Por mais que os bastidores da Red Bull estejam prestes a explodir, com uma guerra de poder nunca antes vista na outrora simpática equipe austríaca travada por Horner, Marko e os seus respectivos aliados, de alguma forma o domínio da Red Bull na F1 2024 permanece intacto. A diferença entre o Red Bull RB20 e os demais carros de F1 em 2024 é tão abismal que mesmo a cúpula da Red Bull se digladiando na frente de todos, seja pela imprensa ou pelos movimentos dentro dos boxes, que o time segue destruindo seus rivais.
Num circuito completamente diferente do que os carros desse ano andaram em 2024, a Red Bull continuou sua predominância de forma inapelável, com Max Verstappen conquistando mais uma vitória sossegada e chegando ao centésimo pódio na carreira, com Sérgio Pérez, mesmo tendo que cumprir uma punição, completando a dobradinha austríaca. Sem maiores dramas, ao contrário do que se vê fora delas nas glebas austríacas-tailandesas.
Situações de equipes entrarem em fortes crises após entregar menos do que o esperado são comuns na F1 e em outros esportes. Estamos vendo isso na Alpine, com mais e mais peças chaves da equipe gaulesa caindo pelo lastimável desempenho da equipe em 2024. Porém, o caso da Red Bull é único porque a equipe está implodindo justamente no melhor momento da história da equipe. Nesse sábado a Red Bull simplesmente ultrapassou a Williams em número de vitórias, mas com trinta anos a menos do que a tradicional equipe inglesa.
Toda a confusão feita por Christian Horner e Helmut Marko trarão cicatrizes profundas que modificarão a equipe Red Bull num futuro próximo, mas até o momento a equipe segue destroçando as rivais, com mais um final de semana próxima da perfeição, dessa vez na Arábia Saudita.
A corrida no perigoso circuito de Jedá esteve longe de empolgar, mas ainda assim foi melhor do que a modorrenta corrida no Bahrein semana passada. Claro que Max Verstappen não teve o mínimo trabalho para permanecer dominando a F1 e partir para a sua nona vitória consecutiva. A impressão que fica é que se Max contornar a primeira curva em primeiro, a corrida já tem dono, nos fazendo pensar no tamanho histórico do domínio que o neerlandês exerce. Mansell na Williams, Schumacher na Ferrari, Vettel na Red Bull, Hamilton na Mercedes… todas essas lendas dominaram em conjunto com carros incríveis em seus anos, mas ainda assim a impressão é que o gap do conjunto Verstappen/Red Bull para os demais é ainda maior. Com 27 anos de idade, Max faz parecer que suas vitórias sejam simples, até mesmo fáceis, mesmo tendo perdido a invencibilidade das voltas lideradas em 2024 pela tentativa de Norris fazer algo diferente ao não parar no único Safety-Car do dia.
Se já não bastasse ter projetado um super carro (mais um), Adrian Newey ainda desenvolveu o DRS mais eficiente do pelotão, com a Red Bull engolindo os adversários quando está com o DRS aberto, o mesmo não acontecendo com outros carros, como aconteceu com Piastri, que passou mais de vinte voltas tentando ultrapassar Hamilton tendo o DRS à disposição, sem sucesso. Isso facilita ainda mais a vida dos pilotos da Red Bull numa situação amplamente favorável a eles. Na confusão do primeiro SC, Pérez foi liberado do seu pit claramente de forma insegura e foi punido em 5s. O mexicano ultrapassou Norris sem maiores cerimônias e abriu a diferença necessária para Leclerc para completar a dobradinha. Para melhorar a situação de Checo, a atuação da dupla da Racing Bulls, teóricos rivais de Pérez para o lugar na Red Bull em 2025, está muito abaixo e nessa balada, Pérez pode muito bem renovar seu contrato sem fazer muita força.
A Ferrari não teve um final de semana dos mais tranquilos, com o problema de saúde de Carlos Sainz na sexta-feira, que o levou a mesa de cirurgia por causa de uma apendicite. O jovem Oliver Bearman entrou no carro da Ferrari com apenas 18 anos e bateu vários recordes de precocidade, mas na corrida o inglês fez bem mais, levando à Ferrari aos pontos, mesmo não tendo muita experiência no carro. O sétimo lugar de Bearman foi congratulado de forma simpática pela dupla da Mercedes e foi bem merecido, mostrando que alguns jovens pilotos começam a pedir passagem na F1. Enquanto outros fazem hora extra na categoria…
Leclerc fez o que dele se esperava, que era ficar na frente do resto do pelotão e na medida em que Pérez precisava abrir alguma diferença para se manter em segundo, Charles fez uma corrida solitária para ser terceiro. Norris e Hamilton tentaram uma tática diferente quando o SC apareceu, ficando na pista com os pneus médios em que largaram. Com um ritmo competitivo, Norris e Hamilton permaneceram muito tempo em quarto e quinto respectivamente, até fazerem seus pit-stops já nas fases finais da corrida, possibilitando pneus macios no último stint. Os dois ingleses brigaram por posição, mas não foram capazes de se aproximar de Bearman, tendo que se consolar com a oitava (Norris) e nona (Hamilton) posições. E falando em ingleses, será que Norris tomaria punição se não fosse súdito do rei em sua queimada escandalosa de largada?
