Com cinco vitórias no Grande Prêmio da Inglaterra até essa temporada, todas elas em Silverstone, Lewis Hamilton tentará deixar a primeira derrota da Mercedes para trás na sua casa, onde sempre anda muito bem e tentará se tornar o maior vencedor na Grã-Bretanha de forma isolada.
Para isso, Hamilton espera que as atípicas condições de Zeltweg não se repitam justamente na sua corrida caseira e onde já declarou amor eterno algumas vezes.
Silverstone foi palco de onde tudo começou. Quase setenta anos atrás Giuseppe Farina venceu a primeira corrida de F1 e desde então a categoria e o mundo bastante, o mesmo acontecendo com Silverstone. O velho aeródromo inglês usado na Segunda Guerra Mundial era um circuito de altíssima velocidade e de traçado relativamente simples, mas nem por isso menos charmoso e desafiante para pilotos e máquinas. Com a velocidade crescendo na medida em que a importante preocupação com a segurança também aumentava, Silverstone foi recebendo suas primeiras modificações. As primeiras chicanes surgiram na década de 1970 e em 1991 houve a primeira grande reforma no traçado, mas ainda mantendo Silverstone como um circuito de alta.
Em 2010 foi realizada uma nova reforma, onde um paddock inteiramente novo foi construído, além de novos boxes e o local da largada sendo mudado de lugar. A F1 estava bem mais segura, mas as mudanças em Silverstone tinham um novo significado. Tudo isso foi feito para tentar afastar um velho fantasma que assombrava a ‘Casa do Automobilismo Inglês’ nos últimos anos: a saída do calendário da F1. Mesmo com a saída de Bernie Ecclestone, um crítico ácido de Silverstone, da liderança da F1, a pista inglesa ainda estava ameaçada de sair do rico e exclusivo calendário da F1. Mesmo muito diferente do circuito original, Silverstone ainda é um marco dentro do automobilismo, com várias equipes tendo suas sedes próximas do circuito. Essa semana a Liberty Media anunciou a renovação por cinco anos de Silverstone, deixando um grande alívio para boa parte dos fãs da F1. O berço da F1 está à salvo no calendário, pelo menos até 2023.
Mesmo com a derrota em condições totalmente atípicas vistas nessa temporada, a Mercedes ainda nada de braçada no campeonato e é favoritaça para vencer em Silverstone. Lewis Hamilton encarna um pouco o espírito de Nigel Mansell na década de 1980 e sempre andou muito forte no circuito de sua casa. O público inglês lota as arquibancadas, com mais de 100.000 pessoas só no dia da corrida, torcendo por uma vitória de Lewis. Apesar de vir de uma corrida extremamente opaca na Áustria, Hamilton tentará de tudo para voltar aos braços da sua torcida. No outro lado dos boxes da Mercedes, Valtteri Bottas começa a ser novamente pressionado. Depois do seu início de campeonato arrasador e surpreendente, o finlandês voltou a mostrar corridas pálidas nos últimos tempos e, como por encanto, Esteban Ocon voltou às telas da transmissão da TV, além de George Russell já ter declarado que está pronto para assumir o carro da Mercedes se requisitado for. Não faltam candidatos a assumir o volante de uma Mercedes em 2020 e Bottas precisa de mais para ser ele o felizardo.
Max Verstappen conseguiu uma das melhores atuações individuais na F1 no século 21 na quinzena anterior, mesmo com vários fatores contra si. O motor Honda ainda não está no nível de Mercedes e Ferrari e num circuito de muitas retas, a desvantagem de Max era esperada. Para piorar, uma largada tenebrosa motivou Verstappen a realizar uma corrida maravilhosa e histórica, garantindo a primeira vitória da Honda na Era híbrida, além de garantir que Max Verstappen é, sim, uma das maiores estrelas da F1 atual. Pierre Gasly cruzou a primeira volta na Áustria colado em seu companheiro de equipe e terminou a prova uma volta atrás de Verstappen. A paciência da Red Bull já está no limite, mas o antes pungente programa de jovens pilotos da companhia está seco e mesmo com Gasly fazendo uma temporada muito ruim, a Red Bull simplesmente não tem quem colocar no lugar do infeliz francês. Recorrer a Albon pode ocasionar o mesmo erro de Gasly, quando o francês subiu à Red Bull cedo demais. Kvyat já mostrou que está fazendo hora extra dobrada na F1. Quem poderia ajudar Helmut Marko seus blue caps?
