado graças ao talento do Flavio Gomes e à coragem de Alessandra Alves, contando com a orgulhosa marca do GPTotal no couro, como convém a estes tempos de logotipos.

Quem quiser conhecer de perto O Boto, Flavio, Alessandra, eu e toda a turma do GPTotal que compareça na 3a-feira da semana que vem, dia 22 de fevereiro, a partir das 19h, na Forno Brasile, Alameda dos Anapurus, 1 491, em São Paulo, quando rola o lançamento oficial do livro (mas que já pode ser comprado nas livrarias, algumas bancas de jornal e em nossa loja virtual).

Será uma ótima oportunidade para apertarmos ainda mais os laços desta comunidade cada vez maior chamada GPTotal.

Até lá!

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Entre os jornalistas, há um dito famoso: jornais morrem vinte anos antes de exalar o último suspiro. Com o tempo, aprendi que este aforismo se aplica a muitas outras coisas. Na verdade, quase tudo o que é vivo se recusa a morrer rápido ou, digamos assim, na hora certa.

Tenho me perguntado já há algum tempo se este não é o caso da equipe Williams. Acho que ela está morrendo, vítima da idade, do peso, do stress, da loucura dos dias de hoje.

Forjada a partir do final dos anos 60 pela teimosia, determinação, talento e amor pelo automobilismo de Frank Williams, a equipe veio lá de baixo, mas de baixo mesmo, sendo históricas as faltas de dinheiro de Frank, cruzando a Europa nas classes econômicas de trens e eventualmente quitando contas com o relógio do próprio pulso.

Mas ele persistiu e, em 77, encontrou Patrick Head, um engenheiro tão teimoso, determinado e talentoso quanto ele. O passo seguinte veio quando Frank conquistou a confiança de investidores árabes (entre eles, a família de um certo Bin Laden) que proporcionaram à equipe meios para construir seu primeiro carro competitivo. Isso aconteceu em 79, quando venceu seu primeiro GP. Desde então, a Williams nunca mais deixou de ser uma das principais protagonistas da Fórmula 1, ao lado de Ferrari e McLaren. Enquanto isso, equipes como Brabham, Lotus, Tyrrell e Renault (a da fase dos motores turbo) simplesmente desapareciam, provando da maneira mais cabal que equipes também morrem, não importa quão grandes, ricas e competentes tenham sido.

Suspeito que estejamos assistindo, agora, a um processo que levará ao fim a equipe de Frank e Patrick Head.

Em primeiro lugar, porque eles parecem cada vez mais cansados. Não pela idade – Frank conta 63 anos, Head menos do que isso – mas sim pela vivência profunda e permanentemente tensa nas pistas. Quarenta anos de automobilismo, 25 deles como protagonista, é muito tempo para qualquer um, tanto mais alguém com as inimagináveis dificuldades de locomoção de Frank. Aqueles olhos sofridos já viram de tudo, mais de uma vez. O caráter inflexível, a teimosia recorrente torna tudo mais difícil.

Em segundo lugar, acho que o fim da Williams está próximo porque ela mostra-se uma máquina incrivelmente complexa de ser gerida. Não a conheço por dentro mas tenho certeza de que tudo, absolutamente tudo, passa pelas mãos de Frank e Head. Tudo é negociado a duras penas, todos os caminhos são atravancados por pedras monumentais, cada uma precisando ser quebrada pedaço por pedaço. Basta ver o drama a que a equipe se expõe quando precisa negociar contratos com seus pilotos e fornecedores de motor.

Muitas equipes perderam seus campeões mundiais mas nenhuma perdeu Nelson Piquet, Nigel Mansell, Alain Prost e Damon Hill nos anos seguintes aos seus títulos. Nenhuma equipe rompeu com a Honda em iguais condições (em 88) sendo reduzida a ser empurrada na temporada seguinte por um motor de carrinho de pipoca. Nenhuma equipe jogou tantos Mundiais pela janela por se recusar a fixar uma hierarquia entre seus pilotos.

Um atalho a todo este stress foi admitido a partir de 94, quando a maior responsabilidade pela construção do carro foi delegada a um terceiro – no caso, Adrian Newey, hoje responsável pela construção dos McLaren e que saiu da Williams depois de uma briga judicial.

Desde então, a Williams optou por soluções internas. Os resultados, definitivamente, não são bons. Nas últimas três temporadas, foram apenas meia dúzia de vitórias. Apesar de ter conseguido os vice-campeonatos de Construtores em 2002 e 2003, no ano passado, a Williams lutou duramente para garantir o 4o lugar, superada pela Renault e Bar, além da Ferrari, mesmo tendo os motores mais potentes da Fórmula 1.

Sam Michels, o diretor técnico da equipe, sofre visivelmente de inexperiência e transmite a impressão de ser manietado em suas decisões pelos patrões. Sua solução técnica esdrúxula para o bico do carro de 2004 externa o típico desejo adolescente de impor a própria vontade frente a uma realidade que não domina. O resultado da audácia adolescente foi patético, a equipe voltando sobre os próprios passos e perdendo, de cambulhada, seus dois pilotos, atrapalhando-se na contratação de Jason Button e embarcando na aventura dos testes, igualmente patética.

Considerando esses fatos e mais a ausência de sangue jovem na direção da equipe e a teimosia de Frank em admitir uma sociedade com a BMW, acho que a Williams caminha para a extinção, ainda que ela possa demorar vinte anos para chegar.

É por isso que não lamentei pela sorte de Antonio Pizzonia, preterido na disputa por uma vaga de titular na Williams.

Talvez o jovem amazonense não tenha perdido nada.

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A assinatura da Ferrari no Pacto da Concórdia custou a Bernie Ecclestone mais US$ 50 milhões ao ano, elevando para US$ 100 milhões anuais os direitos da equipe italiana, pouco menos de um terço do seu orçamento.

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O amigo leitor Luís Sérgio envia notícia interessante: a Michelin está testando um novo tipo de pneu que dispensa o inflamento com ar graças a raios, como numa roda de bicicleta, de borracha.

Comentário do Luís Sérgio, colado à notícia: “Imagina os F1 usando uma coisa dessas…!”

E os meus comentários: Oh Senhor! Ainda não…

Quem quiser conhecer mais sobre a idéia maluca da Michelin, por favor, nos envie um e-mail.

Boa semana a todos

Eduardo Correa
Eduardo Correa
Eduardo Correa
Jornalista, autor do livro "Fórmula 1, Pela Glória e Pela Pátria", acompanha a categoria desde 1968

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