No dia 4 de novembro de 1990 Adelaide receberia uma das corridas mais badaladas daqueles tempos: a corrida de número 500 da F1. Com o campeonato já decidido de forma polêmica poucas semanas antes, todos os pilotos com chances de vitória fizeram um algo a mais para vencer a corrida que entraria para a história. O campeão Ayrton Senna era o natural favorito a ter essa honra, mas acabou batendo quando liderava. Nelson Piquet levou sua Benetton até o final sem paradas e com o abandono de Senna, assumiu a liderança da prova. Nigel Mansell tinha brigado com Senna pela ponta, mas acabou rodando ainda no começo da prova. O inglês da Ferrari resolveu parar nos boxes e com pneus novos, Mansell imprimiu um ritmo alucinante até encostar em Piquet nas últimas voltas. Num final de prova eletrizante, Piquet conseguiu segurar o ímpeto de Mansell numa manobra genial pela simplicidade. O tricampeão Nelson Piquet teve a honra de vencer a corrida de número 500.
As corridas centenárias da F1 normalmente não chamam muita atenção das pessoas, com exceção da corrida na Austrália de quase 29 anos atrás e a do próximo final de semana. As equipes e pilotos estarão com pinturas comemorativas da efeméride. Não restam dúvidas que os pilotos de ponta farão de tudo para ter seu nome marcado na história.
Muita gente está torcendo o nariz por a emblemática corrida de número 1000 ser realizada na China. A Liberty ainda tentou uma mudança de calendário e a prova fosse em Silverstone, palco da corrida número um da F1, mas as sempre complicadas negociações com os ingleses, somada ao clima não muito favorável nessa época do ano, fez com que a F1 seguisse o fluxo normal do calendário dos últimos anos e prova seja em Xangai. Porém, já houve palcos centenários piores. A corrida de número 900 foi no Bahrein, enquanto a número 800 foi em Cingapura/2008. Isso mesmo! A tristemente lembrada corrida em que Nelsinho Piquet bateu de propósito para dar a vitória para Fernando Alonso foi uma corrida centenária! A corrida de número 700 demorou duas semanas para definir o seu vencedor. No caos que foi a corrida em Interlagos/2003, Giancarlo Fisichella só recebeu seu troféu em Ímola.
Houve alguns dramas, como a corrida de número 400, quando Niki Lauda chegou a levantar seu braço com problemas mecânicos em seu McLaren, mas resolveu ficar na pista com o câmbio travado para vencer na frente de sua torcida em Zeltweg/1984. Jacques Villeneuve estava com muita febre quando largou para a corrida de número 600 em Buenos Aires e sem estar nas suas melhores condições físicas, sofreu uma enorme pressão da Ferrari de Eddie Irvine nas voltas finais até receber a bandeirada na frente. Patrick Depailler tinha tudo para conseguir sua primeira vitória na F1 em Kyalami, mas o francês teve que diminuir o ritmo do seu Tyrrell para não ficar parado sem combustível e isso permitiu a aproximação de Ronnie Peterson. Na abertura da última volta o sueco encostou em Depailler e contou com a ‘ajuda’ do retardatário Hector Rebaque para assumir a ponta da corrida na última volta e vencer a corrida 300. Houve também corridas dominantes, como a prova 200 com Jackie Stewart em Mônaco/1971 e boas surpresas, quando Stirling Moss conseguiu sua última vitória na F1 ao bater as favoritas Ferraris em Nürburgring/1961 na corrida de número 100.
Não faltarão candidatos a vencer a corrida de número 1000, mas se o vencedor de domingo não for um piloto de Ferrari ou Mercedes, a surpresa será enorme. Depois de um início de campeonato abaixo das expectativas em Melbourne, a Ferrari mostrou sua força no primeiro circuito convencional do ano, no deserto do Bahrein. Porém, como vem acontecendo nos últimos tempos, a Ferrari acabou tropeçando sozinha e a vitória, com direito a dobradinha, acabou nas mãos da Mercedes. A força do motor Ferrari já começa a chamar atenção e se fala que somente pela potência, a Ferrari tem uma vantagem de quatro décimos sobre as demais. Lembrando que Xangai teve como projetista o mesmo cidadão (o nosso ‘querido’ Tilke) que desenhou Sakhir, no Bahrein e por isso, ambos os circuitos tem características similares. As enormes retas chinesas poderão fazer diferença para os italianos e talvez a justiça seja feita para Charles Leclerc, o vencedor moral da corrida barenita. Vettel, mesmo tetracampeão do mundo, precisa se afirmar. Depois de continuar levando uma sova do esperado duelo com Lewis Hamilton, o alemão ainda foi superado sem maiores cerimônias por seu jovem companheiro de equipe, colocando a sua posição dentro da Ferrari em cheque. Outra derrota contundente para Leclerc poderá ser fatal para a confiança de Vettel.
