AS CORRIDAS E A VIDA

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Você sabe por que gostamos tanto do automobilismo?

Porque ele é uma redução das nossas vidas. Ele reproduz em miniatura todas as nossas emoções, desafios, dores, paixões, ódios, aventuras, sortes, azares, justiças e injustiças. Tudo o que vivemos está lá, em cores fortes, ao vivo, numa arena fechada, uma vida completa num curto intervalo de tempo.

E quem disse que a vida é justa e lógica? Que somos recompensados sempre que fazemos o melhor?

Quantas vezes você foi sacaneado na semama passada? Quantas vezes você fez o melhor, se superou, foi mais inventivo, mais rápido mas não conseguiu o que queria porque um fdp furou a fila na sua frente e se apropriou daquilo que, com todo direito, lhe pertencia?

Não estou falando só do governo – que nos sacaneia 24 horas por dia – e do patrão. Estou falando também do vizinho, do amigo, do cara que nem te conhece mas que te passa a perna na primeira oportunidade simplesmente porque isso é uma coisa da vida. Acontece o tempo inteiro. Em muitos casos, nós nem damos mais bola porque foi assim, é assim, será assim. Aliás, quantas vezes não somos nós a passar a perna.

Pense nisso e agora pense no GP da Áustria.

Rubinho sobrou em cima do alemão. Eles podiam correr até amanhã e Rubinho continuaria na frente. Schumacher podia ter pedido o carro de Rubinho para correr – acordei certo de que ele faria isso – e ainda assim o nosso garoto andaria na frente.

Era o dia dele.

Dia não – final de semana inteiro. Rubinho andou na frente de Schumacher e do resto do grid na sexta, sábado, warm-up e corrida. Acho que só não fez a volta mais rápida porque não achou necessário arriscar.

Ainda assim não ganhou. A despeito de ter sido o melhor do final de semana, a equipe mandou ele ceder o lugar a Schumacher, que não merecia nem em 3o lugar na corrida e que, com a sorte dos campeões, estava em 2o no final da corrida.

Com isso, Schumacher passou de seis para dez pontos. Quatro pontos, meu amigo, são muita coisa nesta altura do campeonato e, por mais antipática que seja a atitude da Ferrari, ela agiu na defesa do seu interesse maior, que é garantir o penta para Schumacher o mais cedo possível, enquanto tem a supremacia absoluta nas pistas e a Williams mostra-se absolutamente impotente para reagir.

A vida é dura. Dura para mim, para você, para todos os leitores e também para Rubinho. É dura também para Schumacher que teve de ouvir a fantástica e maravilhosa vaia do autódromo inteiro e, desconfio, do resto do mundo e fazer aquele papel esquisito, para dizer o mínimo, no pódium ao deixar Rubinho receber o prêmio como se ele tivesse vencido a corrida. (Sim: a vida tem suas injustiça mas também tem as suas recompensas. Por lógica e justificada que tenha sido a decisão da Ferrari em mandar Rubinho tirar o pé, a vaia das milhares de pessoas no autódromo reconduziu as coisas, um pouco que seja, ao seu eixo normal.)

De fato, Rubinho venceu, com todos os méritos o GP da Áustria de 2002 mas, como na vida, não levou. Uma injustiça flagrante, dolorosa, profunda, dura de esquecer – como tantas que ele próprio, eu, você e todos os leitores já experimentaram na vida e vamos experimentar de novo amanhã, terça, quarta…

Eduardo Correa

Eduardo Correa
Eduardo Correa
Jornalista, autor do livro "Fórmula 1, Pela Glória e Pela Pátria", acompanha a categoria desde 1968

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