Pois Fernando Alonso teria se oferecido à Red Bull para substituir Gasly na equipe. Uma dupla com o impetuoso Verstappen junto ao veterano Alonso é tentador demais para ser verdade, mas a Red Bull sabe também que Alonso traz muita velocidade e confusão para uma equipe. Sem contar que a Honda, agora com uma vitória na mão, não deve ter esquecido o ‘GP2 Engine’ em plena Suzuka. Aproveitando-se que a F1 está na Inglaterra, a Red Bull imitou a mítica cantora inglesa Amy Winehouse para a proposta de Alonso e disse: no, no, no!
Um exemplo claro do clima ruim que Alonso pode trazer a uma equipe é o crescimento da McLaren. O time inglês deu um salto de qualidade da última temporada para cá após a saída de Alonso, com a jovem dupla Carlos Sainz e Lando Norris mostrando um ótimo ritmo na animada briga para ser o melhor do pelotão intermediário. Quando o fantasma Alonso já pairava em cima dos boxes da McLaren, o time anunciou que Sainz e Norris tiveram seus contratos renovados para 2020. Alonso definitivamente fechou muitas portas na F1. Outra equipe que trancou-se para o espanhol foi a Ferrari, mesmo Fernando nem ter pensado em voltar para a escuderia de Maranello. Por enquanto. Mesmo tendo enfrentado a Mercedes em duas das últimas três corridas do calendário, a Ferrari continua zerada em 2019. Novamente Leclerc perdeu uma corrida ganha no final e esse pequeno tabu que já se forma para o jovem monegasco poderá incomodar se a primeira vitória não vier logo. Binotto já avisou que a Ferrari não estará tão forte como na Áustria, mas ao menos Vettel deu indícios que permanecerá na F1 pelo menos até o final de 2020.
Com a McLaren se destacando cada vez mais no pelotão intermediário, a situação da Renault vai ficando cada vez mais feia em 2019, ao ver sua equipe cliente mostrar um carro superior ao seu com o mesmo motor. A Alfa Romeo vinha de maus resultados, mas Kimi Raikkonen usou sua experiência para se manter a corrida inteira na Áustria na zona de pontuação, enquanto Giovinazzi marcava seu primeiro ponto na carreira e o primeiro da Itália em sete anos. Se não bastassem os problemas que a Haas tem que enfrentar dentro da pista, com um ritmo de corrida muito abaixo do que na classificação, a equipe americana teve que administrar uma pequena crise com sua patrocinadora-máster essa semana, a estranha Rich Energy. Com o maior jeitão de fraude à Leyton House, a Rich permanece com a Haas, até aparecer outro desmentido. Quando anunciou que estava quebrando o contrato de forma unilateral com a Haas, a Rich usou como referência a gloriosa Williams, afirmando que era inaceitável ficar atrás do time de Frank Williams, que nesse final de semana completa cinquenta anos de F1. Com tantas glórias para mostrar, ser uma referência negativa não é digno para a equipe de um homem com a história de Frank Williams. Sua filha Claire deveria pedir desculpas antes de homenagear Frank nesse final de semana…
Mesmo estando no verão europeu, Silverstone raramente vê corridas com o calor quixadaense que foi visto na Áustria, onde a Mercedes teve dificuldades com refrigeração e Max Verstappen aproveitou-se de forma magistral. Por sinal, apesar de ainda ser um circuito de alta e manter curvas interessantes como o complexo Maggots-Becketts-Chapel, Silverstone não é um circuito favorável a corridas emocionantes, ainda mais que a fórmula de asas mais simples desse ano não ter ajudado os pilotos a seguirem os carros da frente mais de perto. Mesmo não sendo o velho Silverstone, as arquibancadas estarão lotadas e Lewis Hamilton fará de tudo para vencer no berço da F1.
Abraços!
João Carlos Viana