Ascari e Bandini

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Panda

Maio, plena primavera européia, não é um mês agradável para os automobilistas. Senna não foi único a cair neste mês. Alberto Ascari, Lourenzo Bandini e Gilles Villeneuve também encontraram o seu destino nas pistas ao longo de maio, os três ao volante de um Ferrari.

Nas linhas a seguir, queria lembrar um pouco a carreira de Ascari e Bandini, uma vez que Senna e Gilles foram retratados recentemente por nós em especiais aqui no GPTotal. Lembro ainda aos leitores interessados em lembrar Senna, os artigos que nossos parceiros do www.grandepremio.com.br vêm publicando, em especial as tocantes lembranças de Flávio Gomes sobre os dias anteriores à morte do brasileiro em Imola.

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Alberto Ascari foi o único piloto a discutir com Fangio o título de melhor piloto do mundo no começo dos anos 60. Bicampeão em 52 e 53, Ascari detém ainda hoje o recorde de maior número de vitórias seguidas na Fórmula 1: nove, começando no GP da Bélgica de 52 e terminando no mesmo GP do ano seguinte. Mais: considerando sua primeira vitória, no GP da Alemanha de 51, até sua última vitória, no GP da Suíça de 53, foram 17 corridas e treze vitórias, todas elas ao volante de um Ferrari.

É verdade que Ascari beneficiou-se em 52 da ausência nas pistas de Fangio, ferido num acidente em Monza no final de 51 e que lhe custou um ano de convalescência. Beneficiou-se também de mudanças de regulamento que, em 52, deixaram a equipe Ferrari quase sozinha na Fórmula 1. Mas em 53, Fangio estava de volta e não foi páreo para o italiano um tanto gordinho e atarracado. Hoje, sem dúvida não conseguiria entrar num Fórmula 1.

Cansado dos humores de Enzo Ferrari, Ascari mudou-se em 54 para a recém-lançada equipe Lancia.

Mas o carro tardou a ficar pronto, a empresa começou a acusar graves problemas financeiros e Ascari fez apenas uma corrida pela equipe durante o ano, correndo em outras três provas como Maserati e Ferrari pouco competitivos. No final da temporada de 54, ele contava apenas um ponto.

Ascari insiste em permanecer na Lancia em 55. Na segunda corrida do ano, o GP de Mônaco, ele mergulha na baia durante a corrida, depois de perder o controle do seu carro. Ascari é rapidamente resgatado com ferimentos leves.

Vinte e três dias mais tarde, Ascari está em Monza assistindo aos teste que o seu amigo Eugenio Castellotti fazia com um Ferrari esporte. Num intervalo dos testes, intempestivamente, Ascari senta-se ao volante do carro e arranca para algumas voltas. Ninguém tem coragem de detê-lo e momentos depois ouve-se um grande barulho nos fundos dos boxes, na saída da curva hoje chamada Variante Ascari.

Ninguém viu o acidente, ninguém sabe o que aconteceu. Aventou-se inclusive a hipótese de que um operário que trabalhava na construção das curvas inclinadas ter atravessada a pista, atrapalhando o piloto. O Ferrari capota e lança Ascari sobre a pista. Ele morreu na hora. Trinta anos antes, o pai de Alberto, Antonio Ascari também havia perecido ao volante de um carro de corrida, no circuito francês de Montlhéry.

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Ninguém alinhará o nome de Lorenzo Bandini entro os grandes da Fórmula 1 mas isso não reduz o carinho que os itaianos nutrem por ele. A família de Bandini passou por sérias dificuldades financeiras no período pós-guerra e ele só conseguiu se tornar piloto graças ao apoio do futuro sogro. Bandini caiu nas graças de Enzo Ferrari e sempre foi apoiado pela equipe. Devolveu a confiança vencendo em Le Mans, Daytona, Targa Florio e Monza em corridas de sport-protótipos, além do GP da Áustria de 64.

Ele estreou na Fórmula 1 em 61, disputou 42 GP, 35 deles com Ferrari. 64 foi sua primeira temporada plena com a equipe italiana, tendo revelado-se um companheiro de equipe totalmente subserviente ao primeiro piloto da equipe, John Surtees.

Bandini desempenhou um papel importante no títutlo conquistado pelo inglês naquele ano, tendo jogado o seu carro sobre o de Graham Hill na corrida decisiva, no México. A batida entre ambos foi leve mas acabou com as chances de Hill lutar pelo título. Uma reviravolta na última volta da prova tornou possível a vitória de Surtees, desde que ele ultrapassasse Bandini. Avisado pelos boxes, este praticamente parou o seu carro e esperou pacientemente por Surtees.

Bandini pouco fez nas duas temporadas seguintes, em que os Ferrari nunca foram competitivos. Em 67, ele começou o ano como primeiro piloto da equipe. A pressão pesa sobre seus ombros. Na segunda corrida do campeonato, o GP de Mônaco, praticamente no mesmo lugar em que Ascari vôo para fora da pista, Bandini bate o seu Ferrari, que explode em chamas. Os bombeiros, armados com pequenos extintores, pouco podem fazer senão esperar o fogo baixar. Bandini, muito queimado, falece três dias mais tarde.

Muitos acreditam que Bandini tenha sucumbido à exaustão de conduzir um Ferrari por cem voltas pelo circuito de Mônaco num dia de forte calor. Naturalmente seu carro não tinha nada remotamente parecido com câmbio automático, direção assistida, além de correr com 250 litros ou mais de combustível ante pouco mais de cem dos carros atuais.

É isso.

Eduardo Correa

Eduardo Correa
Eduardo Correa
Jornalista, autor do livro "Fórmula 1, Pela Glória e Pela Pátria", acompanha a categoria desde 1968

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