Aí que saudade do meu volante…

PERSISTÊNCIA PREMIADA
24/10/2001
O PILOTO E O FOTÓGRAFO
29/10/2001

Panda

Quer dizer que agora nos damos ao luxo de dar furos de reportagem no GPTotal? Sim, porque a Folha de S.Paulo de hoje confirma o que você havia noticiado em sua carta de 10 de outubro: é o fim do caminho para sociedade Prost Pedro está-evoluindo-muito Diniz.

Assim os leitores vão ficar mal acostumados…

+++

Schumacher & Cia vão ficar quase noventa dias sem pegar (hehe) no volante!

Com a proibição dos testes até janeiro próximo, a moçadinha da Fórmula 1 tem uma folga, pelo que me consta, inédita. Acho que os primeiros testes de 2002 só acontecem dia 8 de janeiro – 85 dias depois do GP do Japão. É muito tempo sem Fórmula 1!

No passado, quando a categoria não tinha sido domesticada e organizada por Bernie Ecclestone, os intervalos entre as corridas podiam ser muito longos. O campeonato de 65, por exemplo, terminou em 24 de outubro e o de 66 só começou em 22 de maio, 210 dias depois.

Em 68, o campeonato começou dia 1º de janeiro, na África do Sul (com Jim Clark vencendo sua última corrida), e só recomeçou dia 4 de maio, na Espanha, já sem Clark, falecido em acidente em Hockenheim, numa prova de Fórmula 2.

Qual é o problema, então? O problema é que, naquele tempo, os pilotos não paravam de correr.

Um piloto de Fórmula 1, com raríssimas exceções, disputava vários outros campeonatos: Fórmula 2 (Rindt era o melhor), sport-protótipos (Jacky Ickx, Jo Siffert e Pedro Rodrigues comiam com farinha), Can-Am (Bruce McLaren, Dennis Hulme – estes, então, comiam sem farinha), Copa Tasmania (tradicional campeonato para carros de Fórmula 1 e 2 disputado na Austrália e Nova Zelândia durante os primeiros dias do ano, misturando craques como Clark e Jackie Stewart a pilotos locais) e até corridas de Indy (caso de Clark, Graham Hill e Stewart, por exemplo). De vez em quando, um ou outro até se arriscava em provas de rallie…

Fins de semana livres para os pilotos eram raridade. Em 72, Jackie Stewart teve uma úlcera em plena temporada (aqueles bestas dos jornalistas ingleses atribuem à tal úlcera o primeiro título de Emerson na Fórmula 1) e teve de abrir mão de disputar o GP da Bélgica, se não me engano. Ken Tyrrel, dono da equipe, convidou para substituir Stewart o inglês Brian Redman, um especialista em corridas sport-protótipos. Não era um convite qualquer; tratava-se de pilotar o carro campeão do mundo em 71. Pois Redman recusou o convite, explicando que havia prometido à família passar o fim de semana em casa…

Em meu livro, reproduzi trecho de uma reportagem publicada em Veja em 72, acompanhando uma semana na vida de Emerson Fittipaldi. Começa num domingo, quando ele vence uma corrida de Fórmula 2 em Vallelunga, na Itália. Depois, ele pega carona num avião até Turim e, dali, segue para a Áustria, dirigindo por sete horas um carro alugado. Chega na segunda-feira e, nos dois dias seguintes, testa pneus em seu Lotus de Fórmula 1. Na quarta à tarde, vai para casa, na Suíça e de lá, para a Rouen, na França, onde vai disputar – e vencer – outra corrida de Fórmula 2. Treina quinta e sexta e, no sábado dá uma voltinha pela cidade mas recusa-se a dar uma estica até Paris porque está muito cansado.

Os pilotos trabalhavam tanto até meados dos anos 70 porque a grana não era a festa que é hoje.

Um bom piloto, para ganhar uns cem mil dólares por ano na década de 60 – um salário de estrela para a época mas nada comparável aos milhões de hoje – tinha de se desdobrar já que o grosso do dinheiro vinha de prêmios de largada pagos pelos organizadores que, por sua vez, ganhavam dinheiro vendendo ingresso para as corridas.

Mas então Colin Chapman conseguiu o primeiro grande contrato de patrocínio de uma equipe, associando a Lotus ao fabricante dos cigarros ingleses Gold Leaf e nunca mais as coisas foram as mesmas.

Mais alguns anos no futuro e Bernie Ecclestone começou a perceber o mar de dinheiro que havia nos direitos de TV. Daí a pagar um milhão de dólares por ano a um piloto – Niki Lauda, em 78, se não me engano – foi um passo. E quem paga tanto a alguém para correr prefere que este alguém não fique arriscando o delicado pescoço toda a semana em corridas de outras categorias.

+++

Uma velha brincadeira das revistas especializadas é recalcular os pontos do campeonato sem considerar os resultados deste ou aquele piloto.

Como não vi ninguém fazer esta conta em relação a campeonato de 2001, aqui vai: se Schumacher simplesmente não existisse e as corridas tivessem terminado do mesmo jeito que terminaram – naturalmente promovendo os pilotos que chegaram atrás do bom alemão -, teríamos um campeonato decidido em Suzuka com Coulthard campeão com 86 pontos contra 80 do vice, Rubinho. Terceirão seria Ralf, com 57 pontos, seguido de Hakkinen, com 45 e Montoya com 44.

Uma hora que tiver paciência, recalculo o campeonato sem levar em conta as três equipes grandes.

Bom fim de semana e grande abraço

Eduardo Correa

Eduardo Correa
Eduardo Correa
Jornalista, autor do livro "Fórmula 1, Pela Glória e Pela Pátria", acompanha a categoria desde 1968

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *