AINDA MELBOURNE

GP da Austrália
04/03/2002
Reação Inglesa
08/03/2002

Edu,

Ontem a FIA deu o parecer definitivo: o acidente na largada do GP da Austrália foi um acontecimento normal de corrida. Portanto, não houve crime nem haverá castigo.

Foi a decisão mais sensata. Mas meu ponto de vista sobre a existência de culpados é um pouquinho diferente. Há um fato: Barrichello mudou três vezes de trajetória entre a largada e a primeira curva (foi para o meio, para a direita, e depois foi de novo para a esquerda). Existe um acordo entre os pilotos de fazer apenas uma mudança de trajetória nas retas, a fim de evitar zigue-zagues.

Se olharmos apenas por esse lado, portanto, Barrichello errou. Mas ele não fez nada que Michael Schumacher nunca tivesse feito, às vezes de maneira ainda mais escandalosa. Além disso, o brasileiro pode se defender alegando que precisava tomar a trajetória para fazer a primeira curva, sob pena de não conseguir contorná-la. A acusação de Ralf Schumacher, de que o brasileiro freou antes do previsto, simplesmente não procede, como já se sabe pela análise de telemetria divulgada pela Ferrari. Outra coisa: largada são um salve-se quem puder e a primeira curva é o limite máximo para defender sua posição.

Depois da corrida, vi e revi a fita umas 15 vezes e, sinceramente, não consegui chegar a conclusões muito profundas. Ao rever a imagem interna do carro de Ralf, prestei atenção ao som e, instantes antes da batida, dá para ouvir o ruído de motor sendo desacelerado. Ele teve reflexos suficientes para perceber que poderia bater, mas tomou a decisão de apenas tirar o pé do acelerador e não de frear.

Se depois de rever a fita várias vezes as minhas dúvidas continuam, prefiro simplesmente não emitir julgamentos. Dessa forma, evito agir como certos comentaristas de futebol, que analisam os erros dos jogadores como se estes estivessem confortavelmente instalados em uma sala, tendo visão panorâmica do campo e com oportunidade de rever tudo em slow-motion.

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Melbourne parece ter revelado uma nova postura de Rubens Barrichello. Ele reconheceu que reclamou demais e que de agora em diante vai tratar é de fazer seu trabalho sem ficar “chorando” (palavras dele). Uma maneira bem mais positiva de encarar a vida, sem dúvida. Quem ouviu a íntegra da entrevista afirma que ele praticamente reproduz algumas observações que eu fiz em minha carta de 8 de fevereiro. Será? Acho muito improvável. Mas seja como for, ele certamente vai colher frutos dessa nova maneira de agir. É esperar para ver.

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E a “nova Prost”, hein? É outra história que vai render muito colorido, pelo menos até Sepang. Um misterioso grupo de milionários, com Tom Walkinshaw atuando como “consultor”, comprou os despojos da Prost e garante que vai participar do Mundial a partir de Sepang ou, na pior das hipóteses, Interlagos.

Tem tudo para ser o vexame da temporada, se sair do papel – coisa que Bernie Ecclestone, aliás, garante que não vai acontecer. Imagine só: pegar os carros da Prost, tirar a poeira (eles não vão para a pista desde o GP do Japão do ano passado, em outubro), instalar de algum jeito os motores Hart (refugo da Arrows, já eram ruins quando foram usados em 1998 e 1999 e que nem sequer chegaram a ser ligados nos últimos dois anos) e entregar esse “bólido” a pilotos como Gaston Mazzacane e Tomas Enge.

E eu que pensava que a era dos aventureiros sem credibilidade já havia sido encerrada na F 1…

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Quem me deu o toque foi meu amigo Michel Rost, um amigo que, como nós, “baba colorido” por automobilismo: “Panda, aonde estão os números nas laterais dos carros?”. Fui procurar e, pelo menos nos da Ferrari e McLaren (os únicos que olhei), simplesmente não os achei. “É mais uma tradição que se vai na F 1”, continuou.

É verdade. Hoje, os números praticamente deixaram de ter função na F 1. Servem mais para facilitar a comunicação com o piloto (na hora de dar bandeira preta, por exemplo) do que qualquer outra coisa.

Os números foram instituídos já nas primeiras corridas de automóvel, no final do século retrasado, para facilitar a identificação dos participantes pelo público e, principalmente, pelos cronometristas. Com o tempo, alguns ganharam tradição e história.

Na F 1, de meados dos anos 80 para cá, os números foram diminuindo de tamanho e sendo colocados em lugares cada vez mais escondidos. Os sofisticados sistemas eletrônicos de cronometragem tornaram praticamente nula a necessidade de haver números grandes pintados nos carros. Claro que, sem eles, sobra mais espaço para patrocinadores…

Hora destas volto a falar mais deles. Antes que acabem…

Abraços,

Panda

GPTotal
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A nossa versão automobílistica do famoso "Carta ao Leitor"

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