Quando Hamilton finalmente fez sua parada, Piastri pôde consolidar sua boa quarta posição, ficando bem à frente de Norris. Alonso e Russell fizeram corridas anônimas, mesmo que ambos terem andado o tempo todo próximos, mas sem brigar entre si, com Alonso em quinto e Russell em sexto na quadriculada. Como aconteceu em 2023, parece que novamente Alonso levará a Aston Martin nas costas. Lance Stroll é um piloto pífio, ocupando um bom lugar na F1 graças aos esforços do seu pai, que vai construindo uma boa equipe, mas que Lance nunca usufruirá de forma total o crescimento da Aston Martin por falta de talento do canadense, que errou sozinho e espatifou seu carro na barreira de pneus. Independentemente de Felipe Drugovich ser brasileiro, é uma pena um assento tão bom na F1 ser tão mal utilizado.
Com menos um carro das cinco equipes que estão lá na frente no pelotão, sobrou um lugar na zona de pontuação e esse lugar foi ocupado por Nico Hulkenberg, que se utilizou de uma inteligente jogada da Haas. Kevin Magnussen já estava punido por causa de uma disputa com Tsunoda e o time percebeu que se dinamarquês segurasse o pelotão atrás de si, não importasse como, Hulkenberg, que não parou no SC, teria boas chances de ficar com a décima posição. E Magnussen foi bem eficiente em segurar um animado pelotão atrás de si, tomando mais punições no processo, mas deixando Hulkenberg em posição para marcar um importante ponto para a Haas, nesse momento a sexta colocada no Mundial de Construtores. Como falado anteriormente, a dupla da Racing Bulls decepciona, principalmente Ricciardo, que rodou sozinho nas voltas finais, enquanto a Sauber precisa praticar pit-stops, pois novamente um dos seus carros ficou parado com a roda presa. A Williams fez o que dela se esperava, enquanto a Alpine vê um carro que além de ruim, ainda não é confiável, com Gasly sendo o primeiro abandono do dia.
Carmelo Ezpeleta e Roger Penske são dois CEO’s bastante inteligentes e que prezam pelos seus respectivos campeonatos, contudo, os dois pisaram feio na bola ao marcar as estreias da Indy e da MotoGP praticamente no mesmo horário, fazendo com que os fãs da velocidade tivessem que se dividir ou até mesmo fazer uma difícil escolha entre um ou outra.
Se não houve um domínio absurdo como na F1, Indy e MotoGP tiveram como coincidência, além do horário, também o domínio em suas etapas de abertura. Claro, não um domínio gritante como na F1, mas na MotoGP a Ducati colocou seis motos entre os sete primeiros no Catar, enquanto a Penske colocou três carros entre os quatro primeiros em St Petersburg. Outro fator foi que o vencedor em ambos os lados do Atlântico predominou na corrida, praticamente vencendo de ponta a ponta.
Após uma corrida obscura na Sprint Race, o atual bicampeão da MotoGP Pecco Bagnaia mostrou mais uma vez que é um piloto de domingo. Mais do que isso. O piloto da Ducati tratou de dar uma carteirada nos rivais e em Jorge Martin, vencedor da Sprint Race, em particular. Conhecido pelo estilo cerebral, Bagnaia fez uma grande largada, pulando para terceiro na primeira curva, atacando a KTM de Binder na curva seguinte, numa ultrapassagem bem agressiva. Apenas alguns metros depois, colocou por dentro no pole Martin para assumir a ponta e administrar a corrida a seu bel-prazer. Bagnaia nunca teve uma grande diferença para o segundo colocado Binder, mas não sofreu ataques do sul-africano para vencer mais uma vez e sair líder do Catar. Mais do que isso, Bagnaia sabe que novamente a Ducati tem a melhor moto do pelotão e como atual bicampeão, se impôs sobre seus rivais, em particular Martin. Marc Márquez era um dos destaques do final de semana em sua estreia na Gresini e na moto Ducati após anos na Honda. Marc fez uma grande corrida chegando em quarto lugar, enquanto o novato sensação Pedro Acosta fez uma baita corrida, chegando a brigar com Márquez numa batalha geracional, mas Pedro perdeu rendimento e recebeu a bandeirada em nono.
