AS EQUIPES EM 2005

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16/07/2004
MEUS HERÓIS DO PASSADO
21/07/2004

A Fórmula 1 está fazendo por merecer toda a ira destilada quarta-feira passada aqui neste espaço pelo Ico. Só lamento que manifestações como esta tenha sido raras no Brasil.

Aguardo pela chegada das revistas européias apenas para constatar o óbvio. Exceção feita à italiana Autosprint, imagino que as demais publicações reservaram não mais que um ou dois parágrafos irônicos para a palhaçada no treino de sábado na Inglaterra, quando se disputou quem faria a volta mais lenta.

É que a imprensa especializada européia, principalmente a inglesa, se borra de medo de criticar os dirigentes esportivos. E talvez esta seja uma boa explicação para o estado das coisas na Fórmula 1.

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A definição das equipes para 2005 começará no momento em que se resolver o impasse entre Frank Williams e Flavio Briatore. Um tem as vagas mais cobiçadas do momento; o outro é empresário de Mark Webber e Jarno Trulli, pilotos que interessam à Williams. Vamos tentar, a seguir, traçar os caminhos que levaram ao impasse.

O que Frank quer? Antes de tudo, dois pilotos baratos e rápidos. Ele pode escolher entre Webber, Trulli, Jacques Villeneuve, Mika Hakkinen, Giancarlo Fisichella, Antonio Pizzonia ou qualquer outro piloto jovem. Acho que se dependesse apenas da vontade de Frank, ele teria certamente Webber e provavelmente Villeneuve.

O problema é que os dois, assim como Hakkinen (considerando que ele esteja emboa forma) e Trulli, não parecem dispostos a se vender barato.

Do outro lado da mesa está Flavio Briatore, a síntese do que a Fórmula 1 atual tem de pior.

Ambicioso, sem princípios e compromissos com a tradição da Fórmula 1, para Flavio vale tudo. Para ele, é melhor vender Trulli agora e guardar Webber para mais tarde. Afinal, o italiano é um produto maduro, no auge das suas possibilidades, depois da vitória em Mônaco e algumas boas corridas nesta temporada. Mas Flavio sabe e Trulli também que a hora está passando. Ou faturam agora ou nunca mais. Assim Flavio infla o preço de Webber para vender Trulli. Se tudo der certo, ele se livra de um abacaxi e fica com dois filés: Alonso, que está guardando para vender para a Ferrari, e Webber, que ele pode guardar na Renault.

O impasse é este. Quem vai piscar primeiro?

Mas aqui vai um aviso ao Flavio: ninguém, mas ninguém mesmo na Fórmula 1 é mais cabeça dura do que Frank Williams. Ele já jogou Honda e Nigel Mansell para o alto. Amolem muito a paciência dele e Frank fecha com Fisichella e Pizzonia.

Eles podem não ser os mais rápidos do mercado mas certamente são baratos.

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Mas os cenários para a formação das equipes para 2005 são mais complicados do que isso. Flavio pode dar uma tremenda sorte e vender Webber para a Williams e Trulli para a Toyota, abrindo uma vaga altamente cobiçada na Renault. Neste caso, Fisichella, aos 32 anos, pode ter a sua grande chance.

Aí, é bem provável que Massa seja mantido na Sauber tendo como companheiro de equipe David Coulthard. A abundância de vagas deve render oportunidades também para Sebastian Bourdais, Antony Davidson (o piloto de testes da Bar) e Ricardo Zonta. Mas, salvo grandes surpresas, eles terão de se contentar com equipes fracas, como a Jaguar.

E Cristiano Da Matta? Terá mesmo de voltar a perambular pelos desertos dos Estados Unidos? Creio que, nesta altura, a única esperança que resta ao simpático brasileiro é fazer algumas corridas inesquecíveis (como a que fez na Inglaterra no ano passado) e reconquistar a atenção da Toyota.

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O salto de qualidade da McLaren é mesmo uma boa notícia para a equipe?

Acompanhem o raciocínio atilado de um jornalista inglês chamado Matt Bishop: a cada vitória fácil, Michael Schumacher talvez se sinta mais tentado a antecipar a sua aposentadoria, prevista para o fim de 2006.

Ou, vista por outro ângulo: se a oposição à Ferrari melhorar, Schumacher pode se sentir impelido a continuar, sua motivação já colossal reforçada pela presença na pista de um ou mais rivais à altura.

Assim, talvez fosse melhor para a McLaren, como parece acontecer com a Williams, guardar as suas armas – se é que as têm – para 2005, quando Schumacher sete vezes campeão, com, quem sabe, 85 vitórias no bolso mais o recorde de poles mais uma fortuna que deve passar dos US$ 200 milhões, possa achar que já teve o bastante e vá curtir os filhos e a cachorrada que tem em casa.

Mas acho que Ron Dennis não pensa assim. Graças a Deus ele não é como Flavio Briatore.

Boa semana a todos

Eduardo Correa
Eduardo Correa
Eduardo Correa
Jornalista, autor do livro "Fórmula 1, Pela Glória e Pela Pátria", acompanha a categoria desde 1968

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