Quem se aproveita dessa hesitação dentro do seio da Ferrari é a Mercedes. Com duas dobradinhas e 98,8% de aproveitamento até agora, a Mercedes vai liderando ambos os campeonatos com tranquilidade. Enquanto Hamilton continua em sua fase iluminada, Bottas é outro que precisa mostrar que sua impressionante vitória na Austrália foi uma regra, não uma exceção. Falando em pilotos que precisam se provar, um dos mais óbvios é Pierre Gasly. O jovem francês vem tendo um início de campeonato tenebroso com a Red Bull e com a conhecida pouca paciência dos dirigentes rubro taurinos, Gasly precisa mostrar resultado logo, mas Pierre não terá uma pista das mais favoráveis ao motor Honda, que mesmo dando um grande salto, ainda não está numa posição de dar uma vitória para Max Verstappen, que no momento é o único que pode dar uma vitória para a Red Bull.
No pelotão intermediário, a briga promete ser uma batalha de foice no escuro. Em Melbourne a Haas deu a sensação de ser a mais cotada para ser a quarta força, mas no Bahrein, a McLaren mostrou um ritmo muito bom com Lando Norris se recuperando até o sexto lugar, enquanto Carlos Sainz chegou a brigar com Max Verstappen nas primeiras voltas da corrida no Bahrein. A Renault mostrou um bom ritmo de corrida, mas sua parca confiabilidade fez com que víssemos um triste abandono duplo dos seus pilotos com diferença de poucos metros em Sakhir. Quem será o melhor do resto neste final de semana? Com certeza não será a Williams. Os ingleses sofrem com uma gestão falha e nem o talento de Russell e Kubica poderá tirar a Williams das últimas posições.
Mesmo sendo um circuito da era da entrada dos ‘novos-ricos’ do oriente na F1, Xangai já irá completar quinze anos na F1, quando Rubens Barrichello venceu pela primeira na China em 2004. Mesmo não sendo uma corrida popular, a China tem uma importância estratégica tão grande no mercado que ninguém sequer sonha em tirar a corrida chinesa do calendário, mesmo com suas arquibancadas vazias. Um fato marcante deste Grande Prêmio é que o clima sempre influenciou durante o final de semana e a previsão para esse domingo é de chuva.
Com tantos ingredientes, uma pista que permite ultrapassagens e pilotos motivados a colocar seus nomes na história, tomara que a milésima corrida da F1 seja marcante também pelos melhores motivos!
Abraços!
João Carlos Viana
2 Comments
JC,
Espero que a corrida 1000 da Formula 1 seja tão boa quanto foi a de numero 500.
Assim como Mauro, estou na torcida pelo garoto prodígio da Ferrari.
Saindo um pouco da corrida na China em si, seria interessante que a turma do GEPETO elegesse quais foram as corridas mais marcantes nestes 1000 GP’s disputados.
Na minha lista, certamente não faltaria o GP de Monza de 1971, certamente o final mais eletrizante já visto na Formula 1, a vitoria do Pace no GP do Brasil de 1975, GP dos EUAs em 1974 (bi do Emerson e podio doPace em segundo no dia de seu aniversário, e meu tb, por isso não esqueço), GP da Australia de 1986 (bi do Prost), GP da Europa em 1993 (a primeira volta mais fantastica já vista na Formula1), GP do Brasil em 1986 (dobradinha Piquet/Senna), GP do japão de 1990 (dobradinha Piquet/Moreno e bi do Senna), GP da Hungria 86 (dobradinha Piquet/Senna e a ultrapassagem mais fantastica já vista)
e da galera do GEPETO quais seriam?
Fernando Marques
Niterói RJ
Grande Texto, JC!
Vamos ver o que a corrida #1000 nos reserva, e estou torcendo pela vitória do garoto prodígio da Ferrari.
Abraço!
Mauro Santana
Curitiba-PR