Praticamente no mesmo horário Josef Newgarden largava para a prova de St Petersburgo e só não liderou todas as voltas por uma tática diferente de Christian Lungaard. A sempre competitiva Indy não estava acostumada com um piloto se sobressaindo de tal forma como fez Newgarden, que ainda abriu bons 8s para Pato O’Ward na bandeirada. A corrida em St Pete, muito pela dificuldade de ultrapassagens, foi decidida em boa parte nos boxes e nas relargadas, com três bandeiras amarelas, mas nada que pudesse impedir Newgarden de vencer facilmente.
Indy e MotoGP entregaram corridas não muito emocionantes, com duas equipes sobrando frente às demais, mas ainda assim com bem mais entretenimento do que a F1. Resta que as duas categorias não repitam o erro desse final de semana em largar no mesmo horário.
Os bastidores da Red Bull fervem com notícias chegando a todo momento sobre o que acontece fora das pistas e que, sem sombra de dúvida, acabará respingando no time em algum momento. Antes da largada, Marko estava ao lado de Verstappen, enquanto Horner estava próximo do carro de Pérez. Horas antes Marko teve sua continuidade na equipe confirmada, com consequências ainda imprevisíveis, após Helmut ter sido acusado de ser o mentor dos vazamentos do julgamento de Horner na semana passada. Embaixo do pódio, Horner comemorava ao lado de Newey, enquanto Marko estava no meio… da equipe Ferrari. Ainda haverá muitos desdobramentos nessa confusão que se tornou os bastidores da Red Bull, mas enquanto isso o desempenho da equipe na pista permanece blindado e extremamente superior aos demais.
Abraços!
João Carlos Viana
4 Comments
Grande Fernando!
A diferença fundamental da confusão nos bastidores da Red Bull e a briga na McLaren em 1988/89 foi que a disputa era mais na pista, onde todos podiam ver, enquanto atualmente a guerra é estritamente interna.
Sobre a MotoGP, as corridas não chegam a ser ruins, mas há, sim, domínio.
J.C. Viana ,
Concordo que houve disputas na pista tbm mas a mídia em geral destacava mais os embates de Senna x Prost nos boxes. Foi nesse sentido. As corridas em si por muitas vezes ficavam em segundo plano.
Fernando Marques
J. C. Vianna,
relato mais uma vez perfeito do que foi mais uma corrida de Formula Verstappen/RBR … hehehehehe
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Fico chateado, não com vc e muito menos pela sua bela coluna, por causa desta crise interna na RBR … me faz lembrar 1989/90 quando Senna e Prost brigavam mais dentro dos boxes do que dentro das pistas … acho lamentável … ainda mais com a Formula 1 nas pistas promovendo corridas com dinâmicas chatas … excessão para o Verstappen que vem fazendo a sua parte com louvor … o resto são puros figurantes …
Sua coluna me chamou também a atenção sobre a situação do Felipe Drugovich e que vale também para o Pietro Fittipaldi … será que vale a pena ser piloto reserva na Formula 1 e nunca poder correr? … Falo no sentido esportivo … financeiramente até deve valer a pena …
A midia enche a bola do Oliver Bearman, sem duvidas fez uma bela estreia na Formula 1 e ninguém fala do desempenho do Enzo Fittipaldi que venceu a corrida 2 em Jedá, ultrapassando o primeiro e segundo lugares na corrida numa só tacada … e que de quebra fazendo uma bela homenagem ao tio Wilsinho Fittipaldi … acho que este feito merecia maior destaque …
Se a Moto GP não abrir os olhos, Bagnaia/Ducaatti pode fazer das corridas também chatas … né?
Fernando Marques
Niterói RJ
Fernando, seu comentário sobre os pilotos reservas/”pilotos de testes” me lembrou de um comentário que fiz em uma live do Rodrigo Mattar.
Me parece que as Acadêmias das equipes estão “matando” os pilotos reservas. Quando não estão ligados a Academia, parecem não ter futuro algum nas equipes, e são preteridos aos pilotos com apoio.
Eu penso que seria muito mais interessante usarem o tempo das sprints (detesto) para testes, poderiam limitar o uso em testes só aos pilotos reservas/testes.